CASO TANCOS
“Não poderia ter referido uma situação que desconhecia”, diz Azeredo Lopes
Sobre o “eu sabia” em SMS enviada a deputado do PS, o ex-governante diz ao JE que nunca foi informado sobre o encobrimento na recuperação das armas roubadas dos paióis de Tancos. • P3
CASO TANCOS
“Não poderia ter referido uma situação que desconhecia”, diz Azeredo Lopes
Sobre o “eu sabia” em SMS enviada a deputado do PS, ex-governante reitera que nunca foi informado de encobrimento na recuperação de armas.
O ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes refuta uma das principais provas usadas contra si: uma troca de mensagens alegadamente comprometedora com o deputado Tiago Barbosa Ribeiro (PS), tendo o Ministério Público (MP) e a PJ encarado as afirmações escritas pelo ex-govemante como uma confissão em SMS de que estaria a par de todas as movimentações ilícitas da Polícia Judiciária Militar (PJM).
“Eu sabia” é a expressão polémica utilizada na troca de mensagens com o deputado socialista no dia em que foram recuperadas as armas roubadas nos paióis de Tancos. Azeredo Lopes garantiu ao Jornal Económico que nunca foi informado sobre “alegado encobrimento”, não sistematizando, porém, se a expressão utilizada remetia apenas para diligências paralelas da PJM para recuperação de armas sem saber contornos de encobrimento dos autores do furto.
Instado a esclarecer a que é que se referia quando utilizou a expressão “eu sabia” na troca de SMS com o deputado do PS, fonte autorizada por Azeredo Lopes começa por realçar que “nesta fase processual não é possível responder com pormenor às questões que coloca”.
O JE questionou o ex-governante a que é que se estava a referir concretamente: aos pormenores da operação de recuperação das armas? Ou se o seu conhecimento esgotou-se nas diligências paralelas da PJM para essa recuperação, desconhecendo os pormenores da operação, nomeadamente a existência de acordos bilaterais entre PJM e o principal autor material do furto, João Paulino, que garantiam que a sua identidade não seria revelada e que não seria perseguido criminalmente, bem como dos restantes assaltantes.
Em resposta, a mesma fonte assegura, não obstante não poder responder em pormenor, que “o Prof. Azeredo Lopes reitera que nunca foi informado, por qualquer meio, sobre o alegado encobrimento na recuperação das armas furtadas de Tancos, pelo que não poderia ter referido a quem quer que fosse uma situação que desconhecia”. Recorda ainda que “esta posição tem sido afirmada e reafirmada desde sempre, quer no âmbito do processo judicial, quer no âmbito da Assembleia da República, quer no âmbito das posições veiculadas por comunicado”.
Esta é a reacção de Azeredo Lopes depois de na semana passada ter sido conhecida a acusação do caso Tancos, onde o ex-ministro é acusado pelo MP de abuso de poder, denegação de justiça , prevaricação e favorecimento pessoal no “caso de Tancos” e proibido do exercício de funções.
Na acusação consta o SMS polémico que o MP sinaliza como um dos principais elementos de prova:
“Eu sabia (…) Mas, como é claro, não sabia que ia ser hoje”. Esta foi a mensagem de Azeredo Lopes, então ministro da Defesa, dirigida a Tiago Barbosa Ribeiro, ex-presidente da concelhia do PS Porto, onde confessa o seu conhecimento sobre a investigação paralela e ilícita da PJM para descobrir as armas roubadas nos paióis de Tancos no dia 28 de junho de 2017.
Azeredo Lopes assumiu ainda na troca de mensagens com o ex-presidente da concelhia do PS Porto que iria omitir ao Parlamento o seu conhecimento sobre as manobras da PJM. Questionado pelo deputado socialista se iria à Assembleia da República, o ex-ministro respondeu: “Venho, mas não poderei dizer o que te estou a contar.
Ainda assim, foi uma bomba”.
Em comunicado, divulgado a 26 de setembro, Azeredo Lopes afirma lamentar “profundamente que tenha sido ao longo dos últimos meses profusamente julgado na praça pública, numa situação de absoluta desigualdade, através de fugas de informação cirúrgicas, não obstante o processo estar em segredo de justiça (o que só hoje deixa de acontecer)”. E voltou a lançar críticas ao MP e PGR sobre estas fugas, as quais, diz, ocorreram sem que estas entidades “tenham, que se saiba, levantado qualquer inquérito, tornando banal e corriqueiro um facto que viola gravemente a lei e os direitos dos cidadãos”.
Recorde-se que o interrogatório do juiz de instrução a Tancos ao ex-ministro da Defesa, a 4 de julho, no dia em que foi constituído arguido, o ex-ministro da Defesa afirmou que hoje, com o que sabe sobre o processo, têm uma visão muito negativa sobre a operação clandestina da PJM para recuperar as armas roubadas em Tancos. E foi mais longe. “Fui enganado de forma sistemática”, disse, confessando ao magistrado João Bártolo que não se certificou em como os militares da Judiciária militar tinham sabido do local onde se encontrava o arsenal.
Azeredo Lopes disse ao juiz que julgava ter sido através de uma denúncia anónima chegada ao piquete da PJM, salientando que hoje percebeu que não foi um ‘modus operandi’ daquela polícia, de que detinha a tutela, mas “uma operação criminosa”.
Os restantes 22 arguidos são acusados de crimes tão diversos como associação criminosa, furto, detenção e tráfico de armas e de terrorismo internacional, entre outros.