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A INACREDITÁVEL VERGONHA DE TANCOS

A INACREDITÁVEL VERGONHA DE TANCOS

Vamos recapitular, porque de outro modo até custa acreditar que esta história aconteceu mesmo. Primeiro, temos o paiol principal do Exército guardado como nem um galinheiro se guarda contra as raposas, numas instal…

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Tancos: ex-diretor da PJ vai ser investigado pelo MP

Tancos: ex-diretor da PJ vai ser investigado pelo MP

O ex-diretor da pj vai ser investigado por violação do segredo de justiça no caso que envolve o desaparecimento de armas dos paióis de Tancos

O ex-diretor Nacional da Polícia Judiciária Almeida …

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Julgamento explosivo

Editorial Estando em causa a segurança de todos e a autonomia do Ministério Público, o caso de Tancos vai determinar a forma como o país olha para quem manda

Julgamento explosivo

Não foi uma mas duas as acusações que saíram do caso de Tancos — am…

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CORREIO DA JUSTIÇA

CORREIO DA JUSTIÇA

Tempo

Acabou o tempo dos jacarandás. O Outono iniciou-se, pé ante pé. As árvores vestiram o seu fato da época. A Justiça, ocupa o seu lugar. Atrasada, muitas vezes, lesta, quando não pode deixar de ser, Justa, talvez… Porém, …

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AS CRÍTICAS DO MP E O ROUBO QUE AFINAL EXISTIU

AS CRÍTICAS DO MP E O ROUBO QUE AFINAL EXISTIU

Carlos Diogo Santos

Felícia Cabrita

O MP diz que Azeredo estava por dentro de tudo e lança duras críticas à sua conduta. Militares da GNR e da PJM não escapam às reprimendas dos procuradores. O SOL revela a lista de material roubado de um crime que o ex-ministro chegou a colocar em dúvida: ‘No limite, pode não ter havido furto nenhum’.

O Ministério Público considera extremamente grave a conduta de Azeredo Lopes e diz que os investigadores da PJM e da GNR agiram contra os seus deveres. Num despacho com mais de 500 páginas, assinado pelos procuradores Vítor Magalhães, Cláudia Oliveira Porto e João Valente, os arguidos – os dez elementos ligados ao furto, os 12 militares da PJM e da GNR e Azeredo Lopes – são acusados de crimes como associação criminosa, tráfico e mediação de armas, terrorismo, associações criminosas, tráfico e outras atividades ilícitas, detenção de cartuchos e munições proibidos, detenção de arma proibida, falsificação ou contratação de documento, denegação de justiça e prevaricação e, por fim, favorecimento pessoal praticado por funcionário.

Os procuradores são especialmente duros com os arguidos. Sobre o ex-ministro da Defesa Nacional é referido a sua conduta é «extremamente grave, uma vez que o mesmo violou a fidelidade reclamada pela sua qualidade de Ministro da Defesa Nacional». O MP defende ainda que Azeredo «infringiu, com a sua conduta, as regras e exigências de legalidade, objetividade, imparcialidade e independência que devem nortear o exercício de altas funções públicas».

Quanto aos investigadores da PJM e da GNR é referido que «exerceram os poderes de facto decorrentes do exercício dos seus cargos públicos contra os fins para que foram atribuídos, bem sabendo que estavam a beneficiar e proteger autores da prática de crimes, condutas que sabiam ser de extrema gravidade, proibidas e punidas pela Lei Penal».

Houve furto e Já se conhecem as armas subtraídas

Em setembro de 2017, Azeredo Lopes disse que «no limite» poderia nem ter havido furto nenhum.

Mas agora sabe-se que houve. E o MP divulgou a lista do material roubado dos Paióis Nacionais de Tancos. Do Paiol 14, os assaltantes levaram: 1450 Munições de 9mm; 22 Bobines de tropeçar; 1 Disparador de descompressão; 24 Disparadores de tração lateral multidimensional inerte; 6 Granadas de mão de gás lacrimogéneo CS/MOD M7; 10 Granadas de mão de gás lacrimogéneo CM Antimotim – M/968; e 2 Granadas de mão de gás lacrimogéneo Triplex CS. Já do paiol 15 foram furtadas: 44 granadas foguete anticarro, 66mm, com espoleta M412A1, com lançador M72A3-M/986 LAW; 264 Velas PE4A; 30 CCD10 (Carga de corte); 57 CCD20 (Carga de corte); 15 CCD30 (Carga de Corte); 30,5 Lâminas KSL. (Lâmina explosiva); 60 Iniciadores IKS; 90 Granadas de mão ofensivas M321; 30 Granadas de mão ofensivas M962; e 30 Granadas de mão ofensivas M321 (em corte-para instrução).

