24/05/2024 | Imprensa, Notícias do dia
HOJE ESCREVO EU
Talvez por ser de origem oriental – como diria Marcelo , Rishi Sunak é ponderado. E talvez por não precisar da política para nada – ficámos a saber que tem fortuna maior que a do Rei -, não segue a carneirada e faz o que acredita ser o melhor para a defesa dos ingleses.
0s deputados portugueses, e não só, deviam por os olhos no Parlamento inglês para não andarem a perder tempo- nem a fazerem-nos perder tempo -com discussões estéreis e ridículas. Ou não fosse Inglaterra a mais antiga democracia do mundo na era moderna, onde até o mais interventivo dos speakers (presidente da Câmara dos Comuns) não se permitiria martelar o que a esquerda do atual Parlamento português, e não só, considera tratar-se de discurso de ódio, racista, xenófobo, insultuoso e, por isso, inaceitável.
John Bercow, que presidiu à Câmara dos Comuns durante toda a década passada, ficou célebre pelas suas marteladas acompanhadas por sonoros pedidos de ‘Ordem!’ aos deputados britânicos, quando o debate entre as bancadas do Governo e da Oposição se tornava numa ensurdecedora troca de mimos, dichotes e até impropérios e ultrapassava todos os limites da normalidade.
À conta dessas palavras gritadas de ‘Ordem’ e das suas incontidas marteladas, além do cabelo cuidadosamente despenteado (que virou moda com Boris Johnson e até por cá ganhou seguidores, como Álvaro Beleza), tornou-se muito mais popular do que qualquer outro (basta compará-lo com o seu discreto sucessor, Lindsay Hoyle).
Uma questão de estilo, dir-se-ia. Antes o fosse, mas não é.
O que se passou é apenas mais uma evidência da intolerância de uma certa e mais radical esquerda parlamentar em que se inclui a ala maioritária no PS-que ganhou predominância no espaço público através das redes sociais e do agora designado comentariado televisivo: uma vez mais, a malfadada cultura woke herdada dos EUA ou, por cá, o politicamente correto (vá lá perceber-se por que raio é assim qualificado).
Que se expandiu muito para além do imaginável, pela cedência e submissão da maioria a essas minorias dominantes, tanto por cá como na aldeia global desta
era da web.
O apelo ao ódio, o racismo, a xenofobia, o insulto são obviamente inaceitáveis.
Mas o que cabe, ou não, dentro desses conceitos é que é discutível.
oram-se impondo e valendo as teses e teorias que marginalizaram e catalogaram como de direita radical quem, por mais moderado que seja, ousa pensar ou defender coisa diferente.
Ora, ainda que tenha conseguido generalizar-se, dominando ou condicionando o pensamento ocidental, começa finalmente a haver sinais de enfraquecimento dessa estupidificante cultura e de uma certa normalização.
Mais uma vez, Inglaterra – onde, com Tony Blair, também nasceu a terceira via que se expandiu transversalmente antes de o mundo assistir a um regresso a uma polarização cada vez mais extremadaserve de exemplo.
Depois da cegueira que a coberto do tal discurso dominante apenas serviu para agravar ainda mais o ameaçadoramente explosivo problema das migrações, com uma ausência quase total de respostas, a Europa começa a abrir os olhos e a ver o que não queria, obrigando-se a responder.
Afinal, a Itália da senhora Melloni lá tinha as suas razões e a política de portas abertas não é solução.
E o Governo inglês de Rishi Sunak, com o acordo de repatriamento de imigrantes ilegais para o Ruanda, volta a dar o exemplo.
Não se trata de fechar as portas aos refugiados e à imigração, mas, sim, da sua regulação por forma a enquadrar a sua plena integração na sociedade recetora, assegurando igualmente as condições de vida minimamente aceitáveis e dignas ao migrante.
A Europa ou a UE, como um todo, tem de investir n o desenvolvimento e na segurança dos países de origem de migrações, em vez de continuar a deixar esgotar a sua capacidade para acolher imigrantes.
Melhorar os mecanismos de apoio e manter os migrantes dentro da legalidade e da sustentabilidade é urgente e obrigatório.
Foi o que fez Sunak para travar o movimento imigratório ilegal no Reino Unido, recusando a irresponsabilidade de nada fazer e, desse modo, contribuir para atear o rastilho do barril de pólvora que ninguém quer ver explodir.
