Programa do Congresso de Bruxelas

(12 e 13 de Dezembro de 1997)

“A Justiça Obstruída – Corrupção e criminalidade económica internacional”

Organização
MEDEL com a colaboração de magistrados subscritores do Apelo de Genève e a assistência da Associação Sindical de Magistrados belga (ASM). Apoio da União Europeia (Programa Grotius) e do Institut de la Caisse des Dépôts et Consignations pour la Recherche Scientifique, Economique, Financière et Sociale de Paris.

Sumário
Os interesses que abalam a maior parte das nações são a parte emergente de um imenso iceberg.

O crime organizado está solidamente infiltrado no sistema económico. A abertura dos mercados, o declínio do Estado-Providência, as privatizações, a desregulamentação da finança e do comércio internacional, a aceleração extraordinária da informação e a sua ubiquidade favorecem o crescimento e a eficácia das actividades ilícitas assim como a internacionalização de economias ilegais paralelas.

O produto das actividades criminosas penetra a rede bancária. A banca comercial empresta ou investe estes depósitos na economia, lícita ou ilícita. O “dinheiro sujo” é geralmente canalizado para os mercados financeiros através de investimentos ou especulações aparentemente respeitáveis. Em diversos países as organizações criminosas são credoras do Estado; pela sua acção sobre os mercados influenciam as políticas macroeconómicas dos Governos. Personalidades e grupos políticos, funcionários e empresas beneficiam de forma muito próxima dos circuitos da corrupção.

Perante a criminalidade financeira de ramificações internacionais, os magistrados vêem-se presos a processos arcaicos e intermináveis. As investigações param à porta dos bancos ou à dos paraísos fiscais. Os vestígios da “soberania nacional” travam-nos nas fronteiras ultrapassadas pelo capital.

Em 1996 sete magistrados europeus decidirão dizer “não”. Lançaram um apelo aos Governos e aos Parlamentos da Europa: o Apelo de Genève. Tal apelo teve grande repercussão não apenas entre os magistrados mas também nos diversos fóruns políticos e, em particular, no seio do Parlamento Europeu. O Apelo de Genève deveria encontrar seguimento:

– No diálogo com maior número de magistrados e provenientes de outras regiões do mundo;

– No aprofundamento dos temas e das experiências;

– E na formulação de recomendações mais completas e precisas a submeter à apreciação dos legisladores.
Em Bruxelas, a 12 e 13 de Dezembro de 1997, reunir-se-ão magistrados para tal efeito com outros especialistas e profissionais da justiça.

Estão conscientes de que sobre estas questões podem jogar-se o futuro da democracia e a existência do princípio da igualdade de todos os cidadãos perante a lei, elemento essencial daquela.

Programa

Sexta-Feira 12 de Dezembro de 1997

8.45 – Acolhimento dos participantes
9.15 – Alocução de boas vindas
9.45 – Introdução geral

A luta internacional contra a corrupção
O crime organizado e o dinheiro sujo

por Pino Arlacchi, secretário geral adjunto da Organização das Nações Unidas, director da delegação da ONU em Viena encarregada da luta contra as organizações criminosas.

A dialéctica entre crime organizado e corrupção. A posição, as tarefas e os meios dos magistrados na luta contra estes fenómenos.

10.45 – Pausa
11.00 – As razões do Apelo de Genève

por Renaud Van Ruymbeke, conselheiro no Tribunal de Apelação de Rennes

11.30 – Apresentação dos ateliers
por Bernard Bertossa, procurador-geral de Genève

12.30 – Comunicações à Imprensa
12.45 – Buffet
14.30 – Ateliers de discussão

Atelier 1

As criminalidades organizadas

Aproximação económica e criminológica às estratégias em curso a nível mundial e europeu. Evolução. Efeitos sociais. Papel dos poderes públicos, das empresas e do capital internacional. Estudo de caso. Necessidade de um “Observatório” internacional..?

Presidente

Alberto Perduca, magistrado do Ministério Público em Turim, destacado na UCLAF (Unidade de Coordenação da Luta Anti-fraude, Comissão Europeia)

Moderador

Jean de Maillard, juiz do Tribunal de Grande Instância de Blois

Atelier 2

A harmonização das incriminações

Branqueamento, corrupção, fraude fiscal, participação em associações criminosas: um olhar à luz dos direitos nacionais e do direito internacional. Perspectivas. Quais os comportamentos a incriminar? Criar uma nova incriminação da fraude fiscal? Uma tentativa de harmonização: o Corpus Juris contendo disposições penais para protecção dos interesses financeiros da União Europeia. As negociações no seio do Conselho da Europa e da OCDE referentes à luta contra a corrupção, etc.

Presidente

Benoît Dejemeppe, procurador do Rei em Bruxelas

Moderadora

Tereza Beleza, professora de direito penal na Faculdade de Direito de Lisboa

Atelier 3

A cooperação internacional

Cooperação judiciária e processos. Como utilizar, melhorar e ultrapassar os meios existentes. A admissibilidade das provas recolhidas em sistemas diferentes. Competência internacional e supressão da dupla incriminação. Estruturas de ligação: “magistrados nacionais”, “magistrados de ligação”, “magistrados itinerantes”…

Presidente

Bernard Bertossa, procurador-geral em Genève

Moderadora

Marie-Anne Swartenbroekx, substituta do auditor junto do tribunal de trabalho de Mons

Atelier 4

O papel do magistrado, o seu estatuto, os seus assistentes: aspectos institucionais

Independência dos actores e das instituições? Que estatuto para o Ministério Público? As relações entre magistrados. As estruturas policiais internacionais (Europol, Interpol), sua supervisão e controle. A regulação pelas “autoridades administrativas independentes” e as suas relações com os tribunais

Presidente

Edmondo Bruti Liberati, substituto do procurador-geral em Milão, ex-membro do Conselho Superior da Magistratura

Moderadora

Anne Crenier, juiz em Creteil

Sábado, 13 de Dezembro de 1997

9.00 – Trabalho em atelier

Discussão e adopção de projectos de conclusões e de recomendações

10.15 – Pausa
10.30 – Discussão geral e adopção das conclusões

Presidente

Teresa Romer, juiz no Supremo Tribunal de Justiça da polónia e vice-presidente da MEDEL

12.00 – Sessão de encerramento

Conclusões e agradecimentos

por Orlando Afonso Viegas Martins, juiz em Évora e presidente da MEDEL

13.45 – Buffet
14.30 – Conferência de imprensa