Papagaio-Mor

Suspeita-se que seja referência ao Presidente da República

A interceção de escutas telefónicas ao major Vasco Brazão incluídas nos autos do processo de averiguação, ao roubo de armas em Tancos indiciam que este oficial, responsável da PJM à data da investigação do caso, quis mesmo referir-se a Marcelo Rebelo de Sousa como «o papagaio-mor do Reíno» apesar de o seu advogado, Ricardo Sá Fernandes, garantir o contrário. Brazão à irmã ao telefone, a 5 de abril deste ano: «Vais ver que o papagaio-mor não vai falar sobre Tancos tão cedo. O papagaio (…) do Reino não vai falar sobre Tancos tão cedo. Pois, porque eles sabem, aliás o Sá Fernandes já fez chegar à Presidência que eu tenho um e- -mail que os compromete. Portanto, eles não vão falar sobre Tancos tão cedo».

João Cordeiro sabia

Chefe da Casa Militar de Marcelo falava com diretor da PJM

O ex-chefe da Casa Militar do Presidente da República, João Cordeiro, arrisca-se a ser acusado por falsidade de testemunho num processo independente, dado que o MP extraiu uma certidão. Segundo o MP, Cordeiro «demonstra um contacto de alguma forma próximo com Luís Vieira». Apesar de ter dito sempre que nada sabia. Cordeiro escapou a uma acusação de abuso de autoridade, porque as interceções telefónicas só servem de prova em crimes mais graves. Os contactos com o diretor geral da PJM eram muitos e num dos emails é claro o pedido de uma cunha a Belém para tirar a investigação das mãos da Judiciária civil e dá-la à PJM.

Impedidos de funções

MP quer diretor da PJM e Azeredo Lopes impedidos de exercer

O Departamento Central de Investigação e Ação Penal pede na acusação do caso de Tancos que o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, o diretor-geral da P J Militar, Luís Vieira, outros elementos desta polícia e da GNR que participaram na farsa fiquem impedidos de exercer funções públicas. Sobre os elementos do gangue, o MP pede ainda que João Paulino, António Laranginha, Fernando Santos, Pedro Marques, Hugo Santos, Gabriel Moreira, João Pais, Valter Abreu e Filipe Sousa fiquem proibidos da detenção, uso e porte de armas.

SMS com deputado

Ex-ministro da defesa gaba-se a Tiago Barbosa Ribeiro

As SMS trocadas entre o ex-mi. nistro da Defesa e Tiago Barbosa Ribeiro revelam que Azeredo’, era conivente com o plano de ‘ recuperação das armas furtadas montado ilegalmente pela PJM. No dia em que foi conhecido o adiamento, numa operação conjunta da GNR e a PJM em colaboração com os ladrões, por forma a excluir a PJ, Barbosa Ribeiro enviou a Azeredo Lo-; pes – que estava então na tribu-, na do Governo na Assembleia da República, em plena sessão; de debate quinzenal com o primeiro-ministro – uma SMS de felicitações: «Parabéns pela recuperação do armamento, grande alívio…! Não te quis chatear hoje». O ministro respondeu:

«Foi bom: pela primeira/vez se recuperou armamento furtado.

Eu sabia, mas tive que aguentar calado a porrada que levei».

Acusação é política, diz Azeredo

Ex-ministro da Defesa anunciou que vai pedir abertura de instrução.

O ex-ministro da Defesa reiterou esta semana nada saber sobre a investigação de farsa da Polícia Judiciária Militar e acusou o MP de ter produzido uma acusação sem provas e baseada apenas em questões políticas.

Azeredo Lopes afirma que «o MP confunde de modo ostensivo responsabilidade política com responsabilidade jurídica», adiantando: «Sempre assumi a primeira; refuto, mais uma vez a segunda, de forma veemente e definitiva; e recordo que a avaliação política foi feita, justamente, pela Assembleia da República».

