18/11/2020 | Imprensa, Notícias do dia
• Cartas de médicos, deputados, juízes e militares revelam
os pedidos da elite ao ditador: Úmentos, cargos no Estado e em áncos, comendas e até lugares janela para ver Isabel II Avô de ideólogo do Chega com o líder do Estado Novo
MEU CARO DOUTOR SALAZAR
Marco Alves
Os pobres k pediami-lhe Bi ddiinnhheeiirno, mas as elites (médicos, engenheiros, deputados, juízes, militares, empresários, padres e condes) queriam colocações em bancos, aumentos, cargos e comendas. Durante 36 anos, o ditador acedeu a centenas de cunhas.
Acarta, datada de 16 de junho de 1960, começava de forma pungente: “Já não é a primeira vez que, em desespero de causa, recorro à bondade de Vossa cia.” Maria do Céu Taborda B escrevia a Oliveira Salazar a rua das Pedrinhas, em Vila Real. Mãe de sete filhos, “todos rapazes, que vão dos 5 aos 20 anos”, lamentava-se que as contas domésticas tinham mais despesas do que receitas. Estas resumiam-se ao ordenado do marido – 5.700 escudos (2.140, usando os coeficientes de desvalorização da moeda), como engenheiro e diretor de Urbanização de Vila Real – e a “uma quintinha no Douro, que tão depressa dá 12 pipas, como dá 20”.
O filho mais velho estava no 4a ano de Medicina, no Porto. Depois, havia dois filhos a fazer o 7a ano do liceu [equivalente hoje ao 12a ano] e que em outubro iam para a universidade. “Aqui é o nó do problema. Não podemos, economicamente, ter mais do que um fora de casa, assim como dificilmente podemos pensar em deixar sozinhos no Porto estes dois, que não têm o feitio sossegado do [irmão] mais velho, e longe do pai facilmente se desleixariam no estudo, prejudicando os mais novos.”
Um dos dois filhos que causavam preocupação a esta mãe que escrevia a Salazar chamava-se António Barreto, que em 1975 – apenas 15 anos depois da carta desesperada da sua mãe – era já deputado e secretário de Estado. Um ano depois, subia a ministro no I Governo Constitucional (Mário Soares, 1976-78).
Mas em 1960 ninguém sabia disso. António Barreto, conforme contou em 2012 numa entrevista ao Jornal de Negócios, teve de fazer uma escolha na altura. “Fui-me embora de casa, fui pedir trabalho a uma fábrica de bolachas em Coimbra, e estudava à noite. Fiquei sozinho na vida com
17 anos.” O sociólogo não terminou Direito e foi para a Suíça licenciar-se em Economia Social.
António Barreto (que este ano lançou o livro Três retratos: Salazar, Cunhal, Soares) diz à SÁBADO que O já sabia da carta da mãe. “Foi uma descoberta. Mas sem surpresa excessiva: a nossa mãe era mesmo assim, escrevia, queixava-se, apresentava pretensões ou propostas…’’
A mãe de António Barreto pedia “um milagre”: um emprego para o marido “como engenheiro” no Porto (onde podia vigiar os dois filhos rebeldes). Onde? “Em qualquer das numerosas Comissões das Obras Públicas ou no Serviço de Habitações Económicas, da Federação das Caixas [de Previdência], dado que é sabido ser impossível transferências para outros serviços com os quadros completos. O nome do meu marido
é: Manuel da Costa Pinto Barreto.”
A pedido de Salazar, o caso andou entre ministérios e percebe-se que os pais de António Barreto (ou só a mãe) já tinham escrito também para
estes. Mas nada feito, não havia vagas. António Barreto recorda agora à SÁBADO o desfecho: “O meu pai (com a minha mãe e mais quatro filhos) foi viver e trabalhar na Câmara de Vila Nova de Gaia em 1967. Creio que se candidatou a esse lugar (a fim de ir viver com os filhos no Porto) por outras vias.”
Compaixão ou caridade?
O caso da mãe de António Barreto é um em centenas na correspondência para Oliveira Salazar. “Era o Portugal de então. Muito pouco se fazia ou podia fazer sem pretensões, candidaturas protegidas, amigos de influência… Em termos diferentes conforme as famílias e as circunstâncias, é certo, mas eram costumes de toda a sociedade. Havia quantidades [enormes] destas cartas nos gabinetes dos ministros, nas direções-gerais, nas câmaras, nas instituições… Eram tempos sombrios”, diz o sociólogo.
O historiador Fernando Rosas concorda. “Isso era o mundo do Estado Novo. O Salazar era o centro de uma rede muito vasta de favores, de cunhas, de empenhos, de transferências da província para a capital, de arranjar o lugar de chefe de repartição, era um mundo em que o mérito estava longe de ser o critério de ascensão social. Havia uma pirâmide de cunhas e o Salazar era só o pico”, diz à SÁBADO.
Num País empobrecido e semianalfabeto, “os mecanismos normais de ascensão social estavam profundamente viciados”, diz. “Em 1938 ou 1939, o Técnico formava [apenas] uns quatro ou cinco engenheiros por ano. Isto para lhe dizer o que eram os quadros do regime”.
