30/12/2022 | Imprensa, Notícias do dia
Se 2022 não vai deixar muitas saudades, 2023 começa marcado por uma crise política e muitas incertezas
Com o ano a acabar agitado, as questões políticas acumulam-se para 2023. Com a guerra na Ucrânia longe do fim, é a frente externa que coloca mais ameaças. Todas as perguntas e respostas que precisa de saber para enfrentar o novo ano.
PERGUNTAS PARA 2023
Textos Ana França, Carla Tomás, Cristina Margato, Cristina Peres, Diogo Pombo, Eunice Lourenço, Hélder Gomes, Hugo Franco, Isabel Leiria, Joana Ascensão, Joana Pereira Bastos, João Diogo Correia, Lídia Paralta Gomes, Liliana Coelho, Luciana Leiderfarb, Miguel Cadete, Raquel Albuquerque, Raquel Moleiro, Ricardo Marques e Salomé Fernandes Ilustrações Helder Oliveira
Previsões Com o ano a acabar agitado na frente nacional, as questões políticas acumulam-se para 2023. Mas com a guerra na Ucrânia longe do fim, é a frente externa que coloca mais ameaças. Nas 50 perguntas do Expresso para o ano novo, porém, procuramos os caminhos do futuro próximo em todas as áreas. E no caderno de Economia há mais 50 perguntas
POLÍTICA
001 Tantos casos, mais um ano de guerra e de inflação podem deitar abaixo o Governo?
A chave para essa resposta está nas mãos do Presidente da República que avalia a situação política e o regular funcionamento das instituições. O Governo tem agora mais uma hipótese para se renovar; trata-se de uma maioria absoluta legitimada há muito pouco tempo e com o PS a manter-se na liderança das sondagens, Marcelo não quererá voltar a ser contrariado nas urnas (ver pág. 8). Salvo uma enorme surpresa, a crise não será atómica em 2023.
002 António Costa vai para Bruxelas?
Não há nenhum cargo importante europeu a vagar em 2023 e o primeiro-ministro já garantiu que vai cumprir o mandato até ao fim. Na entrevista que publicamos nesta edição do Expresso (ver pág. 6) até admite voltar a concorrer em 2026.
003 Marcelo vai falar menos?
Não parece. Como mostrava a sondagem publicada na semana passada pelo Expresso, a maioria dos portugueses, ao contrário do que Marcelo chama de “bolha”, não acha que o Presidente fala demais. E, como se viu no fim de semana do Natal e ao longo dos últimos dias, vai continuar a falar muito.
004 Luís Montenegro vai afirmar-se como líder da oposição?
Os últimos sinais são de descontentamento dentro do PSD e tanto Moreira da Silva como membros da antiga direção de Rui Rio preparam-se para acabar as tréguas logo no início do ano. Montenegro acha que tem tempo para se afirmar, mas dentro do partido há cada vez maior desconforto com a liderança que André Ventura tem mostrado na oposição ao Governo sobre os últimos casos.
005 O que vai mudar na Iniciativa Liberal?
Os dois candidatos garantem “continuidade”, mas prometem também diversificar as bandeiras do partido, que até agora defendeu desagravamento fiscal e a liberdade de escolha na Saúde e Educação. Rui Rocha e Carla Castro admitem que a IL não pode ser monotemática e terá que apostar em novas áreas, como Habitação, Ambiente e Mobilidade Social. A nível interno, ambos garantem mais “diálogo” em resposta aos críticos da atual direção. Mas a saída do líder pode ter impacto.
006 No Chega mudará alguma coisa?
O Congresso de Santarém, marcado para o final de janeiro na sequência do mais recente chumbo dos estatutos do Chega pelo Tribunal Constitucional, será um bom indicador. Os juízes apontaram a falta de democraticidade interna e uma excessiva concentração de poderes no presidente do partido. A contestação interna poderá perder gás com o mais do que certo afastamento do enfant terrible Nuno Afonso da direção do partido. Na arena parlamentar, o estilo truculento é que não cessará.
007 Catarina Martins continua a liderar o BE?
A oposição interna no Bloco de Esquerda é, por enquanto, ténue e não particularmente dirigida à coordenadora. Catarina Martins leva já dez anos à frente do partido, mas os bloquistas insistem que se regem por princípios que não os do tempo ou dos resultados eleitorais. Além disso, legislativas só em 2026. O BE discute o futuro na primavera e Catarina só sairá se quiser, mas depois volta a ter reunião magna em 2025, mais do que a tempo de lançar uma cara nova, que aproveite o previsível desgaste do Governo.
008 A Câmara de Lisboa pode ter eleições antecipadas?
Pode, mas é muito improvável. Tanto pela via de uma eventual renúncia de Carlos Moedas e respetivos vereadores, como pelo lado da oposição. O orçamento para 2023 está aprovado e era preciso que a esquerda agora chumbasse propostas relevantes ao ponto de dar argumento a Moedas para forçar a saída. O que seria um erro político, sobretudo do PS, que ficaria com o ónus de obrigar os lisboetas a voltar às urnas. Mas o xadrez político em Lisboa vai continuar tenso e com os nomes do próximo candidato a agitar o PS.
009 O governo açoriano aguenta-se?
No final de 2021, André Ventura recomendou ao então já único deputado regional do Chega que retirasse o apoio ao governo de José Manuel Bolieiro. Mas José Pacheco não acatou a indicação, avisando, ainda assim, tratar-se da “última oportunidade” que daria ao executivo. O Governo de coligação PSD/CDS/PPM, sustentado por acordos de apoio parlamentar com o Chega e a IL, parece frequentemente na iminência de ruir. Mas nenhum partido da direita quer ficar com o ónus de devolver o poder ao PS. Além disso, as regionais de 2024 estão já ao virar da esquina.
010 Vai ser criada a Entidade da Transparência?
Sim. No plano legal existe desde 2019, mas a criação efetiva depende do Tribunal Constitucional que se comprometeu a encontrar instalações provisórias até ao fim deste ano. O Tribunal Constitucional continua a prometer para “breve” uma solução e a constituição da entidade que deve fiscalizar os rendimentos e as incompatibilidades dos políticos e dos altos cargos do Estado.
011 A eutanásia vai entrar em vigor?
A lei chega pela terceira vez às mãos do Presidente no início do ano, e é previsível que Marcelo a envie para o Tribunal Constitucional. Mesmo que este considere inconstitucional algum aspeto da lei, a maioria que aprovou a legalização da morte assistida pode aprovar novo articulado.
