JUSTIÇA IMPERFEITA
SÁBADO, 19-02-2019 por António Ventinhas
O que se passa no futebol português deve merecer uma séria reflexão. Os estádios de futebol tornaram-se verdadeiras máquinas de triturar jogadores, treinadores e equipas de arbitragem.
A razão pela qual tais factos assumiram uma especial relevância prendem-se com o seu conteúdo racista.
O que se passa no futebol português deve merecer uma séria reflexão.
Os estádios de futebol tornaram-se verdadeiras máquinas de triturar jogadores, treinadores e equipas de arbitragem.
Os árbitros e toda a família destes são insultados durante 90 minutos de jogo.
Há muitas pessoas que se deslocam aos estádios para destilar os seus ódios e frustrações e descarregar nos intervenientes do espectáculo.
Alguns adeptos passam o jogo todo aos gritos para dentro do campo, a insultar diversas pessoas.
Tudo o que possa ser utilizado para irritar e desconcentrar os jogadores da equipa adversária é utilizado.
Este clima impera igualmente em certos programas de televisão, onde os comentadores quase chegam a vias de facto.
O ataque à Academia de Alcochete é um exemplo claro onde chegou o fanatismo e a violência. Infelizmente, não se tratou de um episódio isolado.
Ainda há bem pouco tempo um elemento da direcção do Sporting Clube de Portugal foi agredido e a sua filha de 16 anos de idade atingida com cuspo.
As assembleias gerais dos clubes necessitam de medidas especiais de segurança, atenta a elevada animosidade que ali existe.
As agressões entre membros das claques são uma realidade bem frequente.
Algumas claques de futebol deixaram de se centrar no apoio aos seus clubes e deslocaram o seu foco para práticas ilícitas, incompatíveis com o espírito do desporto.
O julgamento do processo de Alcochete decorre em Monsanto, tribunal de alta-segurança construído para julgar crimes de terrorismo.
Nesse processo muitas testemunhas pediram para efectuar o seu depoimento por teleconferência, por não se sentirem seguras no tribunal.
Num Sábado à tarde desloquei-me de Lisboa para o Algarve, parei numa estação de serviço e verifiquei que a mesma estava fechada e o atendimento só era efectuado através de uma janela de segurança. Intrigado com o que se estava a passar, questionei o funcionário da gasolineira que me explicou que estavam à espera que uma famosa claque passasse e tinham fechado o estabelecimento por razões de segurança.
Este episódio é bem elucidativo. A violência no futebol é um assunto de ordem pública e o Governo e os agentes desportivos têm de tomar medidas, como aconteceu noutros países.
Neste contexto é de louvar a conduta do presidente do Sporting Clube de Portugal.
O espírito das primeiras claques de futebol que surgiram em Portugal acrescentaram brilho ao espectáculo do futebol; as actuais, em muitos casos, estão a prejudicá-lo.
O Ministério Público está a obter formação nesta área e a trabalhar de perto com as entidades desportivas para melhor compreender e combater o fenómeno.