Rosas, autor de vasta bibliografia sobre Salazar e o Estado Novo, dá dois exemplos. “Se for analisar as relações sociais de alguns dos principais caciques do regime encontrará a mesma coisa. O Mário de Figueiredo, presidente da Assembleia Nacional [1961-69; além de ministro e deputado], foi também administrador da CP [1951-63] – fazia parte do caciquismo dele empregar gente da
Em 1957, a visita de Isabel II foi o acontecimento do ano. Berta Barreto, 84 anos, escreveu a Salazar a pedir quatro lugares (para ela, filha, neta “e talvez [para] a minha dama de companhia que está sempre comigo”) numa janela do Terreiro do Paço para ver chegar a Rainha. O mesmo pediu (4 lugares no Terreiro do Paço) uma senhora que assinou apenas Filó. Mais: Filó sugeria que “se puder ir à Ajuda [o local do banquete oficial], encantadíssima…”
Beira Alta, que era a província de onde vinha [nasceu em Viseu]. Portanto a CP, durante muitos anos, estava cheia de gente da Beira Alta. Era o Mário Figueiredo que metia lá, eram os seus empenhos, uma forma de popularidade local, de poder também, ou de o segurar. Com o presidente da Assembleia antes do Mário de Figueiredo, que era de Oliveira de Azeméis [Albino dos Reis, 1945-61], era a mesma coisa, no gabinete dele as pessoas faziam fila para meter a cunha. Os dirigentes políticos exerciam um poder caclcal, de arranjar redes de apoio através da satisfação das cunhas, as mais variadas, desde um lugar na repartição das finanças, até a cunha ao filho de um sobrinho de um amigo.”
Jaime Nogueira Pinto, outro abundante autor sobre o Estado Novo, mas com um posicionamento público à direita, tem uma perspetiva do fenómeno mais transversal. “A cunha, o empenho, o favor, a intervenção de favoritismo ao nível da administração pública, acompanha o Portugal contemporâneo desde o século XIX (e antes, naturalmente, também
as haveria…). Basta ler-se Camilo e Eça de Queirós. E a definição de Eça numa famosa carta para o Conde de Arnoso em que lhe mete uma cunha: ‘A cunha é a forma popular de corrigir a estupidez da lei.’ Esse tipo de favoritismo político existiu na Monarquia Constitucional [1820-1910], na I República [1910-1926], na II República [Estado Novo] e existe – e muito –
na III República [atual regime]. Geralmente é exercida a favor dos ‘amigos políticos’, por vezes com implicações criminais, como temos visto nos numerosos casos de corrupção divulga-dos pela imprensa”, diz à SÁBADO.
E deixa uma pergunta: “Havia também casos destes – criminais, de favoritismo – no Estado Novo? Talvez. Mas se havia, no pós-25 de Abril (com alguma sede de investigação sobre o tema) não apareceu nada de significativo. 0 Nuremberga [tribunais militares criados pelos Aliados para julgar crimes de guerra dos nazis] do anterior regime ficou-se por uns ramos de flores do Dr. Ramiro Valadão [diretor da RTP, 1969-74] para uma senhora, pagos pela RTP…”
No que diz respeito a pedidos de nomeações para cargos, Nogueira Pinto não acredita “que houvesse grande recetividade [de Salazar], a não ser em casos de manifesta injustiça ou atropelo da lei. De resto, mandava sempre averiguar as situações aos serviços competentes.”
É verdade que as cartas mostram que muitas vezes o ditador pedia explicações a outros ministérios, mas também mostram o contrário: dezenas de casos onde não havia qualquer injustiça ou atropelo da lei e as situações eram decididas por Salazar diretamente.
Salazar fazia-o eo País sabla-o. Veja-se o caso de uma senhora chamada Maria Sousa Araújo, viúva de um médico e mãe de cinco filhos, que escreveu a Salazar a 18 de março de 1964 para pedir um aumento no seu subsídio de viuvez para conseguir manter as crianças a estudar. Terminava com uma frase elucidativa: “Queira Vossa Excelência perdoar-me este meu atrevimento, mas como sei que todos que recorrem a V. Exs, ao seu bom coração, são bem atendidos, atrevo-me a escrever.” Ao longo deste artigo vamos ver mais frases como esta.
Alguns casos mostram que Salazar ajudava com dinheiro. Em 1956, Maria Alice de Almeida, órfã de 19 anos, interna nas Escravas da Santíssima Eucaristia e da Mãe de Deus, pedia ao governante para ser seu padrinho na tomada de hábito. Resposta do secretário: Salazar não podia abrir precedentes, mas enviava “uma pequena quantia para ajuda do enxoval”. Em 1968, outra carta, de Maria Irene Costa, agradecia os 5.000$00 (1.544) que Salazar deu para a Casa de Santa Maria do Resgate. Em 1957, um padre de Freixedas (Guarda) agradecia os 2.000S00 (799) enviados por Salazar para “o pobre Albano Lopes”, doente e pai de cinco filhos.
Era compaixão ou caridade? Fernando Rosas não tem dúvidas: “Era caridade, claro. Em vez de haver um sistema de segurança social organizado pelo Estado, havia a caridade dos ricos, que era exaltada como uma virtude cristã e um modo de resolver o problema social, ou seja, convidar as pessoas a conformarem-se com a sua situação. Era a perpetuação da estrutura social.”
As mãese os seus filhos
A carta que a mãe de António Barreto escreveu a Salazar tinha um detalhe importante: era a mulher a interceder pelo marido. Não foi, de longe, um caso isolado. As mulheres usavam quase sempre o argumento dos filhos (alimentação, bem-estar e educação) e lembravam que tudo estava dependente do salário do homem. Exemplos não faltam.
