Todos contra o “empobrecimento quase todos contra a “arrogância”

TEXTO ARTUR CASSIANO

ANO POLÍTICO O que é esperam da governação PS? Nada ou quase nada. Não há um único líder partidário, da esquerda à direita, que acredite em “reformas necessárias” ou numa “mudança” de rumo. No DN, a análise dos sete líderes da oposição.

O que espera a oposição da governação de António Costa? Poucochinho. Ninguém confia nem acredita que Costa retire os portugueses do “caminho para o empobrecimento”. E nem sequer há qualquer “benefício da dúvida” sobre as intenções ou políticas prometidas. Nem tão pouco são mansas as palavras e frases usadas para definir o secretário-geral socialista e primeiro-ministro e o PS, que “se confunde” com o governo num país, dizem, que “está em marcha-atrás”.

Perante a”deriva de crescente arrogância”, a imoralidade”, aproteção dos “lucros de quem especula”, as “opções negativas que mais cedo do que tarde terão de ser revertidas” e o “autoritarismo” surge a crescente ideia, quase uma certeza, de um ano de contestação social e política mais “veemente”, porque “precisamos da força de quem se levanta contra a injustiça”, porque é preciso “tomar a iniciativa, responder às novas exigências” face à”necessidade ingente de contrariar amediocridade a que o PS quer condenar o país”.

Luís Montenegro “esperava” – e o verbo aqui não é indiferente – que a governação socialista “tivesse mais sensibilidade social e vontade transformadora, para inverter o ciclo de empobrecimento a que votou o país”.

Mas, “infelizmente”, considera o líder social-democrata, “com todos os antecedentes e reincidências, digo ‘esperava’ e não ‘espero’, porque verdadeiramente nada vai mudar no governo”. A explicação? Simples. “A arrogância e a soberba estão entranhadas nesta maioria absoluta”.

A “grande prioridade” em 2023, diz o presidente do PSD, só pode ser uma: “Ajudar as pessoas, as famílias e as instituições a superar o aumento do custo de vida, agudizado em Portugal por termos um governo que, ao fim de sete anos, nos conduziu a um empobrecimento generalizado”.

“A máquina de produzir pobres”

João Cotrim de Figueiredo, que deixa em breve a presidência da Iniciativa Liberal – há eleições a 21 e22 de janeiro e dois candidatos (Carla Castro e Rui Rocha) à sua sucessão -, espera mais do mesmo porque, sustenta, “de António Costa e do PS, nesta sua deriva de crescente arrogância, não esperamos, infelizmente, mais do que aquilo que os portugueses têm tido nestes sete anos de governos socialistas: o mesmo medo de fazer as reformas que são precisas, a mesma incapacidade de assumirá responsabilidades política a mesma tendência par;igir ao escrutínio dos atos da governação e da idoneidade dos governantes’

E há imoralidades, explica, que ignoram a “dureza do dia á dia de quem se debate – e vai continuar a debater em 2023 – com o aumento generalizado dos preços, em particular dos bens essenciais”. Quais? A “estratégia dos brilharetes orçamentais à custa do esmagamento fiscal das pessoas e das empresas” prosseguida por “António Costa e Fernando Medina”.

Numa frase, sintetiza: “António Costa é ‘ uma máquina de produzir pobres.”

Soluções? Entre outras prioridades, a Iniciativa Liberal “irá manter o seu foco no problema centrai, que é a falta de crescimento económico, o qual é essencial para a solução de tantos outros problemas”.

“O país que ambicionamos ter não é ultrapassado pela Lituânia, Estónia e Polónia. Não é alcançado pela Hungria, nem estaria prestes a ser ultrapassado pela Roménia”, acentua João Cotrim de Figueiredo.

“Tomar a iniciativa”

Paulo Raimundo, eleito secretário-geral do PCP a 12 de novembro, não tem dúvidas: “Espero pouco da governação, também em função das decisões tomadas ainda em 2022, nomeadamente o conteúdo do Orçamento do Estado para2023”. E “se a governação for por este caminho é de esperar, desde logo, um confronto com a realidade social e económica do país e a manutenção de opções negativas” que- e aqui outra certeza-“mais cedo do que tarde terão de ser revertidas”.