012 O bloco central vai entender-se para a revisão constitucional?
Pelo menos para os dois principais temas — acesso a metadados para investigação e suspensão de direitos em caso de emergência sanitária — deve haver acordo. O PSD insiste em mudanças no sistema político, que o PS não quer, mas como a revisão só se faz com acordo entre os dois os socialistas terão de fazer alguma cedência.
013 O que esperar da Jornada Mundial de Lisboa? Manuel Clemente sai depois?
A julgar pelos primeiros meses de inscrições, a JMJ deve ter a participação de, pelo menos, um milhão de jovens de todo o mundo que, de 1 a 6 de agosto, se encontram com o Papa em Lisboa. Podemos contar com festa e Marcelo, Costa e Moedas em encontros e fotografias com Francisco, mas também com confusão nos transportes e dificuldades no aeroporto da capital. O cardeal-patriarca completa 75 anos a 16 de julho, e poderá apresentar a resignação, mas só deve ser substituído depois da JMJ.
SOCIEDADE
014 O que vai mudar a direção executiva do SNS?
Em entrevista em novembro, Fernando Araújo dizia que “a principal tarefa desta direção executiva é recuperar a confiança dos profissionais e dos utentes”. O diretor-executivo do SNS quer reduzir a independência das peças do sistema — hospitais, centros de saúde, centros de cuidados continuados — para que o todo funcione como uma rede articulada. Para isso, propõe-se aumentar a organização e o planeamento, contando com um orçamento para a saúde 10% acima do de 2022. A dúvida é se o apoio político se mantém quando chegar a contestação.
015 Acesso às urgências vai ser mais restrito?
Parece que sim. A direção executiva do SNS tem testado um modelo de abertura de centros de saúde ao fim de semana para aliviar as urgências hospitalares. É preciso equipar os centros de saúde, aumentar o encaminhamento dos doentes para lá e fortalecer as alternativas, como o SNS24, para que as pessoas não se dirijam ao hospital, a menos que tenham de facto uma situação urgente em mãos — e estas não chegam a 60%.
016 Vai arrancar o julgamento de Sócrates?
Há quase uma década, José Sócrates foi detido à saída do avião que o trazia de Paris. Passou 11 meses preso e foi acusado, em 2017, de 31 crimes, incluindo corrupção. Em 2021, o juiz Ivo Rosa reduziu a acusação ao ex-primeiro-ministro a seis crimes de branqueamento e falsificação de documentos e decidiu que dos 28 arguidos só cinco iriam a julgamento, passando os 189 crimes em causa para 17. Depois disso seguiu-se uma sucessão de recursos. O processo ainda deverá subir à Relação. É pouco provável que o julgamento comece em 2023.
017 Abusos na Igreja:
o relatório da comissão vai ter consequências?
As expectativas são baixas. O próprio Pedro Strecht o admitiu quando referiu que a maioria dos crimes denunciados à Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa já tinha prescrito. Uns porque os prazos legais foram ultrapassados, outros porque as vítimas deram poucas informações sobre os alegados agressores. E são já mais de 400 as queixas.
Dia 16 de fevereiro saberemos mais na conferência de imprensa marcada pela comissão na Gulbenkian.
018 Haverá polícias expulsos por racismo?
Se o inquérito “de caráter prioritário” da Inspeção-Geral da Administração Interna confirmar a gravidade das três mil publicações do foro racista partilhadas nas redes sociais por polícias, é provável que várias dezenas de agentes da PSP e militares da GNR sejam de facto expulsos.
019 Poderemos evitar eventos climáticos extremos?
Os fenómenos extremos, como incêndios e cheias devastadoras, tendem a ser inevitáveis, em consequência das alterações climáticas. Apesar de não ser possível travar a sua ocorrência mais frequente e violenta, podem-se atenuar os impactos com medidas de prevenção e de adaptação. No caso dos incêndios, passam por ter uma floresta em mosaico e bem gerida e por mais investimento em prevenção. Já no caso das inundações urbanas e fluviais e dos riscos subsequentes para pessoas e bens, poderão ser atenuados com a renaturalização de solos e ribeiras impermeabilizados, assim como com a proibição de construção em áreas em leito de cheia. Haverá capacidade política?
020 Vamos reduzir o desperdício alimentar?
Estima-se que se desperdice um milhão de toneladas de alimentos por ano em Portugal. A subida da inflação e a crise que se avizinha tendem a reduzir a produção e o consumo em excesso, que agravam o desperdício. Um terço do desperdício alimentar tem origem nas famílias. Ter em atenção os prazos de validade e o armazenamento adequado dos alimentos é uma forma de evitar que vão parar ao lixo. Também na restauração, no retalho e na agricultura há que alterar formas de produção, de armazenamento e de distribuição. Baixar os preços de bens em fim de prazo de validade e doar alimentos crus e confecionados em bom estado são formas de reduzir o desperdício. A resposta, aqui, depende de todos nós.
021 Os manuais e os exames vão passar a ser digitais?
No final do presente ano letivo, as provas de aferição dos 2º, 5º e 8º anos (com exceção das de Expressão Artística e Física) serão realizadas em formato digital e alguns alunos do 9º ano testarão o mesmo modelo em relação às provas finais de Matemática e de Português. No ano seguinte, o projeto de digitalização dos exames chega ao secundário. Prevê-se que em 2025 todos os testes de avaliação externa sejam feitos no computador.
022 Reduziremos a pobreza?
Não, ao contrário do que seria desejável e com risco de comprometer as metas europeias estabelecidas para 2030. O aumento do custo de vida já tem um impacto muito forte nas famílias, sobretudo nas que já tinham mais dificuldades, e não se antecipa um recuo dos preços no próximo ano. O peso acrescido que se sente na carteira, desde a conta do supermercado, da luz ou gás às rendas e prestações da casa ao banco, irá manter-se nos próximos meses e os salários não estão a acompanhar esse aumento. A tendência será de empobrecimento.
023 Os protestos dos professores vão aumentar?
Sim. Há uma greve em curso, sem prazo para acabar, convocada pelo STOP, uma greve ao primeiro tempo letivo de cada professor na primeira semana de aulas em janeiro, marcada pelo SIPE, e a partir de 16 iniciam-se 18 dias de paralisação agendados pela Fenprof e outros sete sindicatos. A 14 de janeiro haverá uma marcha e para 11 do mês seguinte está prevista uma manifestação nacional. Simultaneamente, continuarão a decorrer as negociações com o Ministério da Educação sobre a revisão do processo de seleção de professores. O que daí resultar e também o modo como os professores aderirem aos apelos dos sindicatos determinarão a continuação, ou não, dos protestos.