A 26 de outubro de 1963, Maria Ângela Cachado-. “Sou casada com um médico e tenho cinco filhos. (…) Há um ano que o meu marido luta para conseguir uma colocação. (…) Concorreu a médico das Caixas, mas como tem apenas 12 valores [média final de curso] está posto de lado. (…) De joelhos vos peço que nos ajude e fazei-lo pelos meus fi
lhinhos.” Menos de um mês depois, alguém anotou no cabeçalho que “o candidato foi nomeado e está já a prestar serviço, desde ontem, no posto médico do Cacém”.
A18 de dezembro de 1957, Irene Campos Costa: “Meu marido, ajudante do procurador da República, está sendo vítima dum mal-entendido. Honesto e reto, confia demasiado e não gosta de pedir nada, porque parte do princípio que se fará justiça. Eu sou mais descrente e sei que é necessário recorrer a alguém. E como não conheço ninguém e vossa excelência se digna ajudar quem precisa, eis-me a expor o meu caso.” Irene, que dizia que estava a escrever a Salazar sem o marido saber, jogava a cartada maternal (“tenho três filhos, vivemos somente do ordenado”)e pedia que o marido fosse colocado noutro lugar fora da magistratura porque estava envolvido numa embrulhada num “processo por crime de falsificação contra um advogado”,de que era, dizia, inocente.
Outro caso. A15 de março de 1962, a mulher do coronel do Estado-Maior Manuel Campos Costa escrevia que o marido, de 51 anos, por força da lei e por ter 33 anos de carreira passou à reserva, o que trouxe “uma quebra nos seus vencimentos e na sua sensibilidade pessoal e profissional”. Vinha pedir um cargo para o marido que seja “compensador da nossa situação pessoal, económica e financeira”.
A 31 de janeiro de 1967, Maria Reis Brandão (“mãe de três filhos que são a minha vida”) pedia a Salazar que o marido, Joaquim de Pinho Brandão, fosse nomeado juiz do Tribunal de Contas. A carta vinha escrita à mão num papel timbrado do escritório do marido. A17 de maio de 1934, Maria Costa Braga escreveu da cama do hospital, onde ia ser operada. Chamava Salazar de “meu velho amigo”, criava algum dramatismo com o desfecho da operação, dizia temer “pelo futuro do meu filho” e por isso pedia uma colocação para o marido.
Ou ainda Margarida Aragão, que a 10 de janeiro de 1955 vinha pedir “novamente” que o marido fosse nomeado adjunto do provedor da Casa Pia. “Já fizemos vários pedidos nesse sentido, mas infelizmente até hoje tudo está em silêncio. Ainda há dias um primo meu que é amigo do Provedor lhe escreveu, mas nada disse ainda. (…) Dr. Oliveira Salazar, tudo está nas mãos de vossa excelência.”
Uma surpresa
E depois o caso de Maria Eugénia de Sá Bandeira. Numa carta não datada, relatou a Salazar as dificuldades em “sustentar e educar, mesmo modestamente, 15 filhos”.O marido, formado em Direito, estava há três anos na Casa Pia, onde auferia 6.000 escudos [2.253, em 1960]. “Será possível, senhor Presidente do Conselho, que numa hora grave como a que atravessamos não haja lugar no vasto Plano de Fomento, nem na orgânica do Estado, para um homem de Bem-de um só rosto, de uma só fé? Não será atendido o pedido de uma mãe, que apenas pede justiça para a continuidade do seu papel de educadora de 15 almas e 15 corações para quem o nome de Vossa Excelência éo símbolo da Justiça, da Inteligência e do Poder? (…) Moral, material e temporalmente estamos exaustos. Quer Vossa Excelência dar-nos a mão e… levantar-nos? (…) Faço anos no dia 3 de agosto. Não quererá Vossa Excelência, como nos contos de fadas, estender a sua varinha mágica e dar-mecomo presente de anos a nomeação do meu marido para outro lugar?”
Um dos 15 filhos de Maria Eugenia, Francisco Sá da Bandeira, soube pela SÁBADO da existência destas cartas, que calcula serem do final dos anos 50. “0 tom condiz com o espírito da época – todos vivíamos na ‘situação’ e não havia grande oposição ao regime nem a Salazar mas sobretudo com o jeito que a minha mãe tinha para dramatizar quando queria pedir um favor. 0 meu pai teria tido uma fúria se tivesse tido conhecimento destas cartas – ele era o oposto de tudo isso, era de uma honestidade inquestionável, apreciava uma vida mais discreta e nunca fez a vida dele no Estado, apesar de ter tido uma passagem por um ou dois organismos públicos (a Casa Pia e creio que uma Secretaria de Estado), mas eram atividades complementares. A subsistência da família veio sempre da atividade dele como industrial de moagem – tinha uma fábrica no Crato”, diz à SÁBADO. Todos os 15 filhos se casaram e hoje há “175 descendentes diretos dos meus pais”. Uma das netas é a atriz Sofia Sá da Bandeira.
Francisco retrata a mãe como uma personagem maior do que a vida. “Era uma dona de casa suigenerís. Era culta (para mulher na altura), falava línguas, era devota, adorava jantares e convívios sociais, mas interessava-se por literatura e teatro. Tornou-se tradutora, correspondeu-se com escritores franceses, gostava de viajar e de conhecer pessoas novas. Era uma força da natureza. 0
Salazar nem deve ter respondido a essa carta e o meu pai nunca teve qualquer cargo público posterior a esse tempo. Ele passava muito tempo no Crato e a razão por que a minha mãe queria ‘meter cunhas’ para um cargo público era simplesmente porque queria viver em Lisboa e usufruir da vida social da cidade. 0
Salazar, com os serviços de informações que tinha, devia saber perfeitamente que ele tinha rendimentos de outros lados.”