Para o líder dos comunistas, “em 2023, tal como hoje”, as prioridades estão centradas no “aumento de salários, reformas e pensões, a travagem da especulação e a fixação de preços, o combate à injustiça na distribuição da riqueza, a defesa e valorização dos serviços públicos, nomeadamente do SNS e da Escola Pública, o direito à habitação”, que no próximo ano “são elementos que tenderão a assumir ainda maior importância”.

“Tudo isto”, sublinha, “inserido na grande prioridade da afirmação da alternativa política patriótica e de esquerda, com a política que confronta o rumo em curso e aponta o caminho de soberania, desenvolvimento e progresso social que Portugal precisa”.

E se não for assim? O partido deve “tomar a iniciativa, responder às novas exigências, reforçar-se”.

“Precisamos de mobilização”

Catarina Martins também não alimenta grandes expectativas, até porque “António Costa j á disse o que será a governação em 2023: como em 2022, a maioria absoluta quer conteros salários de quem sofre cóm a inflação, enquantóprotege os lucros de quem especuia com a inflação”.

Em síntese, considera, é “uma escolha anunciada e é uma escolha errada”.

A líder do BE espera que “o país não se resigne, perante a resignação do governo. Portugal não está condenado a empobrecer com a inflação, as famílias não estão condenadas à aflição da subida de juros sem apoio do governo, quem vive do . salário ou da pensão não está condenado à escolha entre as compras do supermercado e a conta da farmácia”.

E também, na linha de que a contestação social e política deve ser um cenário presente em 2023, Catarina Martins afirma que “precisamos da mobilização de quem não se resigna a uma política que, nesta, como na anterior crise, prefere conter salários a conter os lucros”.

Ou seja: “Precisamos da força de quem se levanta contra a injustiça. O Bli sa força”, afirma.

“0 rolo compressor”

parte des-AndréVentura,espera “um aumento da contestação nos diveisetores”, porque “2023 vai ser um ano em que António Costa vai aprofundar o seu autoritarismo, edm a pouca capacidade de diálogo, fechando-se cadla vez mais”, diz acreditar que “governo e o primeiro-ministro vão continuar a usar o rolo comitssor da maioria absoluta para travar todas as téhtativas de fiscalização da sua ação”.

E é também, afirma, “muito provável que os casos de escândalos no governo continuem a surgir, e que a reação de António Costa seja a habitual: aguentar os seus governantes até ser totalmente insustentável mantê-los”.

O líder do Chega traça um cenário de “um governo incapaz de dar resposta à inflação e a falhar no apoio às famílias e às empresas”. “O SNS continuará a deteriorar-se, acentuando-se a falta de médicos e o aumento das listas de espera”, diz.

Prioridades? “Ajudar os portugueses a ultrapassar a crise com medidas concretas, equitativas e justas, que tenham real impacto nas suas vidas e abranjam todos os que trabalham e não se foquem apenas nos mesmos de sempre”, defende André Ventura.

“Anos de retórica”

Inês Sousa Real, porta-voz do PAN, considera que “Portugal tem uma oportunidade única, por força das verbas do PRR e demais programas de financiamento europeus, para impulsionar as reformas e o investimento de que o país precisa para ser mais resiliente e competitivo, numa perspetiva de sustentabilidade ambiental e social”.

Mas, defende, para que isso aconteça “é fundamental que em 2023 o governo português, a par das demais nações, recupere o atraso devido a anos de muita retórica e de insuficiente ação e redobre o empenho no combate à crise climática, através de medidas que, de facto, contribuam para uma mudança do atual paradigma económico, que nos levou já a atingir diversos pontos de não-retorno e a destruir valores naturais irreciiveis”.

Sobre as prioridades para o país, Inês Sousa Real diz que gostaria de “assistir ao cumprimento na íntegra do disposto na Lei de Bases do Clima e nos compromissos internacionais – como o Acordo de Paris e a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável – e, também, ver impedido o recuo da legislação referente à criminalização dos maus-tratos a animais, agora ameaçada pelas decisões do Tribunal Constitucional, no âmbito dos recursos apresentados em casos que chocaram a sociedade, como o da cadela Pantufa, que foi esventrada a sangue-frio e deixada a morrer, bem como as suas crias”.

De todos os partidos só o PAN considera, para 2023, a revisão da Constituição como uma prioridade em nome do “respeito pelos animais e pelo ambiente”, pela “proteção destes valores”.