O antigo governante diz, ainda assim, que já estava à espera: «Esta acusação era expectável desde que o MP me ouviu como testemunha e poucos dias depois me constituiu arguido sem que, entretanto, tivessem ocorrido ou sido juntos aos autos quaisquer factos novos».

Azeredo Lopes lamenta ainda nos últimos meses ter sido julgado em praça pública. Considera, aliás, que toda esta situação é de «absoluta desigualdade», salientando a existência de «fugas de informação cirúrgicas, não obstante o processo estar em segredo de Justiça».

«Lamento além disso que, de forma grosseira e óbvia, essas fugas de informação se tenham intensificado desde o primeiro dia da campanha eleitoral em curso, em claro atropelo e desrespeito às mais elementares regras da democracia», disse, anunciando que vai pedir abertura de instrução.

A terminar, diz que «não obstante esta acusação», confia na Justiça e na sua absolvição. «Chegou agora, finalmente, o tempo da minha defesa», concluiu.

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Eu não percebo nada desta história de Tancos

Eu não percebo nada desta história de Tancos

José Pacheco Pereira

Algumas declarações do ministro ou do primeiro-ministro tornam-se hoje demasiado suspeitas

Na origem, parece ter estado um roubo vulgar, mesmo que o que foi roubado seja invulga…

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Um pais de bufos e de abafadores

Um pais de bufos e de abafadores

Portugal tem reconhecidamente dos melhores serviços secretos, com excelentes profissionais e informadores. Não é, aliás, à toa que o novo responsável pelos serviços europeus de informações é um português – Casimiro Morgado (há semanas nomeado diretor do Centro de Inteligência e Situação da União Europeia).

Também recentemente, no ano passado, as secretas e a Polícia Judiciária (internacionalmente reconhecida como uma polícia de investigação de excelência) portuguesas foram condecoradas pelo Papa Francisco, pela eficácia dos seus operacionais durante a visita do Sumo Pontífice a Fátima – sendo que, tirando o SOL eoi, nenhum outro meio de comunicação social deu relevância ao assunto.

A discrição das secretas e da P J – ao contrário de muitas outras instituições no país que temos -faz parte do ADN dos seus profissionais e é uma das razões da suâ eficácia e dos seus resultados de sucesso.

Por isso, é ainda mais absolutamente extraordinário que altos representantes do Estado e altas patentes das Forças Armadas Portuguesas tenham ‘engendrado’, participado ou admitido a fantochada do ‘adiamento’ na Chamusca de armas roubadas dos paióis de Tancos e ‘acharem’ que podiam não sair chamuscados ou que a ‘coisa’ podia ‘passar’ sem ninguém dar por ela.

Desde muito cedo, aliás, se percebeu que tudo o que estava relacionado com Tancos estava ‘mal contado’. A começar pelo próprio roubo.

Face à gravidade do assunto, e mesmo em plena crise do incêndio de Pedrógão Grande, o Presidente da República e comandante Supremo das Forças Armadas convocou de emergência o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro para reunião ao mais alto nível a fim de analisarem o roubo de armas de guerra e definir a resposta imediata, tanto interna como externa, perante os alarmes que logo soaram na própria NATO (vale a pena recuperar a capa do SOL de 1 de julho de 2017, poucos dias após o assalto).

Ora, em outubro de 2017, três meses depois do roubo e dias após o ‘adiamento’ da Chamusca, Ferro Rodrigues deu uma entrevista à revista Visão em que já dizia que, se o assunto não fosse tão grave, o caso de Tancos até tinha «aspetos altamente cómicos».

Segunda figura do Estado, Ferro Rodrigues nunca chegou a especificar a que ‘aspetos’ se referia. Mas lá que também ele já sabia de muita coisa… Tanto que, na mesma entrevista, já referia que faltava «apurar quem promoveu, realmente, esta situação e quem ganhou com ela».

Pois bem, crê o Ministério Público ter apurado que o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, e o ex-chefe da Casa Militar da Presidência da República, tenente- -general João Cordeiro, estavam a par de toda a famigerada operação de ‘adiamento’ das armas. E que ambos mentiram.