Em 1956, Maria Tavares de Almeida escreveu também a Salazar. Na última das três cartas pedia ao ditador “o lugar de secretário-geral da Federação Portuguesa de Futebol”
(que estava a concurso) para o seu noivo, António Bastos Moreira da Cruz. Acrescenta que enquanto ele tirava o curso de Direito, “era redator do jornal desportivo A Bola. (…) Em consciência, julgo que ele reúne os requisitos exigidos para o lugar”.
Nuno Moreira da Cruz, o filho, e hoje professor na Católica Lisbon School of Business and Economics, também foi apanhado de surpresa com estas cartas. “São uma bonita memória da minha mãe”, diz à SÁBADO. Quanto ao pai, “não estou certo que tenha obtido o lugar na FPF, mas creio que sim (tenho vaga memória de ele me referir isso); de resto não enveredou pela carreira de jornalista desportivo, mas esteve ligado aos media vários anos; recordo-me que foi administrador do Record algures na década de 70 e do antigo Diário Popular”.
Além de mulheres a pedir para os maridos (havia também muitas viúvas a solicitar ajudas ou empregos Mathilde Bornhôft (viúva alemã a viver em Portugal havia 30 anos) teve um desastre com vítimas em 1951, foi presa e teve de pagar caução de 20 contos. Em 1953 o juiz absolveu-a de culpa, foi “mandada em paz”, mas não conseguia reaver a caução, que terá sido roubada num desfalque que houve no tribunal do Torel. Dizia que precisava do dinheiro para manter a sua empresa familiar. O caso resolveu-se em menos de uma semana.
para os filhos), os pedidos a Salazar abrangiam todos os assuntos.
Veja-se Augusto da Costa, secretário de Salazar no Ministério das Finanças, a queixar-se em 1936 que o diretor do Diário da Manhã queria “eliminar do jornal a secção Vida Cooperativa”, que ele assinava e pela qual recebia 500 escudos (480, usando os coeficientes de desvalorização da moeda). Só tinha uma hipótese de manter a avença: “Passar a fazer serviço todas as noites na redação.” Mas, trabalhando de dia no Ministério e de noite no jornal, e ainda com dois filhos pequenos, “que tempo me ficaria livre para continuar a ler e a escrever?” Não sabemos o que aconteceu, mas a SÁBADO consultou o Diário da Manhã desse ano 1936 e a rubrica “Vida Cooperativa” não foi terminada.
Condes e bancos Embora as cartas tivessem quase sempre parágrafos iniciais a pedir desculpa pelo incómodo e por estar a roubar tempo, depressa se ia ao assunto. Eis o padre Aníbal da Silva Bastos, de Tondela (que tratava Salazar por tu), a interceder pelo filho de um amigo em 1956: “Se não puderes colocá-lo no Banco Ultramarino, vê se o colocas em qualquer outro banco ou em qualquer em O prego onde ele ganhe a vida.” Ou em 1958 o conde de Castro (João António Gomes de Castro) a pedir um cargo “na administração do futuro Banco do Fomento”.
Por falar em condes, eis o conde de Aurora em 1955 a pedir a Salazar para ser nomeado “para a próxima vaga no Supremo Tribunal Administrativo”. Outro conde, o de Penha Garcia, pediu para o filho o cargo de diretor adjunto do Instituto Português das Conservas de Peixe. Mais tarde, a mulher (a condessa) pediu para o outro filho o cargo de delegado do Governo na Sociedade Hidroelétrica do Revue (Moçambique). Em 1948, foi a condessa do Restelo a pedir que o neto (“filho único da minha filha mais velha que morreu em
1918 na epidemia pneumónica”) possa ocupar uma vaga que existia no Museu de Arte Popular.
Fruta e bebidas
Em 1946, Luís Coutinho
enviou azeite da sua colheita. Em 1961, João Cerqueira deu um conhaque de 1811, e Maximino Borges enviou (de Angola) um ouriço e castanhas. Em 1967, o presidente da Câmara de Amarante (José Abreu) deu garrafas de vinho de produção própria
Cravos
Em 1959, Maria Noronha
Cayolla enviou 27 cravos a Salazar, tantos quantos os anos que tinha de governante. Gualberto Borges Cabral também já lhe tinha enviado cravos (e ananases dos Açores).
Objetos
Ao longo das décadas,
Salazar recebeu livros, quinquilharia religiosa, medicamentos, sonetos, quadros e fotografias Finalmente, em 1954, o conde de Mahem (Francisco Xavier de Noronha da Costa Paulino) rogou a Salazar que lhe fosse concedida a Comenda de Cavaleiro da Ordem de Santiago de Espada (destinada a personalidades de reconhecido mérito científico, literário ou artístico). “Na inauguração das represas do Vale do Sorraia, que se realizou a semana passada, foram agraciados com comendas modestos operários que ali trabalharam durante
esses seis anos. Um barqueiro na represa do Douro foi também contemplado com uma comenda. E eu, que tenho 20 anos de África, onde me Inutilizei, e o resto da minha vida escrevendo contos e novelas para os jornais, nem sempre remunerados, e livros, não terei uma recompensa da Pátria?”
