HOMICÍDIO NO AEROPORTO DE LISBOA
Agressores do SEF em pacto de silêncio
INTERROGADOS — Souberam em tribunal quais as provas recolhidas pela Polícia Judiciária mas recusaram explicar o que aconteceu AUTÓPSIA — Relatório médico desmente versão inicial
TÂNIA LARANJO
Entraram mudos e saíram calados. Os três inspetores do SEF, indiciados por homicídio qualificado de um ucraniano nas instalações do aeroporto de Lisboa, não responderam a qualquer pergunta do juiz. Ouviram as acusações que existem contra eles e souberam quais as provas já recolhidas pela investigação. Responderam sobre a identidade e os antecedentes e nada mais disseram aos magistrados.
Os três suspeitos, presos pelos inspetores da Brigada de Homicídios da PJ, sabem que foram ‘apanhados’ pela videovigilân
cia a entrarem com o cidadão ucraniano, 40 anos, numa sala de detenção. Mas sabem também que naquele espaço não havia qualquer câmara e para já mantêm atese que escreveram num primeiro relatório: o homem sofria de epilepsia e foi por isso que morreu. Teria, ele próprio, batido com a cabeça na parede. Repetidas vezes.
Mesmo assim, o tribunal diz que os indícios do homicídio são fortes. A autópsia desmente a tese dos inspetores – o cidadão ucraniano tinha várias costelas partidas e morreu por asfixia. E o despacho das medidas de coação assinado pelo juiz de instrução realça mesmo que só a crise pandémica leva a que não lhes seja aplicada a prisão preventiva. Foram para prisão domiciliária, mas ao contrário do que seria normal – terem de esperar pela aplicação da pulseira eletrónica – regressaram às residências pelo próprio pé. Vão agora aguardar pelas medidas da Reinserção Social para que sejam aplicados os meios de controlo à distância.
PORMENORES
Epilepsia
Os três inspetores do SEF escreveram no relatório que o ucraniano teve um ataque de epilepsia logo à chegada a Lisboa, a 10 de março.
Dizem ter sido ajudados por outro inspetor do SEF.
Embaixada
A embaixada da Ucrânia em Portugal escreveu ao governo a acusar o SEF de violação dos direitos humanos e abuso de autoridade. Diz que o SEF não comunicou a causa e circunstância da morte.
PSD questiona
O PSD pediu esclarecimentos ao Governo sobre a morte. Quer saber “que instruções ou ordens especificas têm sido dadas ao SEF no que respeita ao procedimento de barramento” de ilegais.