Para quem conhece Azeredo Lopes, é difícil de conceber que tenha trocado informações com segundas Unhas do PS sobre o assunto e, em face de tamanha gravidade do mesmo, tenha escondido essas mesmas informações do seu primeiro-ministro.

Do mesmo modo, tratando-se de um militar de alta patente a quem o Presidente elogiou a «exemplar lealdade e enorme dedicação» no comunicado oficial de aceitação da sua resignação como chefe da Casa Militar, em dezembro de 2017, também não é concebível que o tenente-general João Cordeiro tenha tido, afinal, tamanha deslealdade e incumprimento dos seus mais elementares deveres (no dia em que os militares desrespeitarem ashierarquias…)para com o Comandante Supremo das Forças Armadas… a quem servia.

Confrontado em Nova Iorque com os novos dados do caso Tancos, Marcelo voltou a reafirmar que a Justiça deve levar a investigação «até às últimas consequências e doa a quem doer» e afiançou que «o Presidente não é criminoso».

Ora, isso não está em causa. Até porque o MP não procedeu criminalmente contra o ex-chefe da Casa Civil do Presidente da República, uma vez que os crimes que este poderia ter cometido, porque puníveis com pena de prisão não superior a três anos, não admitiam a produção de prova pelos meios de que o MP dispõe nos autos.

Estamos, pois, esclarecidos.

E, ao contrário de Ferro Rodrigues, sem achar piada alguma ao que quer que seja neste caso gravíssimo de Tancos.

Só fica uma dúvida: sabendo-se num país de bufos, por que razão os abafadores não se lembraram do segredo de Estado?

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AS CONSPIRAÇÕES E A FARSA

AS CONSPIRAÇÕES E A FARSA

Carlos Diogo Santos

Felícia Cabrita

Acusação diz que ex-mimstro sabia do plano da investigação ilegal e da insatisfação da PJM com a PGR. Foi-lhe pedida ajuda para um parecer.

Após o furto de Tancos, foram vários os encontros entre o diretor-gerai da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, e o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes. Segundo a acusação, a que o SOL teve acesso, por mais do que uma vez os dois reuniram-se em casa do então ministro durante o período da investigação paralela da PJM e da GNR. E ainda houve uma outra reunião.

Paira os procuradores do Departamento Central de Investigação e Acão Penal (DCMP) ficou claro que Azeredo foi sendo informado dos trabalhos da PJM e nada fez.

Após visitas a casa do ex-governante, a 4 de agosto de 2017 Luis Vieira vai ao Ministério da Defesa Nacional para ser recebido por Azeredo Lopes, contando-lhe o que se estava a passar com a investigação, nomeadamente que a GNR de Louié lhes estava a passar informações sobre o homem que tinha roubado as armas. O MP explica mesmo que Azeredo não era apenas «um muro de lamentações» e que, por isso, foi tendo conhecimento dos factos.

Nessa conversa, o diretor da PJM terá mesmo falado num parecer que fora pedido a Rui Pereira para justificar que deveriam ser a sua polícia a investigar e não a PJ (como determinado pela PGR) e ainda sobre a cooperação da GNR e das contrapartidas exigidas por João Paulino – o líder do grupo que assaltou os paióis. Nessa reunião, Vieira entregou um memorando com o timbre da PJM, uma fita do tempo e cópia de um despacho do MP, sobre a delegação de competêncías na Unidade Nacional Contra Terrorismo, que estava em segredo de Justiça.

Apesar de se tratar de uma reunião no Ministério, nem os documentos nem o encontro ficaram formalmente registados.

O MP considera que foi nesse momento que Azeredo deu a sua concordância, passando assim o plano a ser também seu. O ex-ministro, segundo a acusação, «ficou ciente de que elementos da PJM, com a conivência do seu diretor- -geral, com apoio de alguns militares da GNR e, também, com conivência de Oficiais da GNR, pretendiam fazer uma investigação paralela, à revelia da PJ e do Ministério Público; e ficou ciente de que pretendiam encetar negociações com um indivíduo ligado ao assalto para entrega do material militar».