024 Vão abrir mais cursos de Medicina?
É possível. A Universidade de Aveiro formalizou em novembro uma proposta para a criação de um curso de Medicina com cerca de 40 vagas. À partida, estão reunidas todas as condições — como a parceria estabelecida com vários centros hospitalares e agrupamentos de centros de saúde da região — para vir a ter luz verde. Se assim for, o curso arranca já em setembro de 2023. Outras universidades públicas, como Évora e Trás-os-Montes, estão também a preparar candidaturas. No privado, a CESPU e a Universidade Fernando Pessoa, ambas a Norte, aguardam acreditação. Só que, nos últimos anos, a Ordem dos Médicos tem-se manifestado sempre contra a abertura de novos cursos. E agora?
025 Teremos novos casos de escravatura no Alentejo?
Sim. Depois da megaoperação da PJ, em novembro, que pôs cobro a uma rede de exploração de mais de 350 imigrantes na agricultura em Cuba, no Alentejo, e que permitiu referenciar 218 potenciais vítimas de tráfico de seres humanos, Luís Neves, o diretor da PJ, garantiu a realização futura de mais operações. Tanto este órgão policial como o SEF têm dezenas de outros processos em investigação. Portugal está na rota da escravatura laboral como país de destino. O tráfico humano aumentou quase 40% em 2021, sendo a maioria dos casos de exploração laboral de homens.
026 A emigração aumentará?
É difícil saber. Por um lado, os salários continuam a ser muito baixos em Portugal e bastante mais atrativos em vários países da Europa, em particular para os jovens. Mas por outro lado a inflação sente-se em todo o mundo, o que significa que o custo de vida também aumentou nos destinos mais comuns da emigração portuguesa.
CULTURA
027 Haverá uma recessão no sector dos concertos?
Não. A música ao vivo continua a conhecer uma época de ouro. Não só porque a transição para o
streaming encolheu os rendimentos da música gravada, mas, sobretudo, porque os cerca de 30 meses de pandemia e consequente encerramento dos espetáculos levam a que os artistas (e os músicos e equipas técnicas, bem como os promotores) procurem recuperar o rendimento perdido. A oferta tende a aumentar. Em Portugal, o calendário comporta mais um grande festival e, após os confinamentos, o público está desejoso de grandes eventos.
028 Vamos voltar a ter uma série de sucesso como “Pôr do Sol”?
Como se mede o sucesso de uma série de televisão? A qualidade da escrita e o cuidado na realização transformaram “Pôr do Sol” num objeto de culto de um certo segmento da população e num fenómeno de algumas redes sociais — e por isso pode repetir-se. São 16 episódios, que começaram na RTP e chegaram à Netflix. Para a grande maioria dos portugueses, contudo, o televisivo sol que se põe não chegou sequer a nascer.
029 É desta que Lobo Antunes é Nobel da Literatura?
Alguém mais cínico seria tentado a responder que é mais provável esta pergunta voltar a ser feita no final de 2023 do que o escritor português receber o prémio maior da literatura. Por outro lado, as decisões da academia sueca são quase sempre improváveis. Aos 80 anos, acabou de publicar mais um romance, “O Tamanho do Mundo”, e assim tem sido na última década, ao ritmo de um por ano. Em 2019, o filósofo francês Berard-Henri Lévy declarou-se publicamente a favor da atribuição do Nobel ao autor. Porém, um ano antes o próprio Lobo Antunes tinha desvalorizado corrosivamente essa possibilidade.
030 O Ministério vai rever o Programa de Apoio às Artes?
Até agora o ministro da Cultura não reconhece qualquer problema no Programa de Apoio às Artes. Pedro Adão e Silva tem optado por responder ao descontentamento do sector sublinhando o facto de ter aumentado o orçamento (com o concurso já a decorrer). O ministro irá ao Parlamento a 11 de janeiro, reunindo dia 4 com A Plateia. Nas bancadas da oposição há quem queira que o Programa de Apoio às Artes seja revisto. Não é o cenário mais provável, mas a contestação promete continuar.
031 As touradas vão acabar?
É pouco provável. Pelo menos por decreto. Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura que, por inerência, tutela o sector, já referiu deter “respeito e absoluta tolerância” com a tourada, ao contrário da sua antecessora. Porém, os espetáculos taurinos já conheceram melhores dias no que respeita a número de espectadores, em consonância com a guerra que lhes é movida pelas associações de defesa dos animais.DESPORTO
032 Portugal iniciará o apuramento para o Euro 2024 com solução no banco?
O Mundial no inverno e a saída de Fernando Santos criaram um problema à FPF, já que boa parte dos possíveis alvos estão sob contrato, como José Mourinho, ligado à Roma até 2024. Negociar uma saída será sempre mais fácil no final da época e Portugal arranca a qualificação em março com jogos com Liechtenstein e Luxemburgo. A FPF terá margem de manobra para esperar e atacar o início da qualificação com uma solução provisória.
033 Irá Ronaldo jogar na seleção em 2023?
Ronaldo já mostrou vontade de jogar o Europeu, em 2024, e depois do Catar não deu sinais de querer abandonar a seleção. Dificilmente sairá sem ser pelo seu pé, contudo é impossível não olhar para os factos: em fevereiro completa 38 anos, o Mundial correu-lhe francamente mal e ao que parece irá jogar para uma liga periférica, caso se confirme a Arábia Saudita.
034 Teresa Bonvalot vai entrar no circuito mundial de surf?
Em 2022, a expressão “morrer na praia” adequou-se ao que aconteceu a Teresa Bonvalot: chegou à final da derradeira etapa do Challenger Series, circuito de qualificação, a precisar de um 2º lugar caso a única adversária que não podia ganhar ficasse em 1º — e acabou uma posição abaixo. Aos 23 anos, nunca uma portuguesa estivera tão perto de entrar no mundial. A aptidão, o talento e a experiência (agora ainda mais) estão a favor da surfista.
035 Diogo Ribeiro conquistará a 1ª medalha nos Mundiais de natação?
Diogo Ribeiro apresentar-se-á nos Mundiais, em julho, como medalha de bronze nos 50 metros mariposa a nível europeu e com três títulos de campeão mundial júnior. No Japão, o nível será outro, com potências como EUA e Austrália na contenda. Chegar a uma final será um objetivo positivo, mas o próprio atleta admite que pode conseguir “até algo mais”.
