Costa só admite “geringonça” com BE e CDU incluídos
PS chama partidos para reuniões após audições de Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente deve convidar hoje o líder socialista a formar Governo
Figuras do PSD pressionam no sentido da saída imediata de Rui Rio
As curiosidades e os números das eleições e dos rostos do novo Parlamento P. 4 a 14
Costa só quer “geringonça” com BE e PCP no mesmo barco
PS pediu reuniões para amanhã com parceiros parlamentares, eventualmente já como primeiro-ministro indigitado. BE reuniu-se ontem à noite e PCP tem hoje Comité Central
O PS já formalizou pedidos de reunião para amanhã com os parceiros parlamentares de há quatro anos, tal como António Costa disse que ia fazer no discurso de vitória, onde mostrou vontade de reeditar a solução política que permitiu levar a bom porto os últimos quatro anos de Governo, alargando-a agora ao PAN e ao Livre. Se não houver acordo, admite governar sozinho.
A vontade do secretário-geral do PS, apurou o JN junto de fontes próximas de Costa, é que todos permaneçam no mesmo barco e “renovar a solução política a que os portugueses disseram querer que tenha continuidade”. O objetivo “é chegar a acordo com todos”.
Caso contrário, Costa admite fazer como Guterres, negociando ano a ano a aprovação dos orçamentos, com quem lhe der mais jeito.
No domingo, Costa disse que “o desejável” era renovar essa solução. “Se for possível dessa forma, excelente. Se não for possível, havemos de encontrar caminho de outra forma”, disse, garantindo que não irá “deitar a toalha ao chão”.
Os encontros foram pedidos ontem e terão lugar na sede de cada um dos partidos, já depois do presidente da República os ter ouvido em Belém, o que acontece hoje – e eventualmente após a indigitação de Costa como primeiro-ministro.
No discurso, o secretário-geral do PS foi claro: “Os portugueses gostaram da ‘geringonça’ desejam a continuidade da atual solução política, agora com um PS mais forte”. Os socialistas conseguiram 106 deputados, mais 20 do que em 2015, e sozinhos têm mais eleitos do que toda a Direita junta (PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega somam 84 deputados).
O que significa que, para que os orçamentos de Estado passem, basta a abstenção do BE ou da CDU, mas mesmo isso terá de ser negociado.
“NÃO DEPENDE SÓ DO PS”
Costa insistiu que “não depende só do PS” reeditar os acordos. “A nossa responsabilidade é tomar a iniciativa, a responsabilidade dos outros é não fecharem a porta”, disse, insistindo que o PS saiu “reforçado” e que foi o seu programa que ganhou, traçando uma linha vermelha: as contas certas e a credibilidade externa.
Apesar de a CDU ter reduzido cinco deputados e o BE conseguido manter os 19 (mas perdido mais de 57 mil votos), no seu discurso (como, aliás, em várias intervenções no Altis), Costa tentou proteger os danos nos parceiros de Esquerda, insistindo que “no essencial consolidaram a sua posição”. E foi para eles que chutou a responsabilidade de um eventual não acordo que inviabilize a desejada estabilidade para os próximos quatro anos.
“Os portugueses manifestamente não disseram que esta era uma solução para não repetir”, disse, defendendo que os resultados são “uma vantagem que não podemos desperdiçar”.
PCP NÃO QUER A CENA DO PAPEL
Do lado dos parceiros, as posições foram distintas. Se, por um lado, Jerónimo de Sousa fechou a porta a acordos escritos – “não haverá a repetição da cena do papel” -, também disse que Costa tem todas as condições para formar Governo. E o PCP quehoje reúne o Comité Central para analisar o pior resultado da liderança de Jerónimo decidiráa sua votação caso a caso, “em função das opções do PS, dos instrumentos orçamentais que apresentar e do conteúdo do que legislar”.
Já Catarina Martins – que reuniu ontem à noite a Comissão Política do BE, de onde sairá a equipa que vai falar com o PS -, ofereceu a Costa dois caminhos: a disponibilidade para negociações com vista a uma “solução de estabilidade” para a legislatura ou, caso isso não aconteça, “negociações ano a ano para cada orçamento”. E elencou um conjunto de exigências como a reversão dos cortes da troika em matérias laborais e a nacionalização dos CTT [ler ao lado].
