TSF, 01 Dezembro, 2019 • 09:51
O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público vai fazer um levantamento para denunciar casos em que os superiores hierárquicos interferem na condução de processos criminais, mandando arquivar ou constituir alguém como arguido, disse à Lusa o presidente do sindicato.
A decisão de fazer este levantamento foi tomada numa reunião de delegados sindicais que decorre sábado e domingo em Óbidos e que, segundo António Ventinhas, foi a questão principal do dia.
Os sindicalistas decidiram ser necessário “fazer um levantamento de todas as situações” que consideram estar “a violar o estatuto do Ministério Público” e que são “ordens ilegais”, afirmou.
Apesar de não ter querido avançar com nenhum caso concreto, António Ventinhas garantiu que há interferências nos processos.
“Temos conhecimento de que existem ordens dadas pelos superiores hierárquicos para produzirem efeitos concretos em processos. Nós entendemos que essas ordens são ilegais”, disse.
“Também sabemos que são dadas ordens, quer por escrito quer, muitas vezes, oralmente, para alterar acusações ou para arquivar processos ou para não pedir absolvições em determinado processo”, explicou.
Lembrando que “o superior hierárquico tem poderes de organização do serviço e de definição das grandes linhas”, o sindicalista sublinhou que “é o titular do processo que deve fazer a condução do inquérito e não o superior hierárquico”.
A questão, considerou, “é muito mais do que uma questão sindical, é uma questão que tem a ver com a credibilidade da própria justiça e do próprio condicionamento da atividade” do juiz.
“Se houver um condicionamento do Ministério Público, também a própria atividade judicial fica condicionada”, assegurou.
De acordo com António Ventinhas, o sindicato também quer apoiar os magistrados sujeitos a “interferências ilegais”, pelo que vai “patrociná-los para reagir a essas ordens ilegais”.
Por outro lado, os delegados hoje reunidos decidiram também “promover eventos, designadamente conferências e estudos, no sentido de defender esta questão interna dos magistrados do Ministério Público”.