036 Portugal vai ganhar um jogo no Mundial de râguebi?
Possível, mas muito difícil. Como em 2007, Portugal calhou num grupo complicado: um ex-campeão mundial (Austrália), uma potência do Seis Nações (Gales), os homens do Pacífico Sul que costumam ter a maior estampa física da prova (Fiji) e os europeus que se qualificaram sem derrotas (Geórgia). Os ‘Lelos’ serão a hipótese mais realista de os ‘Lobos’ lograrem uma inédita vitória.
037 Quem será a próxima transferência milionária no futebol português?
Depois do Mundial de futebol, onde foi parte ativa do 11 que conquistou o título, Enzo Fernández tornou-se um dos médios mais cobiçados da Europa. O jovem de 21 anos dificilmente permanecerá muito mais tempo no Benfica — a dúvida é se o levam já em janeiro ou se dá para o segurar até ao verão.
038 Carlos Alcaraz vai dominar o ténis?
Cinco títulos em 2022, incluindo o US Open, escancararam o espanhol de 19 anos na cena do ténis. O seu jogo potente e de risco constante fê-lo acabar o ano como número um do
ranking ATP, vaticinando-lhe um 2023 com novo desafio: a pressão das expectativas e de ter que render. Parte à frente de outros nomes emergentes como Rune, Ruud, Tsitsipas ou Zverev, mas ainda terá dois ‘velhos’ obstáculos: os trintões Nadal e Djokovic.
MUNDO
039 Como terminará a revolta no Irão?
Os protestos já contam mais de 100 dias e as imagens que nos chegam do Irão mostram que as pessoas continuam a acorrer às ruas apesar dos castigos aplicados serem cada vez mais severos. Pelo menos 506 pessoas já perderam a vida e outras 40 aguardam execução, segundo uma investigação da CNN. Sem liderança coesa e com este nível de repressão, tortura, prisão e morte é pouco provável que a liderança dos aiatolas venha a ser derrubada, porém os iranianos dizem que algumas mudanças já são visíveis nas ruas. Um exemplo é a recusa de muitas mulheres em usar o lenço sobre os cabelos. Não haverá revolução, mas talvez pequenas aberturas no regime.
040 Trump vai ser acusado?
Há vários indicadores nesse sentido, sim. Porém o caso é muito sensível, uma vez que Trump já apresentou a candidatura à Casa Branca e levá-lo a tribunal poderia ser considerado um ato desenhado especificamente para o travar. O homem que neste momento dirige as investigações, Jack Smith, já chamou a depor várias pessoas que estiveram em contacto com Trump durante as suas tentativas para interferir com o resultado das presidenciais de 2020.
041 A China vai invadir Taiwan?
A China afirma que Taiwan é “uma questão interna”. A aliança internacional que os EUA e a União Europeia mostraram contra a Rússia pode levar a China a ser mais cautelosa nos passos para uma reunificação com Taiwan, mas as tensões têm-se vindo a agravar. No Congresso do Partido Comunista da China, o líder Xi Jinping afirmou que o objetivo é uma reunificação pacífica ainda que o país não renuncie ao uso da força. Em outubro, o almirante americano Mike Gilday alertou que pode ocorrer uma invasão até 2024. Será (espera-se) mais pressão do que uma certeza.
042 A guerra na Ucrânia vai acabar?
Sem vontade de procurar uma solução diplomática, a guerra só pode terminar no terreno com uma conquista suficientemente esmagadora (ou, no caso da Ucrânia, uma reconquista) que obrigue o outro lado a capitular ou a aceitar negociações de paz. O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, diz que a paz pressupõe que a Rússia entregue a Kiev todos os territórios anexados desde 2014, o que é pouco realista. Do lado russo continuam os ultimatos e ameaças.
O MNE russo, Sergey Lavrov, disse que a Ucrânia tem de completar o processo de “desnazificação e desmilitarização”, ou “o assunto será resolvido pelo exército russo”. O fim da guerra seria uma (muito feliz) surpresa.
043 Isabel dos Santos será detida?
Desde que a investigação do Luanda Leaks começou a ser divulgada, no início de 2020, que o cerco se apertou à filha do antigo Presidente de Angola: autoridades de Portugal e da Holanda arrestaram contas bancárias, imobiliário e participações em empresas e, mais recentemente, o Supremo Tribunal de Angola autorizou o arresto preventivo dos bens da empresária Isabel dos Santos no valor de mil milhões de dólares, a pedido do Ministério Público. As múltiplas camadas usadas nos negócios ainda a protegem, assim como o facto de estar fora de Angola. Porém, o cerco aperta-se.
044 Meloni continua nas graças da UE?
Giorgia Meloni — líder do partido de extrema-direita Irmãos de Itália — foi eleita primeira-ministra de Itália em setembro. A postura de euroceticismo gerou preocupação, porém Meloni tem procurado acalmar a esfera internacional assumindo um discurso mais moderado. Perante o Parlamento repudiou o fascismo e mostrou oposição a “qualquer forma de racismo”; em viagem a Bruxelas afirmou querer uma defesa dos interesses nacionais “dentro da dimensão Europeia”. A reação foi positiva, mas o teste de fogo chegará agora.
TENDÊNCIAS
045 O TikTok vai ser ultrapassado nas redes?
Quem convive com crianças e adolescentes percebe rapidamente que o TikTok é uma máquina aparentemente imparável. Ainda assim, e à velocidade com que tudo pode mudar em termos tecnológicos, a resposta mais segura é algo como: “Será difícil, mas…”
046 As novas ferramentas de IA vão revolucionar a forma como trabalhamos e estudamos?
Porque a resposta é difícil, perguntámos isto mesmo à nova ferramenta de inteligência artificial, que responde ao utilizador através de um chat. Eis o que o ChatGPD nos escreveu: “A inteligência artificial (IA) tem o potencial de mudar a forma como estudamos e trabalhamos, automatizando tarefas específicas, analisando grandes quantidades de dados e auxiliando na tomada de decisão. Também pode levar à criação de novos tipos de empregos que exigem habilidades em IA e aprendizado de máquina. No entanto, é importante considerar as implicações éticas da IA e garantir que o seu desenvolvimento e uso estejam alinhados com os valores sociais.”
047 O teletrabalho vai continuar?
Sim. A ideia do trabalho à distância, vista como uma excentricidade há meia dúzia de anos, veio para ficar com a pandemia e cada vez são mais as empresas a trilharem esse caminho. O prestigiado “Financial Times”, esta semana, escrevia que a tendência em 2023 será a de reservar lugar no escritório quando for trabalhar. Por cá? Talvez não tanto: haverá teletrabalho, talvez mais como resposta à crise, mas mais nuns casos e noutros menos.