Costa não aceitou logo a oferta da líder do BE, com quem nos últimos meses teve vários arrufes. E deu claramente a entender que um acordo com um dos parceiros não lhe agrada.
Marcelo tem pressa em indigitar novo primeiro-ministro
Ao contrário de Cavaco, presidente não exige acordos escritos. Posse do Governo pode ser a 25 de outubro
Audiências O presidente da República decidiu não esperar pela publicação dos resultados oficiais das eleições e chamou já hoje a Belém os dez partidos (três deles estreantes) que irão ter assento no novo Parlamento, “tendo em vista a indigitação do primeiro-ministro”, que deve acontecer ainda hoje. A urgência é justificada com o facto de ter lugar, a 17 e 18 de outubro, “um importante Conselho Europeu, nomeadamente por causa do Brexit”, ao qual Marcelo pretende que António Costa vá já como primeiro-ministro indigitado e não como primeiro-ministro cessante.
Tendo em conta que não deverá haver objeções a que o Partido Socialista forme Governo – todos reconheceram a vitória -, o presidente da República deverá assim indigitar António Costa nas próximas horas e após a maratona de reuniões (reservou 30 minutos para os partidos estreantes e para Os Verdes) e uma hora para os restantes.
Ao que o JN apurou, ao contrário do que fez Cavaco, Marcelo não vai exigir acordos escritos que assegurem a António Costa a governabilidade a longo prazo, dando-lhe o benefício da dúvida. Mas o presidente defendeu que “conviria que o primeiro-ministro indigitado ouvisse os partidos numa composição diferente do Parlamento”, sobre os temas europeus, antes da tomada de posição no Conselho Europeu, o que normalmente acontece em debates no Parlamento.
Em Belém, a indicação é para que haja celeridade na formação do Governo, apontando-se a posse para 24 ou 25 de outubro, se os resultados forem apurados antes da data limite. E Marcelo Rebelo de Sousa promete “fazer tudo para que haja estabilidade”, declarando-se tão empenhado como na anterior legislatura.
Está aberta a época da caça a Rio: críticos exigem demissão
Líder social-demoerata acusado de estar focado na perseguição. Apoiantes denunciam “oposição autofágica”
Miguel Relvas, o histórico arregimentador de vontades dentro do PSD, deu ontem o pontapé de saída para o fim da paz podre que se mantinha nas hostes laranjas, desde o conselho extraordinário de janeiro, ao exigir a saída de cena de Rui Rio. Abertas as portas, seguiram-se outros a pedir o mesmo e até a dar prazos ao líder social-democrata para atirar a toalha ao chão, acusando-o de ter estado mais focado na perseguição de “fantasmas do que a fazer oposição a Costa”.
Os apoiantes de Rio avisam que esta movimentação trata-se de um “exercício de vertigem que vai dilacerar o partido”. Mais, acusam os críticos internos de “não deixar sequer acabar o processo eleitoral, com a contagem pelos círculos da Europa e Fora da Europa ainda a decorrer”.
Uma coisa é certa, está aberta a época de caça à liderança de Rio. Sendo que, já esta semana, Luís Montenegro e Hugo Soares, os dois ex-líderes parlamentares de Passos Coelho, têm encontros com as bases – em Espinho e Braga, respetivamente.
A toada das críticas começou com Miguel Relvas, que há vários meses tem colocado debaixo de fogo a estratégia do líder. Ontem, defendeu que o partido “precisa de novos protagonistas”.
PONDERAÇÃO JÁ COMEÇOU
Rapidamente, vários líderes das distritais e dirigentes locais seguiram o tom. “Não há capacidade de esta Direção continuar. É necessário alguém que revitalize o PSD e crie uma nova dinâmica.
Isso terá de ser feito por alguém diferente de Rui Rio”, defendeu, ao JN, Rui Rocha, presidente da Distrital de Leiria, que, tal como outros, admitiu aguardar pela marcação do Conselho Nacional extraordinário para a análise dos resultados.
O JN apurou que, tal como prometeu ao início da madrugada de segunda-feira, Rui Rio começou a “ponderar” o seu futuro. Ontem, reuniu na São Caetano à Lapa o seu núcleo duro para uma primeira análise, sendo certa a convocação dos órgãos nacionais, ainda que não tenha sido discutida uma data. O objetivo é não precipitar uma análise a quente no Conselho Nacional, sabe o JN.
