Ferro tenta travar proposta do Chega
Ana Teresa Banha
Castração química para pedófilos continua a gerar polémica e não é certo que a proposta seja discutida no plenário, apesar de estar agendada.
O projeto de lei do Chega sobre a castração química para pedófilos está já agendado para ser debatido no dia 28, na Assembleia da República, mas ainda não é certo que esta discussão vá mesmo acontecer. Desde o início que a proposta de André Ventura, uma das bandeiras da campanha eleitoral, gerou polémica e Ferro Rodrigues pediu, esta semana, à Comissão de Assuntos Constitucionais um esclarecimento definitivo acerca da possível inconstitucionalidade do projeto.
Na carta, enviada esta quinta-feira a Luís Marques Guedes, presidente da comissão, Ferro Rodrigues pede esclarecimentos «urgentes» sobre se o diploma respeita a Constituição.
A resposta só deverá surgir a meio da semana. Segundo fonte da Assembleia da República, «não há qualquer informação» sobre se a discussão se mantém. A mesma fonte explicou ao SOL que os esclarecimentos pedidos por Ferro Rodrigues «são distribuídos na próxima terça-feira aos deputados para serem apreciados na quarta-feira na reunião da l.ª Comissão».
O Conselho Superior da Magistratura (CSM) já tinha alertado, num parecer enviado ao Parlamento, que a proposta é inconstitucional. O CSM explica que o projeto de lei entra em choque com o artigo 1.° da Constituição, que garante a «dignidade da pessoa humana», posta em causa pelo «tratamento desumano e cruel» da castração química. O coletivo de juizes considerou ainda que o diploma não define o começo e fim do tratamento e, por isso, pode durar «toda a vida», violando o artigo da Constituição que impede as penas perpétuas.
Ainda antes do pedido do presidente do Parlamento, André Ventura garantiu que se o diploma não fosse discutido em plenário iria pedir uma «reunião de emergência» a Ferro Rodrigues. Esta reação aconteceu na quarta-feira, após a conferência de líderes ter decidido pedir uma clarificação do parecer da Comissão de Assuntos Constitucionais, que não concluiu pela inconstitucionalidade do diploma.
“Nas tintas para a Constituição’
Depois de todos os partidos representados na conferência de líderes terem defendido a inconstitucionalidade da proposta, o líder do Chega acusou-os de «conluio antidemocrático», uma vez que a decisão foi tomada numa reunião para a qual o Chega não foi convocado.
«Os maiores partidos uniram-se para que não chegue ao plenário e não tenham que explicar aos portugueses a sua posição. Vergonha!», escreveu, nas sociais.
Entretanto, as declarações de André Ventura no Parlamento voltararam esta semana a gerar polémica. «Estou-me nas tintas para o que diga a Constituição», disse, no debate sobre a regionalização, numa referência ao facto de a Lei Fundamental prever a criação de regiões. O deputado bloquista João Vasconcelos respondeu que era devido «à Constituição da República, ao 25 de Abril e à democracia» que Ventura estava no Parlamento. Também Ana Catarina Mendes defendeu que «ouvir um deputado dizer que se está a marimbar para a Constituição é um insulto intolerável».