048 O 6G vai entrar nas nossas vidas?
Inevitavelmente, mas é provável que ainda demore. As projeções mais realistas apontam 2030 para o ano da mudança, com a tecnologia a chegar às redes comerciais. A transformação será de tal modo que estas linhas não chegam para a descrever. Mas, calma, ainda há tempo.
049 Portugal vai conseguir ter internet com fibra ótica em todo o território?
Em 2023, provavelmente ainda não. Em grande parte dos casos, a instalação de cabos de fibra ótica obedece a uma lógica comercial. Ou seja, existir um número de potenciais clientes numa zona que justifique os custos da instalação. E agora anote: em setembro, a cobertura estava nos 80%…
050 Os jovens vão repovoar as zonas rurais e o interior?
Mais por falta de opção do que por vontade própria, talvez um pouco mais. Com o mercado imobiliário a bater recordes sucessivos, para muitos jovens a solução será descobrir novas vidas longe das cidades. Mas a transição tem sido lenta e os incentivos não são muito palpáveis. Ainda assim, fique atento: há por aí boas oportunidades.
PERGUNTAS PARA 2023
ECONOMIA &FINANÇAS
Antevisão O ano que aí vem vai continuar inevitavelmente marcado pela subida generalizada dos preços e pelo consequente aumento dos juros, mas antecipam-se também privatizações na TAP e na Efacec, consolidação na banca e turbulência no mundo das criptomoedas
001 A inflação vai baixar?
Todas as projeções indicam que sim. Depois de ter ultrapassado os 10% em outubro, em termos homólogos, a inflação em Portugal recuou ligeiramente em novembro e os economistas antecipam que essa tendência se acentue nos próximos meses. Contudo, a maioria das previsões indica que, apesar de baixar face a 2022, vai ainda permanecer elevada. O Banco de Portugal aponta para uma inflação média anual de 8,1% este ano e de 5,8% em 2023. Quanto à zona euro, o Banco Central Europeu estima que no próximo ano ainda se situará acima de 6%. Ou seja, muito acima dos 2% que são a referência para Frankfurt e que tem a estabilidade de preços inscrita no seu mandato. Isto significa que o BCE continua pressionado para subir os juros.
002 Os carros elétricos vão ficar mais baratos?
À medida que a tendência se for massificando, é natural que os preços comecem a baixar. Mas isso ainda vai demorar e não irão cair já em 2023. Desde logo, porque continua a haver falhas nas cadeias de abastecimento e também porque há mais procura do que oferta de lítio, com o qual se fazem as baterias — e cujo preço disparou mais de 120% em 2022. No entanto, nos segmentos mais altos e de luxo já começa a haver alguma paridade de preços.
003 As rendas de casa vão aumentar?
Sim. As rendas vão aumentar no próximo ano 2%. Este foi o travão imposto pelo Governo para contrariar os efeitos da inflação e que serve para calcular a atualização anual das rendas. Sem a aplicação do travão subiriam 5,43% em 2023.
004 Os vistos gold vão acabar?
Não, irão continuar a existir, mas com as limitações já existentes de investimento em imobiliário residencial em Lisboa, Porto e certas zonas do Algarve. O Governo chegou a admitir a possibilidade de acabar com este mecanismo de captação de investimento estrangeiro, mas o próprio PS votou contra a proposta apresentada pela oposição de esquerda.
005 Portugal vai ter cereais suficientes?
Vai, mas provavelmente terá de pagar mais. A crise no abastecimento de cereais, originada pela guerra na Ucrânia — um dos grandes celeiros mundiais —, irá prolongar-se durante todo o ano, mesmo que o conflito termine. Isto significa que Portugal, que importa cerca de 95% dos cereais que consome, vai continuar a ‘navegar à vista’ sempre em busca de alternativas à Ucrânia. Por outro lado, os produtores nacionais tenderão cada vez mais para o abandono, dado os elevados custos de produção.
006 O Governo vai continuar a dar cheques de compensação às famílias?
É provável, embora os economistas sinalizem que medidas pontuais para resolver problemas estruturais não são uma boa solução. O discurso do Executivo tem sido de abertura para ajustar os apoios às famílias, sobretudo as mais vulneráveis, sempre que a situação económica o justifique. O último apoio concedido (240) deixou de fora a classe média, mas o Governo deixou em aberto a hipótese de outros apoios.
007 O PRR vai ser executado como previsto?
Não. O Governo já anunciou que irá renegociar o PRR com a Comissão Europeia a partir de janeiro. Por um lado, o envelope de subvenções aumentou 17%, para 16,2 mil milhões, dos quais 700 milhões para novas medidas que emancipem a Europa da energia russa. Neste contexto de guerra e inflação, Bruxelas também deixa resvalar as obras mais pressionadas pelos custos e falta de materiais.
008 Os preços das casas vão baixar?
Não. Alguns analistas admitem que possa existir um ligeiro ajustamento dos preços de venda devido à incerteza, mas a grande falta de oferta de habitação, sobretudo para a classe média, não permite vislumbrar descidas significativas. Isto apesar do aumento das taxas de juro, da diminuição das maturidades dos créditos à habitação e da exigência de entradas mais altas.
009 As taxas de juro vão continuar a subir?
Sim. Segundo as projeções do portal financeiro World Government Bonds, os juros das obrigações do Tesouro a 10 anos ultrapassarão os 4% no verão e estarão perto de 6% em dezembro. A subida dos juros será de mais de 2,5 pontos percentuais face à taxa atual, que está em 3,3%. Mesmo assim será inferior ao disparo registado em 2022, com os juros a subirem quase 3 pontos percentuais.
010 O turismo vai continuar a puxar pela economia?
Tudo indica que sim. O Banco de Portugal espera que a economia portuguesa cresça 6,8% e as exportações do turismo devem crescer quase 80%, aproximando-se dos valores pré-pandemia. Para 2023, aponta para um forte abrandamento da economia, esperando que avance apenas 1,5%. O turismo voltará a ajudar, apesar de já não contar com o forte efeito de base sentido este ano. As exportações de turismo deverão crescer 8,6% em 2023, beneficiando da realização da Jornada Mundial da Juventude em Portugal.
011 Vamos ter hidrogénio verde?
Já existe um projeto de demonstração da Floene com produção de hidrogénio verde no Seixal e um outro da Fusion Fuel em Évora e os projetos apoiados pelo POSEUR e pelo PRR têm previsão de entrada em operação em 2023. Mas há outras iniciativas de maior escala que ainda não estarão operacionais no próximo ano.