REVOLTA COM DISCURSO
Foram as palavras de Rio, ao atribuir culpas à oposição interna entre outras razões dadas para a derrota, a causa da maior fúria.
“Faltou a humildade de Manuela Ferreira Leite e Santana Lopes”, disse Paulo Cunha, autarca de Famalicão, que argumentou que “o partido ganha se se clarificarem já posições, não deixando arrastar este problema, consumindo a agenda do partido até janeiro”, quando se realizam as diretas.
Para Hernâni Dias, autarca de Bragança onde o PSD teve um dos seus melhores resultados no domingo, “quer se goste ou não do ‘timing’ de Luís Montenegro em janeiro, na substância, ele tinha toda a razão”.
“Rui Rio quebrou um ciclo de vitórias do PSD. Os resultados mostram que era possível ganhar ao PS.
Em vez de assumir a derrota, o líder do PSD decidiu fazer um exercício disparatado de dizer que é positivo ter ficado à frente de sondagens”, disse.
Carlos Morais, o líder da Distrital de Viana do Castelo, foi ainda mais longe ao avisar Rui Rio que passou a linha vermelha: “Um partido não pode perder duas eleições em cinco meses”.
APOIANTES: “DISPARATES”
Os apoiantes de Rio lamentaram este coro. “É um exercício disparatado”, atirou Adão Silva, vice-presidente da bancada parlamentar, defendendo que a “decisão de Rui Rio seja permanecer à frente do PSD e que se recandidate, porque merece”.
“O que está a acontecer é uma constante oposição autofágica desde a vitória democrática de Rui Rio. Estes militantes do PSD, que estão tão excitados, foram os mesmos que apoiaram Santana Lopes [na corrida contra Rio]. É um pouco bizarro, não é?”, atirou Adão Silva, o Lobo d’Avila disponível para disputar liderança
João Almeida está a refletir sobre possível candidatura à sucessão. Diogo Feio defende que próximo presidente deve ser um dos cinco deputados eleitos
CDS Depois de enfrentar o pior resultado dos últimos 28 anos, o CDS-PP já tem dois possíveis candidatos à liderança. Abel Matos Santos, porta-voz da Tendência Esperança em Movimento, foi o primeiro a dar o passo em frente na corrida, mas Filipe Lobo d’Ávila, do grupo Juntos pelo Futuro, admitiu estar disponível para o cargo. João Almeida, deputado e porta-voz do partido, apenas avançou para reflexões sobre uma possível candidatura ao cargo.
O ex-deputado Filipe Lobo d’Ávila, que no domingo disse estar “em choque” com os resultados, admitiu, ao jornal “Expresso”, ter “disponibilidade total” para assumir a liderança. Avisou ainda que uma possível candidatura de João Almeida não irá “condicionar” as opções que tomar. “Todos somos poucos para mudar a situação. É evidente que não excluo nenhum cenário. Estou num momento de ponderação, de reflexão”, revêlou à Lusa.
João Almeida admitiu que os resultados de domingo “obrigam a repensar a estratégia” e a fazer uma “reflexão profunda sobre o futuro” do partido.
Ao JN disse que não tinha voltado a pensar em concorrer: “Candidatar-me não estava nos planos, mas sendo um dos cinco deputados eleitos, acho que tenho a obrigação de agir e pensar no futuro do partido”.
Acrescentou ainda que, tal como Lobo d’Ávila, também está a preparar uma moção de estratégia ao próximo congresso.
Na ala mais conservadora do partido, Francisco Rodrigues de Oliveira, líder da Juventude Popular, também apontado como um dos possíveis candidatos, não deu sinais de interesse, mas teceu fortes críticas aos resultados e atirou aos eleitores a “pesada derrota do CDS”.
Manuel Monteiro, que recentemente regressou à militância, admitiu ao JN que é cedo para falar numa candidatura, apoios ou mesmo do futuro do partido.
SOLUÇÃO NO PARLAMENTO
Para Diogo Feio, “uma liderança com sucesso” terá de passar pelos deputados eleitos: Assunção Cristas, João Almeida, Ana Rita Bessa, Cecília Meireles e Teimo Correia. “Todos são uma boa solução. O partido tem cinco deputados e há neles muita responsabilidade para o futuro”, disse o dirigente centrista à Rádio Renascença.