O documento acrescenta: «Azeredo Lopes não deu conhecimento desses factos à Procuradoria- -Geral da República. Azeredo Lopes não deu conhecimento desses factos à Polícia Judiciária. Azeredo Lopes aceitou os mesmos. Sendo certo que podia e devia ter-lhes posto fim, opondo-se, desde logo, quando Lufe Vieira o informou».

As primeiras conversas com Azeredo Lopes

A 28 de junho o diretor geral da Polícia Judiciária Militar bateu com o nariz na porta de casa de Azeredo Lopes, cerca das 21h49, para o por a par do assalto do ano – talvez dos últimos anos – o filme estava ainda a começar. O ministro estava em Bruxelas, na reunião dos ministros da Defesa da NATO, e, por isso, não recebeu o amigo como de costume. Luís Vieira queria contar-lhe o cenário com que a sua polícia se tinha deparado horas antes em Tancos.

O caso preocupava já os bastidores da política e da Justiça, tanto que no dia 30 a Unidade de Coordenação Antiterrorismo (UCAT) viria logo a reunir de urgência excecionalmente com a então procuradora-geraldaRepública, JoanaMarques Vidal Nessa altura, a PJM estava a investigar o roubo – incluindo com contactos com a GNR de Loulé – e a Unidade Nacional Contra Terrorismo da PJ estava já a analisar a denúncia feita por Paulo Lemos, o Fechaduras. A PJ seguia as pistas deste homem, que havia desistido de participar no assalto e entregou o plano ao DIAP do Porto antes do assalto, aPJM tentava também em paralelo seguir essa linha. Quando a PJM soube que a PJ ia ao Algarve falar com este informador quis ir, mas o pedido foi negado pelo pelo então diretor da Unidade de Combate ao Terrorismo (UNCT) da PJ, o que começou por irritar o diretor da PJM. Começava a guerra.

Ainda no dia 30, o chefe de gabinete de Azeredo Lopes, Martins Pereira, foi a casa do ministro, tendo sido feita uma ligação para Luis Vieira, que jã não andava contente com o curso dos trabalhos. Ao mesmo tempo, o major Vasco Brazão, homem da sua confiança dentro daquela polícia e com um ascendente sobre si, tentava nas suas ferias úitrometer-se no trabalho do seu colega Bengalinha (que assumira a investigação oficial da PJM no início), tanto que este chegou a desconfiar que só queria tirar nabos da púcara.

Entre os investigadores da PJM já circulavam bocas ao trabalho da PJ. Depois da negativa para ir ao Algarve, e na sequência das trocas de informações entre o investigador Lage de Carvalho e Pinto da. Costa (ambos do pólo do Porto da PJM), há mesmo escárnio do trabalho da Judiciária civil: Lage De Carvalho terminou um emaíl para Pinto da Costa com informações que recebera sobre Fechaduras dizendo: «Resta-nos esperar pela evolução da investigação do Sr. Doutor, aquele da PJ civiL mas acho que ainda nos vamos rir.. . infelizmente, parece-me que ainda vai acontecer outro ‘Pedro Dias’… que nós sabíamos onde ele ia passar e… passou… :>>.

A inspecão de Azeredo e a Irritação do diretor da PJM

A 2 de julho, Azeredo Lopes determinou a abertura de uma inspeção extraordinária por parte da Inspecão Geral da Defesa sobre o armazenamento de material e segurança de instalação. E no dia seguinte, houve uma reunião entre procuradores, o diretor da UNCT da PJ, dois inspetores desta polícia, Manuel Estalagem e João Bengalinha (ambos da PJM), na qual se definiu que o caso ia manter-senas mãos da PJequèa PJM apenas poderia colaborar.

Foi a gota de água para Luis Vieira, que a partir daí começa a tentar o tudo por tudo para reverter esta decisão, sem sequer autorizar o laboratório da PJ a repetir as perícias no local do crime.

Logo após essa recusa, Lufe Vieira recebeu uma chamada de Joana Marques Vidal. A conversa foi tensa e tinha o objetivo de sensibffizá- -lo paraanecessidadederespeitar a decisão do MP e desse modo colaborar com a PJ. Segundo a acusação, Luis Vieira teve uma reação ‘desabrida’comaentão PGR, dizendo discordar do decidido, uma vez que revelava uma clara incompreensão sobre os normativos processuais penais relativos à investigação criminal, à entidade competente para dirigir e para exercer a ação penai

A nova visita a casa de Azeredo e a ida de Marcelo a Tancos

Segundo a acusação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, Luis Vieira sentia-se humilhado pelo fracasso da sua polícia em casos como o do furto de armas na base do Alfeite e no quartel da Carregueira, ambos em 2011.