012 Vai haver decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa?
A intenção do Governo era que houvesse uma “decisão definitiva” no final de 2023, depois de ter sido definida com o PSD a metodologia a seguir para a localização do novo aeroporto. Mas dificilmente haverá uma “decisão definitiva” antes do segundo semestre de 2024, já que após ser feita a Avaliação Ambiental Estratégica — onde serão comparadas localizações e que se espera esteja concluída no final de 2023 — ainda haverá um debate político e público e só depois será tomada uma decisão em Conselho de Ministros.
013 A TAP vai ser vendida?
Sim. Há duas semanas o ministro das Infraestruturas deixou claro que a intenção do Governo de privatizar a TAP já foi sinalizada ao mercado. Pedro Nuno Santos disse também que a empresa está a recuperar mais depressa do que grande parte das congéneres europeias, antevendo que irá ter lucros ainda antes de 2025. Lufthansa e Air France/KLM são candidatas a comprá-la.
014 A crise das criptomoedas vai continuar?
O ‘inverno cripto’ parece estar para durar. Depois do colapso de vários projetos em 2022, as empresas do sector preparam-se para um novo ano difícil. A liquidez será escassa, com os bancos centrais a apertarem ainda mais a política monetária; os reguladores e a justiça irão reforçar o escrutínio das empresas que restaram (com a qualidade das reservas financeiras a serem um tema quente), e a confiança dos investidores está gravemente ferida após perdas de milhões no retalho em todo o mundo.015 A TAP vai dar lucro?
2022 ainda será de prejuízo para a TAP, apesar de as contas terem melhorado substancialmente, mas quer o Governo quer a presidente da empresa, Christine Ourmières-Widener, acreditam que em 2023, finalmente, a TAP irá entrar em terreno positivo. Há muita incerteza por causa do impacto da inflação nos rendimentos dos passageiros e do elevado preço do jet fuel e há risco de greves. Além disso, as contas têm estado a beneficiar dos cortes nos salários dos trabalhadores e dos preços elevados dos bilhetes, o que não irá durar para sempre. Há outros desafios: a partir de 2023 a TAP deixa de poder receber ajudas do Estado e há emissões obrigacionistas a vencer.
016 A carga fiscal vai baixar?
2022 é o ano de todos os recordes fiscais. De janeiro a outubro os cofres do Estado arrecadaram mais 6859 milhões do que em igual período de 2021, o que corresponde a uma taxa de crescimento na ordem dos 19%. O ‘excesso’ de impostos arrecadados, muito por conta da inflação, está, porém, a ser ‘devolvido’ pelo Governo em medidas para mitigar a subida do custo de vida. Mesmo com este desempenho, no Orçamento do Estado para 2023 não existe uma redução transversal da carga fiscal nem para famílias nem para empresas.
017 Portugal vai ter uma dívida pública em percentagem do PIB inferior a França?
Sim. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que em 2023 o nível de endividamento português em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) desça para 111,2%, enquanto o francês subirá para 112,5%. A diferença será ainda mais gritante em 2027, segundo as previsões do FMI: o endividamento português terá descido para 97%, enquanto o francês terá subido para 118,5%. No próximo ano, o nível de endividamento português já será também mais baixo do que o espanhol (112,1%).
018 O desemprego vai continuar baixo?
É nesse sentido que apontam as projeções dos economistas. O mercado de trabalho tem resistido ao impacto da guerra, da escalada dos preços e da subida dos juros. A taxa de desemprego em Portugal deve descer de 6,6% em 2021 para 5,9% em 2022, antecipam o Banco de Portugal e a Comissão Europeia. Para 2023, apesar do esperado abrandamento da economia portuguesa, ambas as instituições esperam que a taxa de desemprego se mantenha inalterada, nos 5,9%. Até porque vários sectores, como o turismo, continuam a manifestar dificuldades de contratação.
019 O 5G vai ser uma realidade em todo o país?
Segundo a Anacom, a quinta geração de redes móveis (5G) já está presente em 88% dos municípios, mas apenas 39% das freguesias têm adequada cobertura. O que confirma que a internet acima dos 100 megabits por segundo e latências inferiores a 1 milissegundo ainda não se expandiu para lá dos maiores centros populacionais.
020 A Fosun vai vender ativos em Portugal?
Está obrigada a desfazer-se de património para obter liquidez e reduzir o endividamento, mas o grupo chinês tem referido que os ativos em Portugal são estratégicos. A Fidelidade é para manter e no BCP, do qual a Fosun tem 29,95%, a indicação vai no mesmo sentido, mas o banco é apontado como potencial alvo de fusões e aquisições, e a segunda maior acionista, a Sonangol, já se mostrou disponível para reduzir a sua posição.
021 Vamos ter novas linhas de comboio operacionais em 2023?
Não, o único novo troço que está em construção, entre Évora e Elvas, integrado no corredor internacional Sul, tinha conclusão prevista para o final de 2023 mas já há indicações, dadas pela Infraestruturas de Portugal, de que o prazo resvalou para 2024. De resto, há muitos projetos para novas linhas que só verão a luz do dia daqui a alguns anos.
022 Os despedimentos vão manter-se nas grandes empresas de tecnologias?
As perdas de três biliões de dólares em capitalização bolsista das grandes marcas de tecnologias levam a crer que a vaga de despedimentos não terminou. Amazon (10 mil despedimentos), Meta (11 mil), Microsoft (mil) e Twitter (3700) figuram na lista das marcas que já despediram. Mas Google e Tesla podem ser as próximas. Resta saber se a Apple resiste à ‘correção’ do mercado face à inflação.
023 2023 vai ser um ano de greves e agitação social?
Tudo indica que sim. A agitação social intensificou-se nos últimos meses, atingindo até os sectores menos prováveis, como os serviços de consultoria. A incerteza que domina a economia, associada ao conflito militar na Ucrânia, à crise energética e à escalada de preços, pesa cada vez mais nos bolsos dos trabalhadores e não se antecipa que os empregadores atualizem os salários em linha com a inflação no próximo ano.
024 A idade de reforma vai continuar a cair?
Depois de vários anos a subir, a idade legal de reforma vai dar um pequeno tombo. Tanto em 2023 como em 2024 os portugueses poderão reformar-se com 66 anos e quatro meses de idade (três meses mais cedo do que este ano) sem penalizações por antecipação. Este recuo deverá, contudo, ser sol de pouca dura. A idade de reforma anda de braço dado com a esperança média de vida e, não havendo sobressaltos, como uma catástrofe ou outra pandemia, a expectativa é de que volte a subir de 2025 em diante.