Assunção Cristas não foi a única a demitir-se. Ontem, o cabeça de lista por Viseu, Hélder Amaral, decidiu abandonar todos os cargos, considerando que a sua responsabilidade pelo resultado abaixo das expectativas é igual à da presidente e dos restantes não eleitos.
Francisco Rodrigues de Sousa
Líder da juventude Popular
“Os eleitores infligiram uma pesada derrota ao CDS. Temos o dever de lutar, não de fugir. Há um único rumo: procurar estar certo, rejeitando concessões, sem temer fazer ou dizer o que acreditamos”
Chega foi o mais votado dos novos partidos na Assembleia da República
André Ventura é o único deputado eleito e rejeita epíteto de extrema-direita. Fim dos serviços públicos é uma das bandeiras
MANDATO Dos três partidos que alcançaram assento parlamentar no domingo (com um deputado cada), o Chega foi aquele que alcançou o maior número de votos: 66 442, dando ao seu líder, André Ventura, o lugar de deputado. O Chega – que concorreu com o PPM às europeias na coligação Basta foioficializado só em 2019 e é conotado com a extrema-direita. Facto rejeitado anteontem por André Ventura, assegurando que os eleitores que lhe deram o voto perceberam que “o Chega não é um partido extremista”.
No programa político é proposto o fim dos serviços públicos na saúde e na educação, bem como a atribuição ao presidente da República da liderança do Governo. O Chega também defende o fim do aborto e das cirurgias de mudança de sexo no Serviço Nacional de Saúde e assuntos polémicos como a castração química dos pedófilos e a prisão perpétua são outras das medidas enunciadas no documento.
Documento esse que esteve debaixo de fogo, ainda antes da campanha eleitoral ter arrancado, por conter partes de um programa eleitoral do partido Nova Democracia de Manuel Monteiro. Na altura, o líder justificou a coincidência por os dois documentos pertencerem ao mesmo autor.
AMBIÇÃO DE SER O MAIOR
Na noite eleitoral, André Ventura – que chegou a ser vereador do PSD na Câmara de Loures, tendo renunciado ao cargo – e a sua comitiva ainda se deslocaram até à frente do Parlamento para comemorarem o resultado alcançado. Antes, frente às câmaras, o jurista de 36 anos garantia que daqui a oito anos o Chega será o partido mais votado no país.
No entender de António Costa Pinto, os três partidos que alcançaram agora um lugar no Parlamento receberam um “bónus político”.
Segundo o politólogo vai- -lhes “ser dado maior destaque e apoio financeiro e uma tribuna ao lado dos grandes partidos”.
Foi em Lisboa que o Chega conseguiu um terço dos votos (22 053), seguindo-se Setúbal (7643) e Porto (5708).
Cartazes polémicos e redes sociais ajudaram a conquistar um lugar
Iniciativa Liberal satirizou partidos principais mas deu pouco a conhecer sobre os seus candidatos. Quer ser oposição ao socialismo
Liberais O deputado João Cotrim Figueiredo, economista de 58 anos, será a face visível da Iniciativa Liberal (IL) na nova composição do Parlamento. O partido fundado em 2017 concentrou- -se nas redes sociais e no trabalho dos cabeças de lista junto dos leitores, mas deixou de fora dos cartazes eleitorais as caras dos seus dirigentes.
A opção de lançar cartazes a criticar os partidos com assento parlamentar (como o que tinha a expressão “ComPrimos”, a satirizar o “outdoor” do PS com a imagem de António Costa e onde se lia “Cumprimos”) acabaria por dar frutos e chamar a atenção para o partido que viria a apostar na comunicação através das redes sociais.
A criação de uma taxa única de 15 % para os rendimentos acima dos 650 euros, o combate à corrupção, que os dirigentes atribuem ao “excesso de concentração do poder do Estado central, e a liberdade de escolha em matérias como a saúde e a educação valeram ao IL a escolha de 65 545 eleitores e um lugar na Assembleia da República pelo círculo de Lisboa. A votação no Parto não foi, no entanto, suficiente para eleger o presidente do IL: Carlos Guimarães Pinto.
Na noite eleitoral este último anunciou que pretende apresentar uma “verdadeira alternativa ao socialismo”. E o novo deputado frisou que pretende ser a “voz do liberalismo”.
