Que viva a esperança!

Revista Visão
Miguel Figueiredo Rodrigues
Vogal da Direcção Nacional do SMMP
No dia 21 de abril de 2025 morreu um grande humanista. Esta nossa coletividade mundial, independentemente de qualquer crença religiosa, convicção política, latitude ou longitude, fez-lhe uma justa homenagem.
A Justiça esteve sempre no seu discurso.
Por um lado, a justiça social, defendendo uma sociedade em que a verdade se sobreponha à mentira, a justiça se sobreponha à injustiça, prevalecendo o bem de todos sobre o interesse de alguns.
Por outro, ao nível da justiça penal, criticou as sentenças cada vez mais severas, quase num auto de vingança e retribuição do mal causado, em que a resposta é um novo mal em que ninguém ganha.
Falou ainda das sentenças muito severas ou novas legislações focadas numa solução simples como aumentar as penas de prisão, evidenciando que temos igualmente de nos focar nos problemas sociais que podem interferir na perpetuação de fenómenos criminógenos. Vem-me sempre à mão o exemplo de que o dia mais lucrativo para um carteirista na idade média era quando um “colega de profissão” era morto em cerimónia pública, porque quem assistia estava mais focado naquele evento.
Ao nível do direito penitenciário, o mesmo enfatizou a necessidade de que o sistema de justiça ofereça esperança a quem foi condenado em prisão efetiva por ter cometido crime(s). E sobretudo, que o sistema penitenciário continue a investir na sua função de reabilitação, para que quem de lá sai não seja reincidente (e ainda com mais conhecimentos e um potencial para ser mais eficaz a cometer crimes).
No Vaticano efetuou reformas no Código Penal, para incluir definições expressas quanto aos crimes sexuais e alinhá-los com padrões internacionais. Mas mais que meras leis, defendeu uma política de tolerância zero em relação a abusos sexuais e pediu perdão público por crimes cometidos por alguns dos seus membros.
Como todos, enfrentou muitas críticas, desde logo pela lentidão das reformas que foi fazendo. Mas a sua visão de uma justiça para o outro, humanizadora e reconciliatória, é algo que creio que toca qualquer um, independentemente das suas crenças.
Ao longo dos séculos, religiões como o cristianismo, hinduísmo zoroastrismo, bem como a mitologia grega e diversas conceções desde a filosofia platónica ao iluminismo, passando por estórias infantis universais, cinema e literatura moderna, bem como a moderna psicologia, têm refletido longamente sobre um tema essencial: a esperança na vitória do bem sobre o mal.
Que essa esperança não nos abandone.
E já se sabe: “Ir a Roma e não ver o Papa” é um ditado que existe também noutras línguas, mas com um sentido universal: significa perder uma oportunidade importante ou não aproveitar ao máximo uma situação. Que todos saibamos estar à altura dos nossos desafios.