Os bancos – a CGD, o BNU, o Banco da Agricultura, ou o do Fomento- eram frutos muito desejados. Por exemplo, em 1938, Salazar recebeu uma carta de António Correla de Aguiar, cujo mandato de deputado estava a terminar ao mesmo tempo que abriam duas vagas de administradores do BNU e uma vaga de comissário do Governo junto do Banco de Angola. “Convinha-me muito um desses lugares”, escreveu, sem qualquer rodeio. Em 1940, Correia de Águiar enviou uma carta a Salazar a agradecer o cargo no BNU.
Divórcios e casamentos
Os pedidos a Salazar eram transversais a toda a sociedade. Houve quem lhe mandasse apenas o currículo, como se fosse um diretor de Recursos Humanos. Veja-se o caso do comandante Marques de Carvalho, 64 anos, secretário do Rei D. Manuel de Bragança, que pediu para ficar num dos “numerosos lugares de comissários do Governo” (os Comissários, ou Altos-Comissários, eram como diretores gerais numa determinada área: Mocidade Portuguesa, Exposição Universal, Desemprego, Angola, etc.).
Em 1954, um desembargador da Relação do Porto (António Maria Gonçalves Ferreira) pediu a Salazar o cargo que estava vago de juiz adjunto do Supremo Tribunal Militar. Ou a carta de José Pinto de Almeida a pedir para ser colocado como juiz no Supremo Tribunal Administrativo. Ou ainda Francisco Rosa Caeiro, em 1939, a começar assim uma carta: “Disseram-me que se encontramvagos dois lugares no Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos, tendo o segundo vagado ainda há poucos dias…”
Veja-se o caso de José António Sousa Barriga, cujo ordenado como secretário geral da Presidência do Conselho em 1962 – 6.5OOSOO (2.441) -, não chegava para a educação de sete filhos e para “manter um determinado nível social que prestigiasse as referidas funções”. Pedia “algum trabalho extra” (rogar um segundo emprego era muitas vezes um subterfúgio para o que realmente se queria: um aumento ou outro cargo mais bem remunerado).
Sousa Barriga pediu a Henrique Veiga de Macedo, presidente da União Nacional, e este remeteu o assunto a Salazar. Não sabemos o desfecho do caso, mas em 1968 Sousa Barriga ainda estava no cargo (poderá ter conseguido apenas um aumento). Seria depois secretário-geral da Assembleia Nacional e mais tarde da Assembleia da República. É onde trabalha hoje o seu filho, Jorge Barriga, como técnico especialista
não quis falar à SÁBADO sobre este assunto.
Salazar servia para tudo. Em 1965, Ernâni da Costa Branco pedia “a intervenção de V. Exa para que junto do Secretariado Nacional de Informação me fosse concedido um subsídio a fim de poder manter e desenvolver o meu negócio – uma adega típica e restaurante, em Cascais. Dignou-se V. Exa ordenar que fosse feito um inquérito do que se pretendia e, assim, os respetivos serviços o fizeram”. Mas passaram-se três meses e nada. Ernâni da Costa Branco pedia então “interferência de V. Exa” para que o caso se resolva.
Alguns pediam para que familiares fossem libertados das cadeias, muitos solicitavam transferência de postos nas Colónias para a Metrópole e vice-versa, ou queixavam-se de mau funcionamento de serviços edo comportamento de colegas ou personalidades, outros tinham conhecimentos internacionais para o Estado obter empréstimos no exterior. Havia bastantes pedidos de aumentos, como Joaquim Manuel da Costa Júnior, que, sendo coronel, ganhava “praticamente tanto como um major”. Por vezes, tinha-se a sensação que alguns não conheciam bem as regras. Logo em 1938 um jornalista, Félix Correia, contava a Salazar o que se sussurrava nos quartéis: “Certos oficiais queixam-se que um general, por exemplo, ganhe menos que certos rapazes, acabados de formar-se, que são nomeados para organismos oficiais e corporativos.”
Dezenas de pessoas pediam autógrafos ou desejavam conhecer Salazar (algumas conseguiam-no). Muitos invocam relações familiares, sociais e profissionais com Salazar
pessoas de Santa Comba Dão, amigos dos pais de Salazar (ou filhos dos amigos dos pais de Salazar), antigos colegas do seminário de Viseu, ex-colegas, alunos e vizinhos dos tempos de Coimbra, amizades iniciais em Lisboa, etc.
Por exemplo, em 1967, Maria Júlia Lobão Tello, “em nome da amizade que ligou nossas avós e mães”, veio pedir para Salazar interceder para a colocar como rececionista no Pos- OO to de Turismo do Caia (Eivas). Em 1944, José Mário Oliveira Batista alegava ser antigo colega do seminário de Viseu (ou seja, 40 anos antes) para pedir proteção para o seu filho, que estava na tropa. Em 1940, um antigo colega, António Martins de Almeida, advogado, pedia o lugar de presidente da Bolsa de Mercadorias do Porto. Para não falar das várias cartas de padres amigos (como António Barreiros, cónego da Sé de Viseu, ou Camilo Francisco Barros, colocado na Secretaria dos Breves, em Lisboa) a pedir empregos e ajudas para conhecidos.
