13/11/2020 | Imprensa, Notícias do dia
Hugo Franco, Miguel Prado Rui Gustavo
As autoridades judiciárias estão a passar a pente fino a quase totalidade dos empréstimos feitos pelo Benfica de jogadores que comprou e foram imediatamente cedidos a clubes como o Santa Clara ou o Desportivo de Chaves, sem nunca terem jogado um minuto pelos encarnados. A suspeita é de que nunca foi intenção do Benfica usá-los no campo, mas sim como um incentivo para os emblemas que recebiam esses jogadores nos jogos contra adversários diretos do Benfica, como Sporting e FC Porto. Há igualmente suspeitas de que o dinheiro da compra, venda e empréstimo dos jogadores não tenha sido declarado na sua totalidade ao fisco.
Por isso as buscas desta segunda-feira, conduzidas pelo Ministério Público e executadas pela Polícia Judiciária e Autoridade Tributária — com a supervisão do juiz Carlos Alexandre — a Benfica, Sporting e Santa Clara, juntaram, numa só operação, alguns casos distintos que estão nas mãos da equipa especial do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que investiga episódios de corrupção desportiva e crimes económicos no mundo do futebol.
O Mala Ciao
Um dos principais alvos foi o Benfica, que tem estado na mira da justiça sobretudo por causa do caso Mala Ciao, em que se investigam alegadas trocas de favores entre clubes e pagamento a jogadores para que estes joguem com especial afinco contra, especialmente, o Sporting e o FC Porto. Foi nas buscas de há dois anos no Estádio da Luz que inspetores e procuradores encontraram dados sobre transferências suspeitas dos encarnados para clubes como Desportivo das Aves, Desportivo de Chaves ou Académica de Coimbra. Uma delas foi a do jogador líbio Hamdou Elhouni, que foi comprado ao Santa Clara por um pouco menos de 500 mil, em junho de 2016. O futebolista nunca alinhou na equipa principal e foi cedido depois ao Desportivo de Chaves e vendido posteriormente ao Desportivo das Aves. “Os valores demasia do elevados deste e de outros jogadores que passaram pelo Benfica e por outros clubes chamaram a atenção”, conta uma fonte próxima do caso.
Este caso de Elhouni — um jogador que um antigo dirigente do Santa Clara garante não ter aquele valor de mercado ou lugar numa equipa como o Benfica — está longe de ser o único que levou à grande operação desta segunda-feira, em Portugal continental e nos Açores. “Estamos a investigar vários jogadores cedidos pelo Benfica”, adianta a mesma fonte.
Nos últimos anos foram vários os futebolistas cujos direitos económicos o Benfica adquiriu e que foram imediatamente emprestados a outros clubes. Por exemplo, o cabo-verdiano Carlos Rodrigues, mais conhecido como “Ponck”, que o Benfica foi buscar ao Farense em janeiro de 2016, emprestando-o desde logo ao Paços de Ferreira, seguindo-se em agosto desse ano novo empréstimo ao Chaves; em julho de 2017, outro empréstimo ao Aves, que acabaria por ficar com os direitos económicos do atleta e, finalmente, transferi-lo para os turcos do Basaksehir, em julho de 2019.
Para o MP, não restam dúvidas de que os valores inflacionados estão diretamente ligados “à troca de favores e poder de influência” exercido pelo Benfica sobre outros clubes mais pequenos. “Investiga-se o aproveitamento destas transferências para outros objetivos, como o branqueamento de capitais, a troca de influências e de favores. E, em última análise, para a corrupção dos resultados desportivos”, diz a mesma fonte.
O Expresso sabe que uma das pessoas investigadas é Paulo Gonçalves, antigo assessor jurídico do clube, que foi acusado de corrupção ativa no caso e-toupeira, mas que tem marcado presença em alguns dos últimos negócios do Benfica relacionados com contratações. No entanto, nenhum responsável do Benfica foi constituído arguido depois destas buscas, assegura fonte do clube encarnado.