“Não repetir o passado”

Rui Tavares diz esperar que o “governo esteja ciente da responsabilidade do que é uma maioria absoluta numa fase em que as democracias enfrentam os populismos”, sendo “crucial que não se repitam erros de outras maiorias do passado” e que “2023 seja um ano de concretizações de projetos propostos pelo Livre e já aprovados na Assembleia da República, como ò Programa 3C – Casa, Conforto e Clima, dotado de 140 milhões de euros, para combater a pobreza energética e o desconforto térmico no país, de forma sustentável e comportável, contribuindo para a luta contra as alterações climáticas ou concretizando o projeto da semana de 4 dias, para que no segundo semestre já existam portugueses a testar este novo modelo de organização laborai”.

Para o líder do Livre, a prioridade do país é clara: “Responder à crise, não só reagindo aos acontecimentos, mas agindo de forma a reinventar o seu modelo para uma economia de salários mais altos, mais qualificada, mais descarbonizada e um Estado Social mais moderno, abrangente e inclusivo”.

artur.cassiano@dn.pt

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Com fama de competente e dura pelas empresas por onde passou, Alexandra Reis esbarrou na TAP contra a nova CEO da transportadora. Uma sucessão de trapalhadas e uma história mal explicada custaram-lhe o lugar no Governo.

Antes da TAP

Casada e com dois filhos. Alexandra Reis apareceu de rompante na atualidade noticiosa, mas já era conhecida no mundo empresarial, sobretudo o ligado ao Estado, pela sua passagem por empresas de grande peso em Portugal.

Licenciada em Engenharia Eletrónica e de Telecomunicações, pela Universidade de Aveiro, Alexandra Reis destacou-se na direção de compras da PT, de onde saiu para a REN. Conta à SÁBADO quem com ela trabalhou que a gestora era “tesa, muito pragmática, muito despachada”. Da REN, onde deixou obra feita na divisão de compras, passou para a NetJets. Em 2017 deu o salto para a TAP, onde chamou a atenção de Humberto Pedrosa, na altura à frente da transportadora. Em 2020, com 46 anos, Alexandra Reis chegou à comissão executiva da TAP. Teve vários pelouros, incluindo o financeiro, o dos Recursos Humanos e o jurídico.

A saída no radar dos ministros

Apesar de na altura a TAP ter comunicado que Alexandra Reis tinha apresentado “a renúncia ao cargo, decidindo encerrar este capítulo da sua vida profissional e abraçando novos desafios”, na verdade tratou-se de uma saída negociada, tendo a gestora aceitado receber 500 mil euros pela quebra do contrato que tinha na empresa e do qual faltavam ainda cumprir dois anos. Ficou assim tudo em bem.

Na TAP, Alexandra Reis ficou amiga da diretora jurídica. Stéphanie Sá Silva, mulher de Fernando Medina, ministro das Finanças, com tutela da TAP. Pedro Nuno Santos, outro ministro com tutela da empresa, ficou também bem impressionado com o seu papel na reestruturação da empresa.

O choque na TAP

A entrada de Christine Ourmières-Widener como nova CEO da TAP foi o fim da viagem. “[Alexandra Reis] era a única pessoa que lhe fazia frente”, conta à SÁBADO quem trabalhou com as duas. Outra fonte conta que a tensão era tão grande que chegou a haver “cenas de gritaria”.

Ninguém sabia

Foram essas conexões que a deixaram poucos meses no desemprego. Pedro Nuno Santos chamou-a para a NAV e em dezembro Fernando Medina convidou-a para secretária de Estado do Tesouro. No Natal rebentou a polémica. Aparentemente, nenhum dos dois ministros sabia dos €500 mil, uma vez que anunciaram que pediram explicações à TAP. António Costa disse à Lusa que também não sabia de nada e pediu explicações. Marcelo pediu explicações a todos os anteriores e disse que seria “bonito” que a secretária de Estado do Tesouro abdicasse dos €500 mil. o que a própria já disse que não fará, até porque tudo decorreu dentro da lei. Na passada terça-feira, Alexandra Reis saiu do Governo. “Solicitei que apresentasse o seu pedido de demissão, o que foi prontamente aceite”, revelou Fernando Medina.

Alexandra Reis tem um MBA da AESE/IESE Business School em Madrid e deu aulas na AESE Business School

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