VOTOS DO PSD E CDS
O politólogo António Costa Pinto disse ao JN que os partidos como a Iniciativa Liberal beneficiaram com a “escassa possibilidade do CDS e do PSD vencerem as eleições”. “A vitória anunciada do PS ofereceu a algum eleitorado de Direita a possibilidade de votar em partidos com quem mais se identificavam”, explicou.
O eleitorado do IL ficou mais concentrado nos concelhos industriais, com um volume de negócios na indústria e no comércio que ultrapassa a média nacional, revelaram dados estatísticos citados pela agência Lusa.
Os votos nos círculos eleitorais de Lisboa e do Porto corresponderam a 63% da votação total.
PAN em alta alcança grupo parlamentar com maioria feminina
Bebiana Cunha, pelo Porto, Inês Real por Lisboa, e Cristina Rodrigues, por Setúbal juntam-se ao líder André Silva em São Bento
Subida O objetivo era passar de um deputado para um grupo parlamentar e, com um resultado de 3,28% a nível nacional (166 854 votos), tal foi conseguido. Se até aqui o PAN era representado na Assembleia da República apenas por André Silva, a partir de agora, o número sobe para quatro mandatos, sendo que as três caras novas em São Bento são todas femininas.
Bebiana Silva, 33 anos, foi a primeira deputada eleita pelo PAN no círculo do Porto. A cabeça de lista pela Invicta está no partido desde 2011 e já em 2015 tinha tentado a eleição, falhando nessa altura a entrada no Parlamento, apesar de ter alcançado 1,59% dos votos no segundo maior círculo do país.
Agora, com 3,46% no Porto, o PAN elegeu confortavelmente Bebiana Cunha e ainda chegou a sonhar colocar também Jorge Ribeiro, o segundo da lista.
DE PROVEDORA A DEPUTADA
Também em Lisboa houve boas notícias para o PAN: além de André Silva, que repetiu a eleição de 2015, o partido elegeu ainda Inês Sousa Real, graças aos 4,46% alcançados neste círculo. A jurista de 3 9 anos foi provedora dos Animais de Lisboa e é, desde 2017, deputada na Assembleia Municipal da capital.
No domingo, André Silva foi o último líder a reagir aos resultados eleitorais – falou mesmo depois de António Costa -, uma espera que se explica pela expectativa de confirmar a eleição em Setúbal. O suspense terminaria quando, já perto da meia- -noite, a advogada Cristina Rodrigues, de 34 anos, garantiu o mandato.
PARTIDO URBANO
O bom resultado do PAN deve-se à subida de quase 92 mil votos a nível nacional face a 2015, subida essa que incidiu nos grandes centros urbanos, com destaque para o Algarve: nos concelhos de Faro, Portimão, Albufeira, Olhão, Lagoa e Aljezur, o partido ultrapassou os 5%, tendo acontecido o mesmo em Sintra.
Garantidos os quatro deputados, André Silva atirou: “Consolidámo-nos, a contragosto de todos os que nos olharam como um epifenómeno ou uma moda…”.
Livre está instalado no “meio da Esquerda” e quer reformar a UE
Joacine Katar Moreira, deputada recém-eleita, caracteriza o partido como “antifascista” e “antirracista” e pisca o olho ao PS
PROGRAMA Os 22 807 votos em Lisboa foram suficientes para que o Livre tenha alcançado representação parlamentar pela primeira vez.
Joacine Katar Moreira, investigadora de 37 anos, é a deputada eleita pelo partido criado por Rui Tavares em 2013 e que, desde a fundação, assume querer colocar- -se “no meio da Esquerda”.
No entanto, ao contrário de BE e PCP, que historicamente têm uma posição crítica da União Europeia (UE), o Livre não questiona a presença de Portugal na organização. O partido considera, contudo, que a UE precisa de ser reformada, nomeadamente através da criação de eleições para a Comissão Europeia e da proteção de direitos sociais, propondo “mobilizar a cidadania” para “o relançamento da UE”.
“NAMORO” AO PS
O facto de o Livre ser abertamente favorável à integração europeia ajuda a torná- -lo num possível aliado do PS na nova configuração do Parlamento. Joacine Moreira já deixou claio que o partido está “completamente disponível” para dialogar com os socialistas, tendo também incentivado o BE, PCP e PEV a fazerem um “enorme esforço de entendimento” para garantir, uma vez mais, a govemabilidade.