Uma casa a Salazar Havia quem informasse Salazar sobre as vicissitudes do seu divórcio, mas também quem o convidasse para o seu casamento. Como este: “Maria Maximina Cardeira e João Ferro Martins têm a honra de convidar Vossa Excelência a assistir ao casamento de sua filha Natalina Martins Cardeira com Luís Gonçalves Henriques, que se realiza no dia 8 de julho, às 13 horas na Igreja dos Jerónimos.”O8 de julho estava riscado a caneta e por cima foi escrito “2 de A mulher que durante toda a vida tomou conta dos assuntas domésticos do ditador recebeu também inúmera correspondência (entre 1937 e 1968) com pedidos (diretos ou dissimulados) para interceder junto de Salazar. Alguns pedidos incluíam assuntas bizarros para uma governanta (como pedidos de transferência de militares ou para ficarem colocados em casa para oficiais). Maioritariamente vindas de pessoas de origem modesta, algumas cartas incluíam fotografias dos filhos de quem pedia.
agosto”. Entre os anónimos, um famoso: Fulgêncio Batista, o homem que Fidel Castro depôs em Cuba em 1959 e que estava exilado em Portugal, convidou Salazar a ir a Madrid em 1964 assistir ao casamento do filho Jorge Batista Fernández.
Em 1964, um sírio (Zareh Chahinian) escreveu a Salazar a dizer que se ia casar e que queria passar a lua-de-mel em Portugal, mas que não tinha dinheiro para esses luxos. Resposta do secretário de Salazar: “Embora não seja efetivamente costume atender a tais solicitações, o Senhor Presidente, atendendo à razão especial invocada, encarrega-me de informar que terá muito prazer em proporcionar a V. Excia. ea sua noiva a estadia durante cinco dias numa das Pousadas de Portugal.”
Pedidos também para colocar os filhos em escolas. Em 1954, Ema Ferreira de Almeida pedia para a filha entrar no Liceu D. Filipa de Lencastre. Em 1932, o brigadeiro João de Almeida pedia a Salazar que resolvesse um problema no Colégio Militar (não deixaram matricular o filho por não ter idade). Numa nota a Salazar, a instituição parecia concordar com as pretensões do militar e deixava até um enquadramento curioso: “É bem sabido que raro tem sido o ano, pelo menos nas últimas décadas, em que a lotação do Colégio não tem sido excedida, em atenção à benesse política ou à amizade pessoal.”
Poucos pedidos a Salazar foram tão extraordinários como oda professora Clotilde Abrantes Maciel Chaves, que a 31 de dezembro de 1957 deixava o seguinte por escrito: “Tendo sido beneficiada, no corrente mês, com uma casa no bairro de Alvalade [Lisboa], pertencente à Caixa Sindical de Previdência dos Profissionais do Comércio, e sabendo que o facto se deve à atenção e interesse dispensados ao pedido que tomei a liberdade de dirigir a Vossa Excelência, em julho do corrente ano, venho mui respeitosamente manifestar a Vossa Excelência o meu profundo reconhecimento ea mais sincera gratidão.” A professora Clotilde aproveita para reforçar outro pedido vindo da carta anterior: “Uma casa de renda económica num dos bairros, já por mim mencionados na carta anterior, casa esta, que ficaria mais tarde para minha querida filha.”
Igual sorte teve Mariana Victória de Carvalho, que em 1945 escreveu a Salazar pelo seu “coração bondoso”. Porquê? “Esta minha impressão não é só de hoje, já a tinha há uns poucos de anos, ou seja, quando requeri uma casa no Bairro de Belém [Lisboa] e não ma quiseram dar, e eu dizia
‘não a tenho porque não tenho possibilidade de falar ao Sr. Dr. Oliveira Salazar’.” Mariana vinha agradecer a Salazar porque desta vez conseguiu chegar até ele e obteve uma casa no Bairro da Encarnação.
“SALAZAR ERA O CENTRO DE UMA REDE DE CUNHAS, FAVORES E TRANSFERÊNCIAS DA PROVÍNCIA PARA A CAPITAL”
[UMA CASA EM ALVALADE] “VENHO MANIFESTAR O MEU PROFUNDO RECONHECIMENTO E SINCERA GRATIDÃO”
“DISSERAM–ME QUE ESTÃO VAGOS DOIS LUGARES NO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS…”
“CONVINHA–ME MUITO UM DESSES LUGARES…”, ESCREVEU UM DEPUTADO A SALAZAR SOBRE VAGAS EM BANCOS
“NÃO MA QUISERAM DAR [CASA EM BELÉM] PORQUE NÃO TINHA POSSIBILIDADE DE FALAR AO SR. DR. SALAZAR”
As cartas escritas pela mãe do sociólogo António Barreto a pedir uma colocação do marido no Porto
Beatriz Costa
A atriz escreveu quatro cartas (1961-64) a desejar Feliz Natal e a enviar “ternura” e “carinhos”
Camilo
Em 1936, a neta de Camilo Castelo Branco escreveu a Salazar (um camiliano confesso) a pedir ajuda. Em 1938 conseguiu pensão vitalícia de mil escudos .