025 As compras online vão continuar a crescer?
No retalho alimentar, o aumento das vendas
online abrandou e ficou abaixo dos 3% este ano, sendo previsível que continue a travar, uma vez que as pessoas estão a ir mais vezes às compras e a gastar menos nos momentos de consumo. Já em sectores como a moda, o turismo ou a eletrónica a expectativa é de crescimento.
026 O teletrabalho vai manter-se?
Sim, o teletrabalho — na sua versão híbrida ou totalmente remota — veio para ficar, nas profissões em que é possível. A flexibilidade para conciliar carreira e família é cada vez mais uma exigência dos profissionais. E sobretudo em áreas onde é mais difícil recrutar as empresas já perceberam que este é um fator decisivo para atrair e reter trabalhadores e, como tal, tem de ser tratado como parte integrante do pacote salarial.
027 Vamos trabalhar quatro dias por semana?
De forma generalizada, não, pelo menos em 2023. Mas todas as tendências apontam para uma redução do tempo de trabalho. A maior ou menor adesão que a semana de quatro dias terá em Portugal irá depender do impacto e dos resultados da experiência-piloto que o Governo irá conduzir. Resultados positivos poderão inspirar mais empresas a testar o modelo, sendo certo que este regime de trabalho dificilmente se aplicará de forma generalizada a todos os sectores de atividade.
028 Portugal vai continuar a ser um paraíso para os nómadas digitais?
Portugal tem sido sucessivamente apontado como um dos melhores destinos do mundo para nómadas digitais nas listas da plataforma InstantOffices e nas votações da comunidade NomadList. Os dados da InvestPorto, a plataforma de investimento da Câmara Municipal do Porto, dão conta de que em 2022 terão chegado a Lisboa cerca de 145 mil nómadas digitais e ao Porto perto de 40 mil, um crescimento de 95% e 129%, respetivamente, face a 2021. A entrada em vigor, no final de outubro, de um visto específico para estes profissionais deverá ampliar em muito estes números, com o país a tornar-se ainda mais atraente — e não só as grandes cidades, mas também as regiões do interior.
029 Os salários vão subir?
Sim. O salário mínimo nacional aumenta de 705 para 760, mas, embora este seja o maior aumento nominal de sempre, em termos reais haverá, pela primeira vez em 10 anos, perda de poder de compra para os trabalhadores. Nos salários médios, o acordo de rendimentos que o Governo conseguiu fechar com os patrões e a UGT não se traduzirá na ambicionada valorização. O “Guia Salarial” da Hays para 2023 dá conta de que 61% dos empregadores nacionais não irão além de 4,9% nas atualizações salariais, abaixo dos 5,1% fixados no acordo de rendimentos e também da estimativa de inflação do Banco de Portugal para este ano, 8,1%.
030 A Efacec vai ser privatizada?
O Estado e os credores acreditam que sim, até porque outro cenário seria pior para a Efacec. Há um conjunto de interessados, mas os problemas financeiros e de capital e a situação vulnerável obrigam a que os credores façam um corte na dívida. Os 71,73% de Isabel dos Santos foram nacionalizados em junho de 2020 e têm permanecido nas mãos do Estado após uma venda falhada.
031 A Autoeuropa vai produzir um novo modelo de carro?
Não está previsto, pelo menos no curto prazo. O que está estipulado é o reforço da produção do atual modelo T-Roc, que está a ser um sucesso comercial no segmento dos pequenos SUV. E não será tão cedo que este modelo irá conhecer versões eletrificadas, pois o mercado, neste segmento, ainda pede muitos carros com motor a diesel e sobretudo a gasolina.
032 O Novo Banco vai mudar de mãos?
Desde o seu nascimento que a venda é a principal hipótese em cima da mesa, mas o Novo Banco tem-se preparado para outros cenários, como a dispersão de capital em bolsa. Com lucros, mas com litígios de mais de 400 milhões com o Fundo de Resolução (FdR) por resolver, o acionista americano, a Lone Star, que mantém 75% do capital, quer ter várias opções disponíveis. O Estado português tem ganho peso acionista, pois já tem diretamente quase 6%, ‘roubando’ ao FdR , hoje com 19%.
033 O crédito malparado vai disparar?
Provavelmente haverá alguma subida de malparado, mas os bancos não esperam que o incumprimento suba significativamente em 2023. Há vários fatores que podem desencadear a dimensão do crédito malparado, como a manutenção da subida das taxas de juro, o aumento do desemprego e a persistência da inflação, com consequente redução de rendimento das famílias, por um lado, e das empresas, por outro, no que diz respeito à situação económica na Europa.
034 Vai haver fusões na banca?
“Inevitável” — a palavra é do governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, para considerar que terá de haver consolidação na banca nacional. O Novo Banco está a preparar-se para movimentações acionistas e o BCP tem acionistas com a sua própria casa por organizar. A CGD já disse que não tem vontade de fusões, mas que não ficará sozinha a ver a perda de liderança.
035 Vamos ter novos comboios?
Só a partir de 2025/2026, que é quando se prevê que cheguem os 22 comboios regionais encomendados pela CP em outubro de 2020. Em fevereiro a empresa deverá adjudicar a compra de mais 117 — 62 para os serviços suburbanos de Lisboa e do Porto e 55 para o serviço regional — e as primeiras unidades deste segundo concurso, se tudo correr sem impugnações, poderão chegar no fim de 2026, mas a totalidade das 117 unidades encomendadas só deverá rolar nos carris portugueses em 2029.
036 Vão faltar produtos nos supermercados?
No essencial, o abastecimento está garantido, mas entre atrasos logísticos, colheitas curtas, como no azeite, ou falta de embalagens, pode haver falhas pontuais no abastecimento e teremos menos escolha, das rações animais aos produtos lácteos, cereais ou ovos.
037 Vamos ter mais unicórnios portugueses?
É possível, mas qualquer empresa que queira ir ao mercado angariar dinheiro irá deparar-se com condições de financiamento e avaliações muito mais conservadoras face às dos anos anteriores, apesar de os fundos de capital de risco ainda terem muito capital para investir.
038 A contribuição sobre lucros extraordinários vai ser aplicada?
Sim. A proposta de imposto sobre os chamados lucros ‘inesperados’ teve luz verde do Governo na semana passada, prevê uma taxa 33% em sede de IRC e irá incidir sobre os resultados ‘excecionais’ obtidos em 2022 e 2023 pelos negócios do gás, do petróleo e da distribuição alimentar.