Dinheiro de Singapura
A nota da Procuradoria-Geral da República de segunda-feira dizia o seguinte: “Investigam-se a aquisição dos direitos desportivos e económicos dos jogadores por parte de clubes nacionais de futebol, empréstimos concedidos a um dos clubes e a uma sociedade desportiva de um cidadão de Singapura com interesses em sociedades sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas e a utilização das contas do mesmo clube e de outro para circulação de dinheiro.”
O cidadão de Singapura é Lau Lian Seng Glen, que detém 46% do capital da SAD do Santa Clara. O acionista não vive em Portugal, mas aparece com alguma frequência nas instalações do clube. É representado pelo empresário brasileiro Khaled Saleh e detém negócios imobiliários e de turismo com o presidente do Santa Clara, Rui Cordeiro, que foi constituído arguido.
Lau Glen foi durante vários anos presidente da Amedeo Resources, uma empresa com negócios na indústria petrolífera e de mineração controlada por Ghanim Al-Kuwari, um proeminente empresário do Qatar. O representante de Lau Glen na SAD do Santa Clara é ainda administrador e sócio da Amedeo Portugal, criada em outubro de 2019, com sede na Bobadela, Loures. Na mesma morada está a empresa Portadmiral (detida pela Capital United Group Limited, uma offshore controlada por Lau Glen), que detém metade da empresa Melo Cordeiro (do atual presidente do Santa Clara) e 90% da Alixir Capital (que adquiriu 51% da Azores-Parque, antiga empresa municipal de Ponta Delgada). Segundo a revista “Sábado”, várias destas empresas foram alvo das buscas de segunda-feira. Contactado pelo Expresso, Khaled Saleh não fez comentários.
A Holdimo
As buscas aconteceram no mesmo dia em que a PJ também visitou Alvalade para, num processo distinto, recolher elementos sobre suspeitas de branqueamento de capitais envolvendo Álvaro Sobrinho, que é o segundo maior acionista da Sporting SAD (apenas atrás do clube). Através da Holdimo, o empresário angolano tem 29,8% da Sporting SAD, adquiridos num aumento de capital, em 2014, por via da conversão em ações do investimento de 20 milhões que a Holdimo tinha feito em 2011 no fundo de jogadores do Sporting.
Equipa especial foi reforçada
O DCIAP reforçou a equipa especial de procuradores encarregada de investigar a criminalidade no futebol. Manuel Martins, que estava no DIAP do Porto, é o 5.o elemento. Quando foi nomeado, ainda antes da pandemia, houve polémica porque foi autorizado a trabalhar a partir do Porto. A equipa é liderada por Ana Catalão, que trabalhou com Rosário Teixeira e é uma das magistradas que assina a acusação da Operação Marquês. Vera Camacho, que esteve no DIAP de Lisboa, é corresponsável pela acusação contra Rui Pinto e acusou os funcionários do FCP que divulgaram e-mails do SLB. Hugo Neto vem do DIAP de Lisboa e investigou o caso Jogo Duplo; é um dos titulares do processo EDP. Cristiana Mota é oriunda do DIAP do Porto.