‘V 1T Ir ver a Rainha
Pelo menos duas senhoras pediram lugares à janela
Lúcia A alegada vidente de Fátima coassinava as cartas escritas pelas Carmelitas Descalças de Santa Teresa (Coimbra)
Diva do teatro
Amélia Rey Colaço e o marido (Robles Monteiro) escreveram muito a Salazar entre 1931 e 1964 a expressar “admiração e gratidão”.O tema recorrente era a iminente falência da sua companhia teatral
A rebeldia de António Barreto quando era jovem foi assunto na carta que a mãe escreveu a Salazar
As cartas iam para o gabinete, para a sua casa particular, em Lisboa, ou para o forte de São João do Estoril
Espião
Em 1946, Salazar recebeu cartas do italiano Umberto Campini, que se soube depois ter sido espião em Moçambique
O politólogo Jaime Nogueira Pinto diz que Salazar não tinha grande recetividade para aceder a cunhas. “Não creio”
“MÁRIO DE FIGUEIREDO ERA DA BEIRA ALTA E DURANTE ANOS A CP ESTAVA CHEIA DE GENTE DA BEIRA ALTA”
O historiador Fernando Rosas vê no Estado Novo uma pirâmide de cunhas, de que Salazar era o topo O caso do acidente
Alemã matou criança num acidente. Pediu ajuda a Salazar
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O conde de Mahem enviava esta foto da família a Salazar e pedia uma comenda: a Ordem de Santiago de Espada
Cães
Em 1958, uma turista americana jurava ter visto em Portugal um “mercado de cães”. Salazar respondeu-lhe: eram peles de raposa
PADRE BASTOS: “VÊ SE O COLOCAS EM QUALQUER BANCO OU EMPREGO ONDE [O AMIGO] GANHE A VIDA”
Ofertas a Salazar
O que as pessoas enviavam ao ditador
O
Maria Eugénia
Sá da Bandeira tinha 15 filhos e pediu ajuda a Salazar (talvez tenha sido só dramatização…)
O
A atriz Sofia Sá da Bandeira é um dos 175 descendentes de Maria Eugénia. A sua avó era uma força da natureza
O
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18/11/2020 | Imprensa, Notícias do dia
CASHBALL
P.4 E 5
110 mil em notas pagos André Geraldes
OCTÁVIO LOPES
EMPRÉSTIMO DE FUTEBOLISTAS PROCESSO CASHBALL
futebol Verba que serviu para liquidar os empréstimos de Gauld e Baldé ao Desp. Aves não terá entrado nas contas leoninas. Avenses voltaram a pagar
André Geraldes, ex-dirigente do Sporting, terá recebido 110 mil euros emnotas das mãos de losé Luís Gonçalves, antigo funcionário do Desportivo das Aves, verba que serviu para pagar os empréstimos dosjogadores Ryan Gauld e Mama Baldé, apurou o Correio da Manhã junto de fontes conhecedoras do processo. Geraldes, no entanto, não terá feito entrar essa verba nos cofres da SAD leonina, garantiram as mesmas fontes.
Quando a atual administração da Sporting SAD tomou posse (setembro de 2018), e descobriu o que se passava (início de 2019), contactou o Desp. Aves, que regularizou a situação. Passado algum tempo José Luís Gonçalves deslocou-se a Alvalade e assegurou à SAD que, em nome do Desp. Aves, já tinha pagado a André Geraldes, em dinheiro vivo, os empréstimos de Gauld e Baldé. Garantiu que o tinha feito presencialmente em três ocasiões: em duas entregou 40 mil e na terceira de 30 mil.
Sempre em notas. Prontificou-se a deslocar-se à Polícia Judiciária com os dirigentes leoninos para contar tal episódio. Depois disso, José Luís Gonçalves não mais voltou a contactar a SAD verde-e-branca.
Os empréstimos de Baldé (2017/18 e 2018/19) e Gauld (2017/18) custaram 150 mil euros ao Desp. Aves. E foi precisamente esse montante que o clube pagou ao Sporting. Já José Luís Gonçalves garantiu aos leões que pagou 110 mil euros a Geraldes. Contas feitas: o Desp. Aves terá pagado 260 mil euros pelos empréstimos dos dois futebolistas.
Contactada pelo CM, fonte oficial da SAD leonina limitou-se a confirmar que o Desp. Aves foi contactado para pagar os 150 mil euros dos empréstimos dos jogadores que estavam em falta e que tal foi feito. A mesma fonte não fez qualquer comentário sobre as entregas de dinheiro de José Luís Gonçalves a André Geraldes.
Já José Luís Gonçalves confirmou que entregou uma “verba em numerário” a André Geraldes. “É verdade que fui a Lisboa, a Alvalade, entregar-lhe dinheiro em notas, mas já não me lembro da quantia. Recordo que tal me foi pedido pela minha entidade patronal [Desp.
Aves]. Foi para pagar os empréstimos de Ryan Gauld e Mama Baldé”.
Contactado ontem pelo CM, André Geraldes afirmou: “É mais outra notícia, como a do Cashball, em que acabou por ser feita justiça [não foi acusado, ver peça ao lado]. Sei dos empréstimos de Mama Baldé e Ryan Gauld ao Desp. Aves. Nunca me foi entregue qualquer tipo de valor em numerário. Nem sei quem inventou uma coisa dessas. Nem nunca estive com ninguém que me entregasse qualquer tipo de valor. Desminto taxativamente que me tenha sido entregue qualquer tipo de valor”.
“Já agora, e se é para reproduzir tudo o que digo, à imagem do que sucedeu em casos anteriores, mais uma vez tenta-se denegrir a imagem de um homem”, concluiu o antigo dirigente do Sporting.