039 Os atrasos nas entregas de carros vão acabar?
Não, pois as quebras na logística de abastecimento de peças, componentes em geral e, sobretudo, baterias (para os carros elétricos) estão para durar. Mesmo que agora acabasse a guerra na Ucrânia, iria levar muitos meses até que a normalidade chegasse às fábricas e, destas, até aos locais de venda de veículos. Em alguns modelos o tempo de espera é superior a um ano.
040 António Horta Osório vai liderar um banco em Portugal?
Horta Osório não tem neste momento funções em nenhum banco nacional ou internacional, mas têm surgido notícias que dão conta de que está envolvido na venda do Novo Banco a investidores internacionais e na subsequente fusão
041 O Twitter vai acabar?
com o BCP. Só o futuro dirá se isso lhe trará um lugar na administração da nova entidade que resultar dessa hipotética fusão.
042 Vamos ter novos escândalos financeiros?
No mundo “cripto”, até aqui muito pouco supervisionado, o grande temor é que se repita um colapso semelhante à FTX em alguns projetos-chave do ecossistema mundial. A solvência é a grande preocupação e haverá mais pressão para auditorias mais finas em relação às reservas e aos mecanismos de compliance destas empresas. Em suma, talvez.
043 As criptomoedas vão ser reguladas?
Já antes do colapso da FTX várias jurisdições tinham consciência da necessidade de regular o sector e estão em diferentes estádios de desenvolvimento de legislação. A União Europeia é a região mais avançada: o Regulamento de Mercados de Criptoativos europeu (MiCA), que deverá
O Twitter nunca conseguiu concorrer com o Facebook ou o TikTok, mas conta com 16 anos de resiliência face a resultados financeiros problemáticos e confirma que tem uma “voz” única no debate político mundial e na troca de ideias e tendências. E continuaria assim se Elon Musk, o homem mais rico do mundo e que lidera também a SpaceX e a Tesla, se tivesse conformado com o facto de o Twitter não ser uma “máquina de dinheiro”. Após decapitar a cúpula e despedir 3700 pessoas, o empresário avançou com medidas que depressa geraram confusão ou foram revertidas e sujeitou-se a uma sondagem dos utilizadores que votaram a favor do seu abandono da gestão. Para mudar de identidade, o Twitter possivelmente terá de se tornar na rede social mais forte do mundo; mas, se tiver mudado de identidade sem o conseguir, Musk arrisca a descaracterização ou mesmo o fim do Twitter. O que reacende a questão: como é que vai recuperar os 44 mil milhões de dólares que a rede social custou?
estar em vigor a partir de 2024, irá obrigar a um conjunto de regras os fornecedores de serviços em “cripto” e definir mecanismos de proteção de investidores neste tipo de ativos. Nos EUA, bastante mais atrasados, há várias propostas dos democratas e dos republicanos em cima da mesa, mas nenhuma com a abrangência europeia.
044 O preço dos combustíveis vai baixar?
É improvável que os preços baixem do nível atual. O banco Citi projeta um preço do
brent de 80 dólares por barril para 2023, o JP Morgan aponta para 90 dólares e o Goldman Sachs para 98 dólares. Atualmente, o crude é transacionado a cerca de 85 dólares. E o embargo europeu aos refinados russos a partir de fevereiro poderá acentuar a pressão sobre a oferta, fazendo subir os preços.
045 Os pacotes de telecomunicações vão ficar mais caros?
Quase todos os anos os tarifários aumentam. A decisão começou por ser agendada para fevereiro pela Altice, com atualizações mínimas de 0,50. Tendo em conta a alteração de contratos (promovida pela Anacom) e a marcação cerrada que domina os tarifários, tudo leva a crer que a NOS e a Vodafone seguirão o exemplo.
046 O valor das pensões vai baixar em 2023?
Em janeiro, a esmagadora maioria dos reformados da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações verá a sua pensão aumentar. Quem tem pensões até 960,60 brutos terá uma atualização de 4,83%. No outro extremo, quem ganhar para lá de 12 Indexantes dos Apoios Sociais (IAS) não terá atualizações. Fica como está. Na prática, isto significa, por exemplo, que uma pensão de 500 receberá mais 24 em 2023 e uma pensão de 3000 receberá quase mais 117 por mês. Estes valores juntam-se ao suplemento extraordinário que ocorreu em outubro. Em suma, estas pensões não baixam, sobem.
047 Haverá mais marcas portuguesas no metaverso?
BPI, EDP, Exclusible, Fly London, MEO e FC Porto figuram entre os pioneiros nacionais do metaverso. Hoje, a corrida aos mundos virtuais está menos intensa, mas é expectável que mais marcas nacionais invistam neles, embora as iniciativas devam ser determinadas por modelos de negócio, e não pela moda.
048 Os juros dos depósitos bancários vão subir?
É certo que os juros dos depósitos vão subir, mas o ritmo de aumento da remuneração deverá continuar a ser inferior ao dos juros nos créditos. Enquanto nos créditos há indexação à Euribor, nos depósitos é a concorrência e a necessidade de captar recursos que dita a evolução.
049 A corrida aos certificados de aforro vai continuar?
É provável. Este ano ficou marcado pela ‘redescoberta’ dos certificados de aforro pelos investidores, com as subscrições a atingirem, em termos líquidos (deduzidas dos resgates), os 5,24 mil milhões entre janeiro e novembro. A explicação está na forte subida das taxas Euribor, já que os juros deste produto de poupança correspondem à Euribor a três meses mais 1%, a que acrescem prémios de permanência, e esta taxa irá continuar a subir.
050 Vai haver mais famílias a trocar a cidade pelo campo?
Cada vez que a vida na cidade se tornar mais insustentável, fatores dissuasores como foi a pandemia e, mais recentemente, os episódios de cheias em algumas zonas suburbanas tenderão a empurrar algumas pessoas para uma mudança radical de vida, rumo à tranquilidade do campo, atendendo também a que o custo de vida é bastante mais comportável nas zonas do interior do país. A limitação é a falta de emprego nessas regiões.
Textos Anabela Campos, Ana Sofia Santos, Cátia Mateus, Diogo Cavaleiro, Elisabete Miranda, Helder C. Martins, Hugo Séneca, Isabel Vicente, Joana Nunes Mateus, Jorge Nascimento Rodrigues, Margarida Cardoso, Miguel Prado, Pedro Carreira Garcia, Pedro Lima, Sónia M. Lourenço e Vítor Andrade Ilustrações Helder Oliveira