Os investigadores salientam ainda que a acusação de 19 arguidos no caso das mortes nos Comandos também o tinham deitado abaixo, dado que pertencia às tropas especiais dos Comandos. É nesse contexto, defende a acusação, que vê como tábua de salvação pessoal e da ‘sua polícia’ conseguir a investigação deste caso, nem que para isso tivesse de mover mundos e fundos. Como aconteceu.

No dia 3 de junho, depois da conversa com Marques Vidal, Luis Vieira volta a casa de Azeredo Lopes, em Lisboa, para pedir ajuda e mostrar o seu desagrado com o facto de crimes que considera serem estritamente militares estarem a ser investigados pela Judiciária civil, a conversa tem contornos ainda mais especiais, dado que no dia seguinte ambos estão juntos com o Presidente da República na visita do chefe de Estado a Tancos. Nessa visita, quem está presente da investigação, explica a acusação, são apenas elementos da PJM quevão vestidos a rigor com o colete da PJM por determinação de Vieira. Na visita estiveram ainda o chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, o então chefe da casa militar de Marcelo Rebelo de Sousa, Azeredo e o seu chefe de gabinete. E se na parte pública nada mais se viu do que a exibição da PJM fardada a rigor, já na reunião privada Luis Vieira não se inibiu de mostrar o seu descontentamento e tentar reverter a decisão da PGR.

«Dissertou sobre a natureza estritamente militar dos crimes indiciados no processo de Tancos; deu conhecimento da decisão do Ministério Público de retirada da competência para a investigação à PJM; considerou que a decisão da procuradora-geral da República tinha desrespeitado o Código de Justiça Militar; informou que a PJ já sabia, desde Março, da possibilidade de um furto de granadas, no raio de 50 km de Leiria, pois tinha recebido uma denúncia anónima; e deu conta da esperança que tinha na reversão da decisão de atribuir a investigação à PJ», refere a acusação.

A decisão nunca foi revertida, mas não foi por falta de tentativas por parte de Luis Vieira nos dias seguintes, inclusive com diversas comunicações junto do chefe da casa militar de Marcelo, para perceber se as suas palavras tinham surtido efeito.

Nova visita à casa de Azeredo com um pedido especial

Segundo o MP, o então ministro ia acompanhando tudo através do diretor geral da PJM. E a 27 de julho uma nova visita, às 19h53, a casa do governante vem reforçar as suspeitas do MP. Desta vez vai também o chefe de gabinete de Azeredo Lopes. Luis Vieira pretende que o ministro o ajude a encontrar um professor de Direito, seu colega, que faça um parecer jurídico sobre as competências de crimes como o de Tancos.

Por esta altura, o líder do assalto a Tancos já suspeitava de que o Fechaduras pudesse estar a denunciá-lo à PJ e decide que é altura de tentar controlar danos maiores.

João Paulino chega a encontrar-se com o homem que escolheu para lhe ensinar a arrombar fechaduras e as suas suspeitas não pararam.

Cresciam a cada notícia de jornal e sentia-se cada vez mais encurralado. É por essa altura, diz a acusação, que o GNR Bruno Ataíde começa a ligar os pedidos de informações sobre o Fechaduras feitos pela PJM e o assalto de Tancos e diz ao seu superior que há alguém que talvez possa ajudar – Fernando Guimarães (Nando). Nando vivia com Paulo Lemos e havia estudado na juventude em Albufeira com Bruno Ataíde e João Paulino.

Paulino estava cada vez mais cercado e decidiu aproveitar a ponte de Bruno Ataíde, GNR seu amigo, com as autoridades. Aceitava entregar o material roubado que não conseguisse escoar desde que nada lhe acontecesse nem ao grupo que liderou no assalto.

Confidenciou mesmo a Ataíde ter sido ele e não Fechaduras a cabeça por detrás do assalto.