Paulo Gonçalves, acusado no e-toupeira, também está a ser investigado
| JEFF PACHOUD/AFP VIA GETTY IMAGES Contexto Justiça acredita em troca de favores entre clubes com o pagamento a jogadores a funcionar como incentivo
13/11/2020 | Imprensa, Notícias do dia
CORRUPÇÃO
PROCESSO DO FISCO ACELERA COM PROVAS RECOLHIDAS NA INVESTIGAÇÃO DA POLÍCIA JUDICIÁRIA
CONTRATOS à DO BENFICA, SANTA CLARA, MOREIRENSE E AVES SOB SUSPEITA
Offshore do futebol passadas à lupa
TÂNIA LARANJO
INVESTIGAÇÃO DAS AUTORIDADES
MÁQUINA TRIBUTÁRIA Ministério Público recolhe provas de crimes fiscais e branqueamento e pode avançar para acusação
CLUBES Benfica, Aves, Moreirense e Santa Clara debaixo de fogo
investigação da Autoridade Tributária ao Benfica está a utilizar muitos dos dados dos processos-crimes que estão na Polícia Judiciária. É o Ministério Público que está a dirigir ambas as investigações e neste momento as provas mais fortes estão no domínio da máquina fiscal. As sociedades offshore que terão sido usadas para esconder dinheiro de transferências estão a ser passadas a pente fino e muitos dos fluxos financeiros enquadram-se em suspeitas de fraude fiscal. O Ministério Público poderá avançar proximamente para a acusação de crime de branqueamento de capitais.
Para já, os processos não foram unificados. O que tem acontecido é uma partilha de informação, com a apensação de alguns processos-crimes num só. Mas a maioria dos documentos apenas revela transferências de dinheiro, sendo mais difícil de demonstrar o nexo de causalidade com os resultados desportivos.
Exemplo disso são os negócios dos três jogadores que passaram pelo Benfica e a determinado momento acabaram no Moreirense. Os investigadores acreditam que os negócios de Chiquinho, Pedro Nuno e Alfa Semedo aconteceram para ajudar o clube de Moreira de Cónegos que, depois, beneficiava o Benfica nos confrontos diretos. Há ainda referências à passagem de Alfa Semedo pelo Vilafranquense, o que terá sido usado para evitar a transferência direta para os minhotos. Há também suspeitas de favorecimento idêntico no Desp. Aves e no Santa Clara. O silêncio dos envolvidos dificulta a investigação – e a demonstração das suspeitas de corrupção -, o que não acontece com a passagem do dinheiro. A aceleração do processo da máquina tributária levará a que se- jam esses os casos que primeiro chegarão a acusação pública.
Jorge Jesus e Bruno Macedo Advogado esteve ao lado de Jorge Jesus
Bruno Macedo, o advogado de Braga que recebeu as comissões pelo negócio de Talisca – e que o MP suspeita terem acabado no universo de António Salvador -, é um velho conhecido do treinador do Benfica. Foi ele quem levou Jesus para o Brasil após a sua passagem pela Arábia Saudita e foi também ele quem negociou com os encarnados, mas em representação do Flamengo. Bruno Macedo é também próximo de Hernâni Vaz Antunes, o empresário que pediu uma comissão de 70 milhões de euros à Oi pela alegada intermediação da venda da PT à Altice. Ambos negociaram pela Meo a transmissão dos direitos televisivos.
PORMENORES
Três líbios
No Santa Clara, Carlos Alexandre apreendeu vários documentos referentes à transferência de três jogadores líbios. Há suspeita de fraude fiscal.
Familiar de dirigente
Na casa de um dos familiares de um dos dirigentes do Aves foram apreendidos contratos ‘secretos’. Em troca de jogadores, diz o MP, o clube de Santo Tirso ajudava os encarnados.
Advogado teve buscas
O presidente do Santa Clara é advogado e foi também alvo de buscas, na sua casa. A diligência foi presidida pelo juiz que prendeu José Sócratese Ricardo Salgado.
13/11/2020 | Imprensa, Notícias do dia
Guilherme d’Oliveira Martins
Antigo presidente do Tribunal de Contas apoia Marcelo
Uma eleição para o Presidente da República é um ato singularíssimo. No quadro constitucional português o sufrágio direto é um elemento fundamental na escolha presidenc…
13/11/2020 | Imprensa, Notícias do dia
PEDRO SANTANA LOPES
Na democracia nenhum partido tem a patente.
Não quero fazer comparações. Sucede que boa parte da esquerda portuguesa gosta muito de estigmatizar os que considera perigosos direitistas. Nas décadas após o 25 de Abril variava entre …