DESP. AVES TERÁ PAGADO 260 MIL EUROS POR EMPRÉSTIMO DE 150 MIL
DINHEIRO NO FUTEBOL
ANDRÉ GERALDES DIZ QUE NUNCA RECEBEU DINHEIRO EM NUMERÁRIO
ESTRELA COSTA “PAGÁMOS A DÍVIDA” Estrela Costa, antiga assessora da SAD do Desp. Aves, confirmou ontem ao CM, que a sociedade foi contactada pelo Sporting, por causa da verba relativa aos empréstimos de Mama Baldé e Ryan Gauld. “Pagámos a dívida. Uma verba na ordem dos 150 mil euros”, disse.
WEIZAHO SPORTING E DINHEIRO
Não duvido nada que Luiz Andrade, o anterior presidente da SAD, tivesse tirado dinheiro da sociedade para entregar a José Luís Gonçalves e que esse dinheiro nunca tivesse chegado ao Sporting”, disse ontem, ao CM, Wei Zhao, líder da D. Aves SAD, na altura em que foram liquidados os 150 mil aos leões.
CORRUPÇÃO – FORMA TENTADA UMA VEZ QUE 0 CRIME É CONSUMADO PELA TENTATIVA, PAULO SILVA DEVERÁ SER ACUSADO DE CORRUPÇÃO DESPORTIVA NA FORMA TENTADA.
LUIZ ANDRADE – “NÃO TIREI DINHEIRO”
Não tenho conhecimento de nada. Não dei dinheiro a José Luís Gonçalves, nem tirei dinheiro da sociedade. Mais, eu até pensava que o Sporting não tinha cobrado qualquer verba pelos empréstimos de Mama Baldé e Ryan Guald”, disse ontem, ao CM, Luiz Andrade, antigo presidente da SAD do D. Aves.
CM nega pagamento de entrevista ao denunciante
O Correio da Manhã nega a existência de qualquer pagamento de entrevista ao empresário Paulo Silva, denunciante do processo Cashball, que investiga uma alegada rede de corrupção para beneficiar a equipa de andebol do Sporting.
O relatório final da Polícia Judiciária (PJ) sobre o caso Cashball afirma que o empresário Paulo Silva estabeleceu contactos com jornalistas – sem especificar os órgãos de comunicação social – para receber uma quantia de 30 mil euros para dar uma entrevista sobre os factos em investigação. Mais à frente, a PJ recorda que foi dada entrevista ao CM, sem referir a existência de qualquer contrapartida, por configurar a suspeita de crime de violação do segredo de Justiça. “Apesar de notificado sobre o facto de o processo se encontrar em segredo de Justiça, este concedeu tuna entrevista ao jornal Correio da Manhã, onde revelou todo o conteúdo do objeto de investigação dos presentes autos”, pode ler-se.
O CM nega qualquer acordo de pagamento. Escutas entre Paulo Silva e o seu advogado demonstram que nenhum valor foi pago. O escândalo de corrupção foi revelado em exclusivo pelo CM. Paulo Silva afirmou que tinha sido mandatado, através de intermediários, para corromper árbitros de andebol e jogadores de futebol adversários de modo a que favorecessem o Sporting em campo. Para além do denunciante, são arguidos neste caso André Geraldes, então diretor-geral da SAD
PAULO SILVATERA TENTADO SUBORNAR ÁRBITROS E JOGADOR
INVESTIGAÇÃO AO ESQUEMA DE SUBORNOS ESTÁ NA RETA FINAL
Dois anos e meio depois, a investigação do DIAP do Porto está na reta final. Por falta de provas, o Ministério Público deverá acusar apenas o denunciante Paulo Silva e dois árbitros. A PJ não encontrou nos telemóveis de André Geraldes, João Gonçalves e Gonçalo Rodrigues as mensagens alegadamente comprometedoras que foram fornecidas pelo arguido Paulo Silva. • do Sporting, João Gonçalves e Gonçalo Rodrigues, empresário e ex-funcionário do Sporting, que Paulo Silva acusava de serem os intermediários. Paulo Silva terá oferecido 2500 euros a dois árbitros em 2017 e ainda 25 mil euros a um jogador de futebol adversário dos leões, confirmaram os visados aos investigadores. No caso do futebol, o atleta do Grupo Desportivo de Chaves recusou a proposta de 25 mil euros -12 500 por cada um dos jogos – para beneficiar o Sporting em campo.
André Geraldes era o braço-direito de Bruno de Carvalho (na foto)
NOTA DA DIREÇÃO
A Direção do Correio da Manhã desmente, de forma indignada e categórica, a imputação de acordo para pagamento de declarações exclusivas do denunciante no caso Cashball! Nunca pagámos nem pagaremos a alguém para prestar declarações! A Direção do
CM nunca aceitou essas práticas. Condena-as, aliás, por poderem manipular a verdade dos factos. Desconhecemos ainda em que indícios a PJ assenta essa grave presunção de acordo para declarações em ‘on’, mas estamos seguros de que são fundados em sinais falsos, que mais não poderão provar do que o trabalho agressivo e corajoso dos seus jornalistas, para servir a verdade dos factos aos seus Leitores.
A presunção de pagamento de declarações é, em si mesma, uma difamação grave sobre o CM, que não iremos deixar impune.
PJ apanha 60 mil em notas no Estádio
Nas buscas ao Estádio José de Alvalade, a Polícia Judiciária apreendeu mais de 60 mil euros no gabinete de André Geraldes, então braço-direito de Bruno de Carvalho. Quando foi interrogado, Geraldes referiu que o dinheiro estava relacionado com a compra de bilhetes por parte das claques. O dinheiro estava guardado em envelopes com o logótipo do Sporting e inscrições manuscritas.
André Geraldes, antigo dirigente do Sporting