Comunicar!… mas comunicar bem!

Revista Visão
Pedro Nunes
Procurador da República, Presidente da Regional de Coimbra do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público
Se a comunicação for difusa e pouco assertiva, pode gerar conflitos interpessoais, confundindo-se com notícias que não correspondem às necessidades individuais e coletivas. É inegável, e temos vindo a defendê-lo em vários fóruns, a Procuradoria-Geral da República precisa de comunicar mais e melhor
Nunca como hoje, no universo da Justiça, se falou tanto na necessidade de comunicar.
A própria comunicação, ou a falta dela, tornou-se mediática.
Provavelmente não pelo conteúdo ou dever de informar, mas pelo mediatismo de não comunicar.
Embora o estudo do fenómeno da comunicação nas organizações, em certo sentido, date da antiguidade, os investigadores tendem a localizar a sua génese, como campo académico identificável, entre 1940 e 1950.
O conceito comporta consigo diversas abordagens teóricas, engloba todas as formas de comunicação possíveis de existir numa organização, para que possa interagir com os seus públicos internos e externos e seja responsável pela gestão de comportamentos e ações dirigidos a esses mesmos públicos, isto é, feita de uma maneira eficaz e capaz de gerar resultados.
A comunicação organizacional é uma componente fundamental para a eficiência e eficácia das organizações, sendo que a eficácia é considerada a capacidade de um indivíduo para produzir resultados responsavelmente e a eficiência corresponde à capacidade potencial que os sistemas têm para produzir resultados.
Aqui aportados, é evidente que se impõe uma análise ao método de comunicação adotado pela Procuradoria-Geral da República.
Se por um lado, há ainda, interna e externamente, quem defenda que a forma mais eficaz de comunicar do Ministério Público se traduz na qualidade das investigações e na realização da Justiça.
Não discordamos em absoluto.
Por outro lado, muitos outros defendem uma comunicação mais atual, moderna e dinâmica, que leve ao cidadão toda a informação que lhe permita formar um juízo crítico e lhe possibilite escrutinar, de forma clara e esclarecida, a atuação do Ministério Público nas suas mais variadas intervenções: a proteção de adultos e incapazes, através do instituto do Maior Acompanhado; a proteção das crianças e jovens em perigo, através de mecanismos de promoção dos direitos de crianças e jovens; o patrocínio e defesa dos trabalhadores; e naquela que é mais visível, o crime.
Sucede que, resultante de dois ou três processos, cujos intervenientes são figuras públicas, surgiram no palco mediático posições extremadas vindas de agentes externos, cuja finalidade é, ao que parece, descaracterizar e denegrir a imagem do Ministério Público, e assim abalar a credibilidade das concretas investigações.
Ergueram-se no espaço público os habituais comentadores, uns mais acertados, outros completamente ineptos, sem qualquer sustentação argumentativa.
Mas a questão central continua a ser a Comunicação.
Segundo Stephen P. Robbins a comunicação possui quatro funções básicas no seio de uma organização ou de um grupo: Controlo – Motivação – Expressão emocional – Informação.
A comunicação surge assim, como uma ferramenta essencial para a performance global de uma organização, daí a importância de investir nesta, de forma eficiente, com o propósito de facilitar toda a gestão organizacional.
É também necessário evitar a distorção da informação, designadamente através de garantias de objetividade, responsabilidade e qualidade, criando um plano de comunicação estratégica, que auxilie no alcance de resultados e cumprimento de objetivos. Se a comunicação for difusa e pouco assertiva, pode gerar conflitos interpessoais, confundindo-se com notícias que não correspondem às necessidades individuais e coletivas.
É inegável, e temos vindo a defendê-lo em vários fóruns, a Procuradoria-Geral da República precisa de comunicar mais e melhor.
A Procuradoria-Geral da República, na sua ação comunicativa, deverá interagir com os seus públicos, interno (os Magistrados) e externo (o Cidadão), de forma responsável através da gestão de comportamentos e ações que lhes sejam dirigidos, sempre com objetividade e assertividade.
Como mencionou Paulo Lona, Presidente do SMMP, no seu discurso de tomada de posse, referindo-se ao perfil do novo PGR: “(…) será natural que a escolha recaia sobre um magistrado do Ministério Público, que se encontre em exercício de funções, com grande experiência, capacidade de diálogo, capacidade de mobilização e experiência na comunicação interna e externa.”
Concluindo: comunicar é natural… comunicar bem é essencial!