IGUALDADE E AMBIENTE
O programa político do Livre é assumidamente “antifascista”, “antirracista” e “igualitário”, propondo também medidas como a atribuição imediata de nacionalidade aos filhos de imigrantes. A nível social, o Livre defende a subida do salário mínimo para os 900€, as 30 horas de trabalho semanais, os 30 dias de férias por ano ou a garantia de que 10% da oferta de habitação é pública.
O ambiente é outro dos eixos programáticos do partido, que quer fazer com que, em 2030,100% da eletricidade consumida em Portugal seja renovável. No entanto, durante a campanha, Rui Tavares estabeleceu diferenças relativamente ao PAN: o Livre é “ecologista” e não “animalista”, não correndo portanto o risco de defender medidas que “desequilibrem a flora a favor da fauna”.
Braga foi o distrito com menos abstenção
No outro extremo, em Bragança apenas 44,89% foram votar
votação 4 250 660. É este o número de portugueses que, anteontem, não foram às urnas. Foi o máximo histórico em eleições legislativas dos últimos 44 anos, com a abstenção a atingir os 45,5%. Sendo que estão ainda por contar os votos dos eleitores no estrangeiro, superior a 1,2 milhões, e que deverá engrossar ainda mais o número de abstencionistas.
Numa ótica continental, analisando-se os dados distritais constata-se que os bracarenses foram os que mais acorreram às urnas, com a abstenção a ficar-se pelos 40,17%. Segue-se o Porto, com 58,59% de votantes, e Lisboa, onde 57,33% dos cidadãos exerceram o seu direito de voto.
Em sentido oposto, os dados mostram que, em Bragança, a abstenção ultrapassou os 55% e rondou os 54% em Faro e em Vila Real.
Analisando, agora, as regiões autónomas, os Açores, como em eleições passadas, atingiram uma estrondosa abstenção de 63%. Já na Madeira, 50,29% foram votar.
Refira-se que tirando as legislativas de 2005, em que a abstenção desceu, os abstencionistas não param de aumentar. J.A
“Para eu ir votar, tinham de pôr lá gente a altura”
Melgaço Desilusão motiva fraca participação
De quatro amigos, que o JN encontrou sentados em amena cavaqueira, no Largo Hermenegildo Solheiro, na vila de Melgaço, apenas um votou. A abstenção naquele concelho foi de 66,23 % – a mais elevada no continente.
Da amostra, três chamam-se Manuel: Esteves, Caldas e Dias. O nome do que resta é Alberto Gonçalves. São todos ex-emigrantes. Manuel Dias foi o que votou. “Votei porque é um dever. Sou analfabeto, mas vou sempre”, justifica, comentando: “Quando fui votar aqui na vila, notei que não havia quase ninguém. Nos outros anos, havia bicha. Depois sentei-me um bocado cá fora no muro e lá passava um ou outro, mas muito poucos. Até comentei isso, palavra de honra”.
Os ex-emigrantes explicam as costas voltadas às umas com o descontentamento em relação ao país que encontraram quando regressaram. “Andei toda a vida no estrangeiro a ganhar para Portugal e agora já não quero saber disto para nada. Quem trabalha e traz para dentro é ‘uma burra’ e o que está cá a comer do que os outros trazem é ‘um papão’. A política que temos em Portugal só serve para certas pessoas”, atira Manuel Caldas, continuando: “Eles são todos família uns dos outros. Para eu ir votar tinham de pôr lá gente à altura. Havia que pôr o sapato à medida do pé”.
Manuel Esteves, diz: “Eu não votei porque estou cansado disto. Saí daqui em 1957, corri esse mundo todo e, olhe, nós [os ex-emigrantes] somos independentes”. “Vou votar para quem? Para mim, são todos da mesma ‘seita'”, critica.
Já a abstenção de Alberto Gonçalves tem outro motivo: “Não voto porque antes votava e enganava-me sempre. Ganhava sempre o ‘inimigo’. Por isso deixei”. ANA PEIXOTO FERNANDES
Câmara transporta idosos das aldeias até às urnas
Vila de Rei Concelho com a maior percentagem de votantes tem muitos eleitores seniores
Com cerca de 3500 habitantes, Vila de Rei voltou a ser o concelho com menos abstenção do país, nas eleições legislativas: 30,44%. Bastião social-democrata, a pequena povoação do distrito de Castelo Branco é constituída, sobretudo, por eleitores com mais de 65 anos, que têm uma relação de grande proximidade com a Autarquia.