0 aviso de setembro ao chefe de gabinete de Azeredo

Segundo a acusação, já com o conhecimento de todos, incluindo da hierarquia da GNR, o plano vai avançando. A 26 de setembro, os arguidos Vasco Brazão, Pinto da Costa, Lage de Carvalho e José Manuel Gonçalves fizeram pelas 20h o reconhecimento do local onde Paulino havia escondido as armas, em Tomar. E poucos dias depois, numa conversa entre Luis Vieira e o chefe de gabinete de Azeredo Lopes, é referido que de um momento para o outro tudo ficará resolvido e que chegariam às armas, numa clara alusão à investigação paralela.

Tanto assim foi que no dia 28 de setembro, Martins Pereira, chefe de gabinete de Azeredo, disse ao vice-chefe do Estado Maior, Fernando Serafino, que a PJM andava em cima dos suspeitos e que era possível um desfecho em breve do caso. Mais, referia que poderia ser preciso um apoio do Exército. Azeredo Lopes deu nessa altura indicações ao chefe de gabinete para alertar igualmente o CEME para a necessidade de uma Equipa de Inativação de Explosivos (EOD) do Exército ter de agir de um momento para o outro.

Rovisco Duarte confirmou que as equipas estariam prontas com “um nível de prontidão de duas horas”, informação que Martins Pereira passa depois a Azeredo Lopes.

O plano liderado pela PJM estava em marcha e foi escolhido o dia 18 de outubro para que o adiamento fosse feito sem denunciar ninguém. Foram inclusivamente estudadas ao pormenor as cabines telefónicas públicas de modo a que quem fizesse a chamada também não fosse identificado mais tarde.

Os contactos entre todos os envolvidos nesta trama também se intensificaram nesta altura.

0 dia D, do ‘Adiamento’

Nas horas anteriores à ‘descoberta’ das armas de guerra, a PJ Militar pede à sua Unidade de Apoio Técnico e Administrativo a preparação de uma carrinha sem bancos de trás, o que para a acusação demonstra que sabiam o que iam fazer. Aliás, na véspera do adiamento, às 16h43 de 17 de outubro de 2017, Pinto da Costa, Lage de Carvalho, Lima Santos, Bruno Ataíde e José Manuel Gonçalves foram à Chamusca nessa Mercedes Vito para fazer o reconhecimentos do local onde iriam ser colocadas as armas para serem ‘encontradas’ por eles horas mais tarde.

Foi com essa Mercedes Vito da PJM que Bruno Ataíde e Lima Santos (militares da GNR) foram buscar as armas a Tomar e colocá-las no local onde viria mais tarde a ser encontradas. Às 2h38 do dia 18, sem muitos desvios ao planeado, a Mercedes Vito chega à Chamusca e deposita o armamento bélico, que vem dentro de caixas. Segundo a acusação, Paulino e Laranginha não entregaram todo o material furtado, nomeadamente 1450 munições 9mm, um disparador de compressão, duas granadas de gás lacrimogéneo, três granadas ofensivas, entre outras armas. ‘

Depois um elemento da PJM, José Costa, ligou de uma cabine em Alcochete com a voz disfarçada a fazer a denúncia e Vasco Brazão recebeu-a na central da PJM.

A partir daí foram para o local os elementos que estavam feitos com a farsa e as perícias realizadas por Nuno Reboleira, diz a acusação, foram mal feitas de propósito para que nunca se chegasse à identidade de quem tinha depositado ali as armas. Tudo foi feito sem o conhecimento da PJ e do MP, o que perplexos os titulares da investigação formal.

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A alegoria de Azeredo

OLHAR DA CAMPANHA

A alegoria de Azeredo
Carlos Rodrigues

Estes últimos dois anos foram de grande aprendizagem moral para Azeredo Lopes. Hoje em dia já não se atreve a dizer que, no limite, pode nem haver acusação nenhuma, como disse, há dois ano…

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A alegoria de Azeredo

OLHAR DA CAMPANHA

A alegoria de Azeredo
Carlos Rodrigues

Estes últimos dois anos foram de grande aprendizagem moral para Azeredo Lopes. Hoje em dia já não se atreve a dizer que, no limite, pode nem haver acusação nenhuma, como disse, há dois ano…

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