A pagar pelas consequências negativas do Brexit, o primeiro-ministro inglês veio esta semana anunciar a convocação de eleições legislativas para 4 de julho, numa altura em
que conseguiu finalmente fazer crescer a economia e conter a inflação.
E praticamente em simultâneo com a divulgação pela imprensa britânica de que a fortuna pessoal de Sunak e sua mulher ultrapassa a do próprio Rei Carlos III. Ou seja, não precisa da política para nada.
E o líder dos conservadores sabe que a desvantagem que as sondagens lhe dão em relação ao Labour (Partido Trabalhista) será muito difícil de reverter. Ainda assim, não entrega os pontos.
Na semana passada, Sunak – que sempre teve o discurso «
Publication: Nascer do Sol
Country: Portugal
Edition: Fri, 24 May 2024 06:18:48 +0000
PublicationType: newspaper
Language: Portuguese
Frequency: Weekly
Section: General
Issue:
Pages: 2
Circulation: 25,000 Weekly
AVE: 6687
24/05/2024 | Imprensa, Notícias do dia
OPINIÃO
E o que estará Ramalho Eanes a pensar quando vê políticos e jornalistas a aceitar ferirem-se numa retórica afiada sobre liberdade de expressão?
a Tá não lhes basta atirarem nuvens ao vento, eles querem pendurar-nos no cruzeiro; já não lhes basta o chaque à democracia, eles querem apertar-nos os gorgomilos; já não lhes basta serem os pais da discórdia, eles querem levar-nos mudos e silenciosos para o abate.
Cinquenta anos depois ainda se escaramuçam limites à liberdade de expressão. Há um vozeiro tropear de bestas que vão tisnado a casa da democracia; os inquisidores levantaram-se de repelão e de bocarra enorme querem ferrolhar o pensamento dos homens livres.
E enquanto os broncos da Tribuna batem no peito e galgam as congostas do castelo, os gazetistas espojam-se da liberdade que abril lhes deu e juntam-se aos escoliastas que todas as noites na Telopsia convivem mal com a opinião dos outros. Os que se acham os guardiões do aceitável, já não têm em si, sequer, a consciência da revolução.
O povo, estremunhado pelo rebate dos sinos, acordou-se pendurado na cruz dos fraguedos – lá em baixo, só sombras. E se uns chafurdam nos enxurdeiros, outros rosmeiam no que sobra entre as lajes. Todos vivem na dependência, até porque para seguir uma causa não têm de a compreender.
Ao menos que a parlamentarice e a patetice não absorva o espírito de quem governa. Séneca já dizia que quem tem medo de ser odiado não sabe governar. Sim, nunca se ergueram estátuas a críticos.
Mas, os políticos – esses castos e finórios , julgam-se mais dramaturgos que Shakespeare e os mendicantes esses ratoneiros e agadanhadores-, tornaram a Liberdade e a Igualdade palavras ímpias e impuras. Se à Igualdade, ambos, já lhe deram substantivo de miserável, à Liberdade preparam-se para lhe dar túmulo amarrada de pés e mãos.
No Palácio, lá do Bairro Alto, as cabeças estreitas, que antes atiravam copos de água choca a quem passava, agora cozem à pressa as bambinelas para se barricarem na mediania que é onde se sentem bem. Como o Guarda do Templo ainda não voltou, a Câmara de Reflexão continua vazia.
E o que estará Ramalho Eanes a pensar quando vê políticos e jornalistas a aceitar ferirem-se numa retórica afiada sobre liberdade de expressão? Adivinho-o pelo que escreveu sobre o medo, em a Carta aberta ao burguês, no Jornal do Batalhão de Caçadores, a partir de Moçambique, em 1967: …parece teres esquecido,tanta e tantas coisas. Esqueceste…e só Deus sabe como pode ser grave o teu esquecimento!».
Ou, antes que o amanhã traga um mundo de cadáveres e nos enterrem num cemitério de liberdades mortas, em o ‘Cone da Vida’, também batido à máquina pelo capitão Eanes, a partir de Luatize, um ano depois: <>.
Sim, meu general, tal como escreveu a partir do mato na província de Tete, «eles não acreditam porque não sabem como se faz» e deixam que a Liberdade seja espezinhada até que as lápides negras tomem o ‘TUDO ou NADA já sem tempo’..
Jornalista