“As pessoas, mesmo com grandes dificuldades, vão votar, porque querem decidir o seu futuro. Ainda bem que, graças a Deus, não deixam que os outros decidam por elas”, observa Ricardo Aires, 47 anos, a cumprir o segundo mandato como presidente da Câmara de Vila de Rei, eleito pelo PSD.
O autarca acrescenta, por outro lado, que os técnicos das instituições sociais, as maiores empregadoras do concelho, também aconselham os idosos a manifestarem o seu desagrado nas urnas, quando reclamam de alguma coisa, o que constitui um incentivo para cumprirem o seu dever cívico.
“A Câmara vai buscar as pessoas idosas às aldeias para virem votar.
Se não fosse assim, não vinham”, acredita Carlos Oliveira, 47 anos, assistente operacional na Autarquia e que integrou uma das mesas de voto. “A D. Irene [Barata, ex-presidente da Autarquia] andava sempre com os velhotes de um lado para o outro. Eles gostam é de mimos”, comenta. “Os nossos presidentes, até hoje, sempre fizeram um bom trabalho”, garante.
Cecília Rolo, 52 anos, acrescenta que a Autarquia não se limita a ir buscar os idosos às aldeias para exercerem o seu dever cívico nos períodos eleitorais, mas também às terças e às quintas-feiras, para poderem “tratar da vida delas”, porque não há transportes públicos. “E no feriado do concelho, também as vão buscar para virem ao almoço”, acrescenta.
Sondagem diária para o JN certeira nos resultados eleitorais
Desvio médio da Pitagórica inferior a um ponto percentual.
No caso do PSD e da CDU, a diferença foi de uma décima
Balanço As sondagens foram um dos temas polémicos destas eleições legislativas. Em particular, a sondagem diária que a Pitagórica fez para o JN, a TSF e a TVI. Foram 14 dias de resultados que deixaram em suspenso os eleitores e sobretudo os concorrentes e dirigentes partidários. Alguns reagiram com ponderação, mesmo quando os resultados eram maus, outros ao ataque.
Fizeram bem os primeiros em manter a serenidade: a generalidade das sondagens pré- -eleitorais (não confundir com sondagem à boca das umas, feita no próprio dia das eleições e de forma presencial) revelaram uma grande capacidade de antecipar os resultados destas eleições legislativas.
Nenhum especialista em estudos de opinião ou jornalista que analise os resultados – e nenhum leitor, que deve ser ciclicamente alertado para os constrangimentos – deve esperar que uma sondagem funcione como uma previsão exata do que acontecerá numa eleição.
As sondagens são retratos do momento em que são feitas, não são capazes de prever o futuro. Mas também é verdade que a expectativa razoável – de especialistas, jornalistas e leitores – é que os números das últimas sondagens se aproximem do resultado final.
Em Portugal, sobretudo nos últimos anos, é isso que acontece. As diferenças entre resultados reais e previsões ficam dentro de um intervalo razoável, a que os especialistas em estudos de opinião chamam “desvio médio”.
MEIO PONTO NOS SOCIALISTAS
Nestas eleições, a semelhança entre os valores finais da sondagem diária da Pitagórica e os resultados eleitorais chega a ser notável para alguns dos partidos, sobretudo para os que têm algum histórico.
Veja-se o caso do vencedor, o PS: a Pitagórica conclui a sondagem diária com 37,2% para os socialistas; nas umas conseguiram 36,65%; o desvio foi de meio ponto percentual. E que dizer do segundo, o PSD, cujo líder, aliás, foi quem mais atacou as sondagens, sugerindo que haveria manipulação: a Pitagórica apontou para os 27,8%; nas urnas teve 27,9%; o desvio foi de uma décima.
No caso do BE, o desvio também foi inferior a meio ponto.
Mas talvez os resultados mais notáveis sejam os da CDU e CDS, partidos que os especialistas sentem particular dificuldade em medir: o desvio foi inferior a duas décimas nos comunistas e inferior a quatro décimas nos centristas.
O único caso em que a sondagem revelou mais dificuldade foi com o PAN, que saiu valorizado na sondagem: o desvio foi de 1,5 pontos percentuais. Em partidos ainda mais pequenos, a Pitagórica também foi certeira: recorde-se que previu a eleição de deputados pelo Iniciativa Liberal, Chega e Livre. Faltavam dois dias para as eleições.