
SÁBADO, 07-11-2023 por Paulo Lona, Secretário-Geral do SMMP
Continua a faltar o essencial, isto é o real, sério e efetivo investimento nos meios humanos e materiais necessários, sem o qual tudo o resto é escasso e insuficiente.
Recentemente, em entrevista a um jornal, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça alertou para o facto de a corrupção estar instalada em Portugal, pedindo medidas para a combater. Mostrou-se convicto que essa ideia não era uma simples percepção, mas sim uma certeza, revelando-se preocupado com o aumento de casos de corrupção em especial da administração publica.
Em tempos escrevi aqui um artigo sobre a corrupção, como fenómeno social e criminal, com o subtítulo “O que falta? o que falha? O que pode/deve ser feito?”, mostrando-se esta uma boa ocasião para o revisitar.
Nessa data, 22 de junho de 2021, referia as 50 medidas para combater a corrupção apresentadas, na fase de debate público da estratégia nacional para a corrupção, pelo Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, destacando a necessidade de:
– Dotar o Ministério Público de magistrados e funcionários em número suficiente com formação específica em investigação criminal;
– Reforçar os vários departamentos da Polícia Judiciária, bem como seu laboratório científico, com inspetores, peritos, técnicos e especialistas;
– Apetrechar o laboratório da Polícia Judiciária de meios técnicos/científicos que permitam a realização de perícias no mais curto espaço de tempo possível;
– Aumentar o número de magistrados nos Tribunais Administrativos e Fiscais de forma a garantir a celeridade em decisões com impacto económico-financeiro;
– Concretizar a colocação de assessores junto dos magistrados (peritos informáticos, analistas de sistemas, economistas, técnicos de contas e contabilistas) em cumprimento do previsto nos respetivos Estatutos e na Lei da Organização do Sistema Judiciário;
– Dotar o Núcleo de Assessoria Técnica junto da Procuradoria-Geral da República de meios humanos capazes de dar resposta às solicitações de todo o país;
– Equipar os DIAP´s (Departamentos de Investigação e Ação Penal) com software atualizado, com acesso a plataformas de pesquisa e de cruzamento de dados;
– Criar um corpo de funcionários especializados em investigação criminal, com remuneração adequada;
– Investir na formação contínua de magistrados, investigadores e funcionários em temas relacionados com a criminalidade económico-financeira, fomentando-se a partilha de informação e de experiências com outras entidades nacionais e estrangeiras.
E, decorridos mais de dois anos, o que foi feito?
Os magistrados e funcionários com formação específica em investigação criminal continuam a ser insuficientes, situação que se irá seguramente agravar se avançar a proposta de estatuto do executivo para os oficiais de justiça (que ignora por completo as especificidades do Ministério Público). Muito menos se avançou com a criação do proposto corpo de funcionários especializados em investigação criminal, com remuneração adequada.
O número de magistrados do Ministério Público que efetivamente prestam serviço nos Tribunais Administrativos e Fiscais não tem aumentado, pelo contrário tem vindo a diminuir.
Continua por concretizar a colocação de assessores junto dos magistrados (peritos informáticos, analistas de sistemas, economistas, técnicos de contas e contabilistas) em cumprimento do previsto nos respetivos Estatutos e na Lei da Organização do Sistema Judiciário.
Do mesmo modo, o Núcleo de Assessoria Técnica junto da Procuradoria-Geral da República continua sem ser dotado dos meios humanos que o capacitem para dar resposta às solicitações de todo o país e os DIAP´s (Departamentos de Investigação e Ação Penal) continuam sem acesso a plataformas informáticas de pesquisa e cruzamento de dados.
O investimento na formação contínua de magistrados, investigadores e funcionários em temas relacionados com a criminalidade económico-financeira continua por fazer.
Existiu um reforço dos meios ao dispor da Polícia Judiciária e respetivo laboratório, mas ainda insuficiente.
Em conclusão, continua a faltar o essencial, isto é o real, sério e efetivo investimento nos meios humanos e materiais necessários, sem o qual tudo o resto é escasso e insuficiente.
Nunca é demais recordar que a melhoria da celeridade e eficácia da resposta à corrupção é essencial para a credibilidade do próprio sistema de Justiça e, por essa via, para a afirmação de um verdadeiro Estado de Direito.