EXCLUSIVO MP FEZ BUSCAS E APREENDEU €800 MIL A RUSSA EX-VICE-PRESIDENTE DO GAZPROMBANK

BUSCAS A RUSSA DO VISTO GOLD

EXCLUSIVO. O PROCESSO É DIRIGIDO PELO PROCURADOR ROSÁRIO TEIXEIRA

Por António José Vilela

Com Nuno Tiago Pinto

MP e PJ fizeram operação à casa de Lisboa de Yulia Sereda, ex-vice presidente do Gazprombank. Bloquearam-lhe uma transferência de €800 mil e arrombaram-lhe um cofre pessoal no banco.

ODepartamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) ea Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da Polícia Judiciária (PJ) estão a investigar Yulia Aleksandrovna Sereda, uma cidadã russa que em 2016 conseguiu em Portugal uma Autorização de Residência para a Atividade de Investimento (ARI). Na prática, trata-se de um visto gold conseguido, por exemplo, a troco de um investimento mínimo de €500 mil em imobiliário.

Há cerca de duas semanas, as autoridades montaram uma operação-relâmpago de buscas à residência de Yulia Sereda, um apartamento de luxo na Rua Barata Salgueiro, no centro de Lisboa, e também a um banco, a sucursal do BPI no Marquês de Pombal, onde a russa tem alugado um cofre bancário.

Segundo a SÁBADO apurou, uma vez que a antiga vice-presidente do Gazprombank recusou ceder a chave do cofre bancário, o procurador Rosário Teixeira e o juiz de instrução Carlos Alexandre tiveram de convocar um serralheiro para o arrombar, procedendo depois à apreensão de vários documentos e dezenas de milhares de euros. Yulia Sereda não foi constituída arguida, mas é suspeita da prática do crime de branqueamento de capitais.

Uma parte do dinheiro suspeito que intriga o Ministério Público circulou através da Suíça para contas bancárias em Portugal no BPI (onde a russa terá contas abertas desde 2014), acabando por ser bloqueada nos últimos meses uma transferência de €800 mil que Yulia queria usar para finalizar a compra de um apartamento no concelho de Cascais a um cidadão brasileiro. Na realidade, com o bloqueio bancário da transferência, a russa acabou por perder o sinal de €80 mil que já dera ao vendedor do imóvel -o proprietário acordara com Yulia que ia continuar no apartamento como inquilino, tendo assinado uma minuta que constaria como anexo ao contrato de promessa de compra e venda.

Mas porquê tanto interesse das autoridades portuguesas nesta russa que tem dois filhos (estarão atualmente a estudar no estrangelro) e que passou a viver com regularidade em Portugal desde o início da invasão da Ucrânia?

As ligações ao Gazprombank Na página pessoal da rede social Llnkedln, Yulia Sereda identifica-se como vice-presidente executiva (desde julho de 2014) do terceiro maior banco privado russo, uma instituição financeira que consta atualmente nas listas de sanções da comunidade internacional, o Gazprombank (GPD).

O marido

Tendo adquirido a autorização de residência permanente e recentemente a nacionalidade portuguesa, Yulia já não estará a desempenhar qualquer cargo no banco russo fundado em 1990, onde começou a trabalhar em 2004 como chefe do departamento de risco bancário.

Há ainda outro pormenor interessante sobre o currículo pessoal de Yulia Sereda: é casada com o também russo Mikhail Leonidovich Sereda, 50 anos, que desempenhou as funções de ministro da Energia da Rússia antes de entrar também no grupo Gazprom, onde foi vice-presidente do Gazprombank e CEO da Gazprom Export.

Conforme a SÁBADO confirmou, Mikhail Sereda não tem qualquer visto gold português ou sequer consta da lista consolidada de sanções da União Europeia, mas integra as listas congéneres dos EUA e do Canadá. Yulia não integra qualquer destas listas de sanções. No entanto, nos mandados de busca e apreensão passados pelo Ministério Público e pelo juiz de instrução Carlos Alexandre é usado o argumento que consta no Regulamento 833/2014, do Conselho Europeu, que já impunha “medidas restritivas tendo em conta as ações da Rússia que desestabilizam a situação na Ucrânia”.

Esta legislação foi atualizada depois de iniciada a guerra em fevereiro deste ano e os mandados portugueses que visam Yulia Sereda invocam especificamente o ponto 5aB, que refere que é proibido aos países da União Europeia e à Suíça aceitarem depósitos de mais de €100 mil de nacionais (singulares ou coletivos) russos, residentes na Rússia ou entidades detidas, direta ou indiretamente, em mais de 50% por russos ou empresas russas. No entanto, no caso de se tratar de pessoas com autorização de residência temporária ou permanente, a proibição não se aplica. Falta saber o que acontece quando já se é cidadão da União Europeia como Yulia é. O

YULIA SEREDA QUERIA COMPRAR UM IMÓVEL EM CASCAIS, MAS O BANCO TRAVOU A TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA

Apartamentode luxo

Yulia Sereda vive num T3 com dois estacionamentos

O imóvel foi comprado a 26 de novembro de 2019 a um casal de brasileiros por €1,45 milhões, conforme consta na escritura a que a SÁBADO teve acesso. O pagamento foi feito através de uma entrada de €435 mil (a 30/8/19) transferidos de uma conta do Gazprombank. Depois, no ato da escritura, foi usado um cheque, emitido pelo BPI, de €1,015 milhões. Yulia Sereda declarou que vivia em Moscovo e era casada em separação de bens com Mikhail Sereda.

Yulia Sereda casou com Mikhail Sereda, antigo ministro da Energia da Rússia e alto quadro da Gazprom

O

Yulia Sereda, que reside neste prédio de luxo no centro de Lisboa, ainda estava deitada quando a PJ e o MP lhe tocaram à campainha

A República do emaranhado de leis

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O casamento entre as incompatibilidades eos ajustes diretos representa a mais densa das florestas. O potencial destrutivo sobre a credibilidade do regime é brutal. E não está nas…